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Hospedagem e alimentação lideram alta de preços no verão paraense de julho, indicam economistas

Com poder de compra em queda e inflação regional em alta, veranistas enfrentam tarifas até 53% maiores em destinos populares, segundo economistas paraenses.

Jéssica Nascimento e Gabriel Pires
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O veraneio de julho de 2025 exigiu não só entusiasmo dos paraenses, mas também cálculo financeiro. Segundo economistas, o aumento expressivo nos custos com hospedagem e alimentação, aliado à estagnação da renda e à inflação regional, tornou o planejamento financeiro uma ferramenta indispensável para quem deseja aproveitar as férias sem comprometer o orçamento. Veranistas paraenses ouvidos pelo Grupo Liberal em Salinas apontaram o planejamento financeiro e freio nos gastos como modos seguros de aproveitar o verão amazônico na praia.

Hospedagem e alimentação puxam alta nos gastos, segundo economista

De acordo com o economista paraense Genardo Oliveira, o aumento expressivo dos custos e a redução do poder aquisitivo da população tornaram o planejamento financeiro uma ferramenta essencial para aproveitar as férias sem comprometer as finanças.

Para ele, os maiores vilões do orçamento dos veranistas paraenses foram a hospedagem e a alimentação. Balneários tradicionais registraram aumentos significativos nas tarifas.

“A hospedagem representou entre 30% e 40% do orçamento total, com diárias em Salinas e na Ilha de Marajó subindo até 53,4% nos períodos de pico”, aponta o economista.

A inflação no setor de alimentos também elevou os custos nas praias. Segundo ele, a alta de 26,7% nas proteínas, como o frango, impactou diretamente os preços dos cardápios em restaurantes das áreas mais turísticas.

“Um almoço com bebida alcoólica em áreas premium chegou a custar R$ 180 por pessoa”, afirma.

Além disso, o transporte, especialmente para turistas que vêm de fora do estado, também pesou. O economista disse que passagens aéreas para Belém tiveram reajustes de mais de 50% desde dezembro de 2024. E os chamados “gastos invisíveis” — como taxas de acesso, estacionamento e seguros — chegaram a representar até 15% do orçamento.

Dicas para evitar sustos no bolso

Apesar do cenário desfavorável, Genardo acredita que, com planejamento, ainda é possível ter um veraneio proveitoso sem comprometer as finanças pessoais.

“Reservar hospedagem com antecedência, entre três e seis meses antes da viagem, pode reduzir os custos em até 30%. Também é importante usar plataformas que ofereçam passeios e transfers com preços fixos”, orienta.

Ele também sugere criar um fundo de viagem automatizado, com a destinação mensal de 5% a 10% da renda, além de reavaliar gastos do dia a dia.

“Cancelar assinaturas que não estão sendo utilizadas, por exemplo, pode liberar recursos que fazem diferença no orçamento de férias”, diz.

Outra alternativa recomendada é buscar destinos menos explorados, mas com boa infraestrutura. Marudá, Algodoal e Maracanã são citados como opções com custos até 40% menores do que os de Salinas.

Poder de compra em queda afeta turismo local

A diminuição do poder aquisitivo do paraense em 2025 teve impacto direto no setor de turismo. Segundo Genardo Oliveira, a inflação regional — especialmente na Amazônia Legal — afetou a alimentação e o transporte, enquanto os salários não acompanharam a elevação dos preços.

“O salário mínimo nominal, de R$ 1.423,50, equivale hoje a apenas US$ 323,3, bem abaixo da média latino-americana. E no Pará, 34% dos trabalhadores recebem até um salário mínimo”, destaca.

Outro fator relevante foi o impacto da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), prevista para ocorrer em Belém. O economista aponta que a preparação para o evento global aumentou a demanda e, consequentemente, os preços de hospedagem e alimentação na capital, dificultando ainda mais o acesso ao turismo regional para os moradores locais.

Famílias de classe média, segundo ele, já destinam cerca de 50% da renda a despesas básicas, o que limita os gastos com lazer e viagens.

“Planejamento é a chave”: organizar o orçamento com antecedência evita surpresas

Em entrevista à matéria, o economista Nélio Bordalo Filho - consultor de empresas e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (CORECON PA/AP) - defendeu que aproveitar o verão sem comprometer as finanças familiares começa com uma regra básica: planejamento

Ele recomenda que o orçamento do veraneio seja tratado como um projeto financeiro à parte, com todos os custos estimados com antecedência.

“Eu acredito que o planejamento financeiro é a chave para curtir os momentos de lazer sem comprometer o orçamento familiar”, afirma.

O economista explica que montar um orçamento específico para a viagem, com categorias como transporte, hospedagem, alimentação e passeios, é o primeiro passo para evitar gastos excessivos.

“É fundamental que as pessoas se antecipem ao período de férias com organização financeira e disciplina no consumo.”

Ele também sugere que os preparativos comecem meses antes, com reservas programadas e pesquisa de preços.

“Reservar com antecedência hospedagens e pacotes permite aproveitar preços promocionais e parcelamentos sem juros. Muitos destinos paraenses oferecem condições mais vantajosas de última hora.”

Outras estratégias incluem comparar preços entre operadores locais, fugir de restaurantes turísticos e estabelecer limites diários de gastos.

Reserva de emergência e cautela com o crédito

Nélio alerta para um erro comum entre os veranistas: depender do cartão de crédito sem planejamento. Segundo ele, o uso descontrolado pode gerar dívidas pós-férias que comprometem a renda dos meses seguintes.

“Evitar o uso excessivo de cartão de crédito é fundamental para evitar o endividamento pós-férias, a não ser que no planejamento esteja previsto recurso para pagamento da fatura no valor integral”, avaliou.

O economista também destaca a importância de contar com uma reserva de emergência, equivalente a pelo menos 10% do total previsto para a viagem.

“Essa reserva é essencial para imprevistos como cancelamentos, emergências médicas ou custos extras não planejados”, disse. 

Renda estagnada e inflação corroem o poder de compra do paraense

Segundo o conselheiro do CORECON PA/AP, apesar de indicadores econômicos positivos em 2025, como o crescimento do PIB estadual (5,38%) e a geração de empregos formais, ele observa que esses avanços ainda não se refletem no bolso do cidadão comum.

“O poder aquisitivo médio do paraense vem apresentando sinais de redução nos últimos anos, especialmente frente ao custo de vida e à inflação de serviços”, analisa.

Segundo Nélio Bordalo, dados recentes mostram que boa parte da população do estado ganha menos de dois salários mínimos por mês, enquanto a inflação sobre itens essenciais, como alimentos e combustíveis, pressiona o orçamento familiar.

“Sem sombra de dúvidas, a renda não tem crescido no mesmo ritmo que os preços de alimentos, combustíveis e serviços essenciais”, pontua.

Outro dado preocupante, conforme o economista, é o nível de endividamento da população.

“Mais de 70% das famílias paraenses estão endividadas em algum nível, e cerca de 20% estão inadimplentes. Isso reduz a margem para poupança e limita o consumo, inclusive o voltado ao lazer”, lembra.

“A gente já vem prevenido”: empresário destaca importância de se planejar

O empresário Charles Henrique Sodré, morador de Castanhal, escolheu Salinas mais uma vez para aproveitar as férias de julho com a família. Ele reconhece que os custos são elevados, mas acredita que o investimento compensa o esforço de um ano inteiro de trabalho.

“A questão de preços e valores eu não posso dizer que é algo acessível, mas a gente sempre sabe que é um valor que cabe. Vale a pena você tirar um pouquinho aqui para fazer a diversão com a família”, afirma.

Apesar de observar um leve aumento nos preços, Charles não considera isso um fator impeditivo para o lazer.

“Olha, deu uma pequena aumentada no preço das coisas. Como eu falei, a gente já vem, a gente já sabe os preços e a gente procura sempre se prevenir”, explica.

image Carlos Henrique (no centro na primeira fileira) e familiares. (Foto: Ivan Duarte)

Segundo ele, alguns cuidados ajudam a economizar, como levar água e produtos pessoais de casa. Os gastos com alimentação são os que mais pesam no bolso.

“A gente vem, pede um prato, uma comida e fica numa faixa de R$ 300, R$ 400. Mas é sempre bom vir prevenido, né? Questão de água, bronzeador… Essas coisas são um pouco mais caras”, disse

Ainda assim, Charles reforça que o clima, a estrutura e a beleza do litoral paraense justificam o esforço:

“Graças a Deus, é um lugar muito bom. Adoro. Gosto demais. Amo o meu Pará e aqui é referência para muitas outras famílias”, admitiu.

“O que pesa é a bebida”: veranista valoriza simplicidade e proximidade

Já Gérson Freitas, carregador de transportes gerais e morador de Santa Maria do Pará, destaca que o custo do veraneio em Salinas pode ser bem mais acessível quando se prioriza o convívio familiar e se conta com apoio da rede de amigos e parentes.

“Todo ano a gente vem aqui. Moro próximo, é uma hora de viagem só. Sai de manhã, chega num horário bom pra curtir a praia”, conta.

Sem gastar com hospedagem - já que costuma se acomodar na casa de familiares - Gerson diz que seus gastos principais são com transporte, alimentação e bebidas.

image Gérson Freitas (de camisa vermelha) e familiares. (Foto: Ivan Duarte)

“A gente quase não custeia muito a parte de hotel, restaurante. Hoje mesmo eu só vou ver no final do expediente. Os meus gastos seguem uma tendência. Tá no mesmo patamar”, revelou.

Ele reconhece que as bebidas costumam ser mais caras na orla, mas diz que o consumo é moderado, principalmente por estar com a família.

“O que a gente acha mais ‘salgado’ na praia é a bebida. A gente não bebe muito. Estamos de férias, né? Tá todo mundo em família”, disse. 

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