Mais da metade dos trabalhadores negros no Pará atua sem carteira assinada, diz Dieese

A pesquisa tomou como referência o 2º trimestre deste

Sérgio Chêne
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No Pará, de toda a população ativa no mercado de trabalho, 62% são mulheres negras e 65% são homens negros que não contam com a carteira de trabalho, autônomos que não contribuem com a Previdência Privada e trabalhadores que apoiam negócios familiares.

Esse é uma das realidades apontadas nos números da pesquisa divulgada ontem, 19, pelo pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). O estudo intitulado ‘A inserção da população negra e o mercado de trabalho’ mostra que oito em cada dez paraenses se declararam negros (pretos e pardos). A pesquisa tomou como referência o 2º trimestre deste e é elaborada juntamente com o Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita pelo IBGE.

Dos cerca de 8 milhões de paraenses, 3,3 milhões estão em atividade, segundo o Dieese. O estudo considerou dados sobre a população negra, ocupação em cargos de direção, subutilização da força de trabalho, rendimento médio e o trabalho desprotegido, que é a realidade dos trabalhadores sem a garantia dos direitos trabalhistas e de assistência privada.

Se no Brasil 55% da população se declarou preta ou parda, no Pará esse índice sobe para 81%. Amazonas e Tocantins surgem com 82% e 79%, respectivamente. No Norte, as mulheres negras ocupam 2.1% dos cargos de direção, enquanto que as não-negras, 3.5%; os homens negros 1,7%, atrás dos não-negros com 3,4%.

Na variável relacionada à rendimento salarial, as mulheres negras nortistas ganham, em média, R$ 1.580, diferente das não negras, que recebem R$ 2.438. A mesma realidade de desigualdade, no item pesquisa, vivem os homens negros: ganham R$ 1.733 contra R$ 2.638 dos não negros.

A considerar a subutilização da força de trabalho, ainda com relação aos sete estados da região Norte, também apresenta números desiguais. Enquanto 35,3% das mulheres não negras estão desocupadas, 42,2% estão na mesma condição. Já no universo masculino, 23,7% não negros estão desocupados, em contrapartida, 26,3% vivem a mesma realidade.

Para o técnico do Dieese, Everson Costa, a pesquisa traz “constatações importantes”, dentre elas relacionados à raça. “Os dados de autodeclarados negros no país são importantes para a formulação de novas políticas públicas. Além disso, estamos vendo a necessidade da continuidade das ações dos movimentos sociais, pois ainda assistimos a dificuldade do acesso aos benefícios oferecidos pelo governo”, declarou o técnico. Costa ressalta que os números apresentados pelo estudo do Dieese, demonstram também as reais condições da população e do trabalhador preto no Brasil.

Fátima Silva, 61, é negra e deixou Marabá há décadas, e hoje vive em Belém. Até hoje e sem carteira assinada, ganha a vida como diarista na capital e vez por outra na cidade de Salinas. “Eu vivo como posso, poderia estar sem trabalho, mas é com ele que mantenho. Não posso de deixar trabalhar, não tenho quem me dê o sustento”, disse.

O exemplo de Fátima é avaliado pela professora universitária e ativista das causas negras, Zélia Amadora. Ela avalia a realidade de desigualdade e do racismo vivido pelos negros do Pará e do País como um todo. “O racismo é uma regra no Brasil. Esse estudo mostra uma realidade apenas, a do emprego, mas se olhar outras áreas o racismo atinge de forma sistêmica a educação, a renda e outras áreas. As pessoas negras morrem mais cedo”, analisa.

Cumprindo atividade no Centro de Estudo e Defesa do Negro (Cedenpa), a jovem ativista Angélica Albuquerque apresenta um caminho. “Quem sustenta a economia desse país é a base da pirâmide, são as pessoas pobres, pois a empregada doméstica também consome. Então precisamos que a população negra tenha pelo menos o direito a comer, do caso contrário o currículo que vai chegar no balcão vai ser só o daquela pessoa não negra e que ainda tem quem ajude no seu sustento”, analisou.

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