Milei deve manter relação com o Brasil, afirmam representantes de setores ligados à exportação

Assim como no restante do país, o Pará mais exporta do que importa para a Argentina. Entre janeiro e outubro, o Pará exportou US$ 34,7 milhões, quase 200% a mais do que exportou no mesmo período em 2022

Amanda Engelke / Especial para O Liberal
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A vitória de Javier Milei, representante da ultradireita que passará a governar a Argentina a partir do próximo mês, tem gerado diversas especulações sobre como se dará, a partir de então, a relação econômica entre o Brasil e o seu vizinho sul-americano. Após declarações de Milei que insinuavam o rompimento das relações com o Brasil ainda no primeiro turno, muitas conjecturas começaram a surgir. Atualmente, a Argentina é o terceiro maior destino das exportações brasileiras. Por outro lado, a Argentina é um dos principais fornecedores de trigo para o Brasil.

O cenário reflete um conflito ideológico entre esquerda e direita próximo ao vivenciado no Brasil. E claro, divide opiniões, ainda que o candidato governista Sérgio Massa, que obteve 44,3% dos votos, se posicionasse muito mais como centro-esquerda. Milei, antes mesmo do último domingo (quando obteve 55,7% dos votos dos argentinos no segundo turno das eleições), também deu indícios de uma mudança de tom, adotando um discurso um pouco mais ao centro do espectro político e amenizando suas próprias falas sobre os rumos da relação do país com o Brasil.

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Apesar dos pesares, representantes de setores ligados à exportação apostam em relação inalterada, uma vez que a Argentina dependeria muito mais do Brasil do que o contrário. Um reflexo disso é que, em meio ao desequilíbrio na economia argentina, a soja passou a ser o produto brasileiro mais exportado para o país. De janeiro a outubro, o Brasil exportou US$ 1,98 bilhão em soja, ante os US$ 181 milhões no mesmo período de 2022, de acordo com dados do sistema do Comércio Exterior (Comex), disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Industria, Comércio e Serviços (Mdic).

Pará arrecadou 200% com exportações para Argentina em 2023

Assim como no restante do país, o Pará mais exporta do que importa para a Argentina. Entre janeiro e outubro, o Pará exportou US$ 34,7 milhões, quase 200% a mais do que exportou no mesmo período em 2022. Em valores nominais, foram US$ 22,8 milhões a mais arrecadados pelo Pará com exportações para o mercado argentino. Em contrapartida, as importações tiveram queda de 30,9%. Foram importados, de janeiro a outubro, US$ 37,5 milhões em produtos da Argentina para o Pará, US$ 17 milhões a menos se comparado com o mesmo período em 2022.

José Maria Mendonça, presidente do Centro de Indústrias do Pará (CIP), detalha que os produtos que o Pará mais exporta são soja triturada e pimenta natural (não triturada, nem em pó). Quanto aos produtos importados, o único destaque é o trigo. “A gente espera que essa relação permaneça inalterada, tanto em relação ao Brasil quanto ao Pará. A alternância de poder é sempre boa. Não esperamos nada de ruim, talvez até uma pequena melhora. Contudo, a logística de mandar ou receber algo da Argentina, quando falamos em termos de Pará, é muito ruim”, avalia.

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Abertura de mercado agrada agronegócio

Guilherme Minssen, da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), aposta em cenário positivo para o agronegócio. “Ele (Milei) foi apoiado por todo o agronegócio argentino porque ele respeita as leis de mercado com que o agronegócio nacional trabalha. O Brasil depende bastante ainda do trigo argentino e, com certeza, vamos ser mais competitivos se ele abrir o mercado como propõe. Menos Estado representa menos leis. Desta forma, avalio que o Milei é uma boa notícia pro Brasil e para o Pará, porque hoje mais exportamos do que importamos”, opina.

Para Minssen, porém, as mudanças positivas não devem ser imediatas. “A Argentina vem de uma crise, de uma catástrofe econômica, e vai precisar ser reconstruída. Para isso, ela vai ter que trabalhar junto com o Brasil. A tríade Brasil, China e Argentina é o que vai proporcionar mudanças positivas. A Argentina precisa disto para se recuperar. O que o Milei representa é liberdade, abertura de mercado para agronegócio argentino, que é igual ao agronegócio do pampa (Brasil) e do Uruguai, que se complementam”, avalia.

Nélio Bordalo, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (Corecon PA/AP) vê o cenário com cautela. “Até então, é tudo mera especulação em cima de falas durante uma campanha política acirrada e polarizada ideologicamente. O próprio Milei já mudou um pouco o discurso de antes, sobre cortar relações. Ele está mais moderado. Só vamos saber, de fato, quando ele fizer os primeiros pronunciamentos quanto à política internacional, para aí, sim, mensurarmos os impactos. O laço entre Brasil e Argentina é importante para ambos os lados”, observa.

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