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Novos negócios: mercado da carne vermelha avança em Belém

Quilo de diferentes cortes de carne vai de R$14 a R$200 na capital paraense

Eduardo Laviano
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Com produção de 900 mil toneladas de carne por ano e detentor do quinto maior rebanho do País, o Pará tem um mercado atrativo para empreendedores que buscam investir na verticalização da proteína bovina.

Até 2020, a produção bateu a casa de 20 milhões de cabeças de gado produzidas em território estadual, com exportação de 8% da produção, o que corresponde a 70 mil toneladas, de acordo com os dados do Sindicato da Indústria da Carne (Sindicarne).

Esta pujança do setor e a demanda pelo consumo tem gerado interesse em novos negócios, que vem ganhando espaço sobretudo na capital paraense: as boutiques de carne. Nestes estabelecimentos é possível escolher cortes nobres dos mais variados pesos e até consumir no próprio local, onde é servido com acompanhamentos.  

O empresário Eric Queiroz trabalhou por muito tempo na indústria frigorífica até perceber que existia uma demanda para carnes mais "selecionadas", como ele as descreve. Queiroz conta que a "prata da casa" é o gado Aberdeen, proveniente da Europa, que é o resultado do cruzamento entre os gados Nelore e Angus e que, na loja de carnes dele, os bois mais jovens são priorizados, pela maciez e sabor do produto.

"É um gado com um custo maior, mas muito mais macio. Trago muitos cortes de fora também, mas boa parte da nossa oferta aqui vem de Castanhal, de uma fazenda com a qual eu tenho uma parceria excelente e nos oferece carnes de altíssima qualidade", conta o empresário.

Para ele, a satisfação maior é a apresentar novas carnes e novos cortes para os clientes. Ele acredita que o empreendimento acaba também servindo como uma escola onde as pessoas podem fugir de cortes tradicionais como a picanha e alcatra, degustando novos sabores, como o ancho e o prime ribs, os favoritos dele.

"Sinceramente, não como muito picanha. É macia, mas não gosto do sabor. Atualmente, você compra coisa muito mais gostosa aqui por R$ 40 reais, por exemplo", aconselha.

image Eric conta que clientes buscam aprender mais sobre os cortes, para explorar novas opções de compra (Sidney Oliveira/O Liberal)

Cada cliente que passa pela loja de Eric gasta entre R$ 90 e R$ 100, sendo que há a possibilidade de comer a carne por lá mesmo, assada no local. Se por um lado as carnes mais baratas são vendidas em pacotes que custam R$ 40, há também carnes de luxo, como o Wagyu, carne japonesa que varia entre R$ 180 e R$ 1.000 por quilo, dependendo do marmoreio, corte e do fornecedor. 

No Brasil todo, o rebanho deste tipo de boi é de apenas 6.873 mil cabeças, com somente 47 criadores no País. Com a demanda interna em alta, apesar da crise, o jeito tem sido recorrer a importações do Uruguai e do Japão.

"Mas não é uma carne que compramos em quantidade abundante aqui. Tem procura, mas não é o principal motivo pelo qual as pessoas vêm para a loja. Hoje, nosso cliente é de classe B e A. Apesar do momento difícil no setor aqui, não tivemos reajustes bruscos, pois a nossa prioridade é chegar com um preço justo, para que o cliente que busca algo a mais do que tem no açougue ou no supermercado se sinta bem-vindo, disposto a comprar sempre", afirma. 

Protagonista da inflação na cesta básica do brasileiro em 2021, a carne vermelha acumula alta de 30,7% em 12 meses, segundo os dados mais recentes Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

No Pará, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o aumento já excede os 20%. Com a disparada dos preços que atinge outros produtos e mais de 14 milhões de desempregados, fica fácil de entender a diminuição no consumo do alimento em território nacional, que bateu os 14% na comparação com 2019, último ano antes da pandemia de covid-19. 

Trata-se do menor nível registrado para consumo de carne bovina no Brasil em 26 anos, segundo a série história da Companhia Nacional de Abastecimento, com início em 1996.

image Açougue na Pedreira conquista clientes com preços mais baratos em tempos de crise (Sidney Oliveira/O Liberal)

O consumo de carne no Pará, porém, também é um hábito nos lares de menor faixa de renda, o que obriga os empreendedores a trabalharem para estes públicos de forma criativa.

Nestes casos, as "liquidações" e a divulgação bem-humorada fazem a diferença. No coração da Pedreira, os açougues da travessa Mauriti compartilham promoções de costela, agulha, chã, pá e carne moída.

Lá, Gerson Pinto, o gerente, conta que o movimento não parou e que as pessoas buscam sempre carnes mais baratas, que costumam variar entre R$14 e R$29 o quilo.

"O pessoal faz questão de comer carne, porque é a proteína mais sólida, mais nutritiva. Faz parte do dia a dia do brasileiro. Mas vejo também que diminuíram nas quantidades, para não deixar de comer. Mas graças a Deus sempre temos procura aqui, até porque em dezembro muita gente viaja e compras as carnes antes de ir pra Salinas, por exemplo. A inflação impactou muito aqui mas dentro do possível a gente tenta não repassar para os clientes", afirma.

Paula Santos é vendedora em uma loja de descartáveis e conta que a carne já não era ingrediente diário do prato dela e dos filhos, mas apareciam pelo menos três vezes na semana na mesa. Hoje, ela conta que virou um luxo de final de semana. 

"Adoro carne mas lá naquele começo da pandemia que fiquei sem trabalhar acho que passei uns seis meses sem comer. Comi quando fui num aniversário da minha irmã. Hoje em dia você até consegue comer no domingo mas nem é sempre também. Porque se você come carne sempre falta dinheiro pras outras coisas. Não dá mesmo", afirma.

image Leonardo e a mãe Angélica afiaram a criatividade para economizar sem deixar de consumir carne vermelha (Sidney Oliveira/O Liberal)

Leonardo Castro é estudante e estava preparando uma festa para os 22 anos recém-completados. Ele e a mãe, Angélica, planejaram uma recepção para 10 pessoas e passeavam pela loja de Eric, no bairro do Marco, em busca da carne perfeita para a ocasião.

"A gente deu uma reduzida no consumo, mas entre carne vermelha e frango, prefiro carne. Eu tenho comprado, mas não as carnes mais nobres. Acaba obrigando a gente a inovar nas receitas, sair do tradicional. Realmente, aumentou o preço, mas não deixamos de comprar. Em geral, tudo aumentou. Hoje, a minha preferência é o ossobuco, que uso no cozidão", conta ela.

Já o filho segue mantendo o filé na alimentação, mas intensificou o ato de pesquisar antes de abrir a carteira, especialmente em açougues menores, com o objetivo de economizar.

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