Fórum Mundial de Bioeconomia começa nesta segunda em Belém: 'vamos aprender com a Amazônia'
Declaração é de Teresa Presas, consultora estratégica do Fórum. Está é a primeira vez que o evento vai ser realizado fora da cidade de Ruka, na Finlândia
Começa nesta segunda (18) e segue até quarta-feira (20), na Estação das Docas, em Belém, o Fórum Mundial de Bioeconomia. Esta é a primeira vez que o evento é realizado fora da cidade de Ruka, na Finlândia. A Amazônia, que detém um terço das florestas tropicais do mundo, emerge com grande potencial econômico proveniente da biodiversidade e, por isso, atrai pesquisadores, investidores, empresas e turistas do mundo inteiro.
“Queremos aprender e não se faz nada sozinho. É preciso a colaboração de todos os atores, e nós vamos aprender com a Amazônia, que praticamente inventou a bioeconomia e não tem o valor devido. Pensamos que podemos também participar desse diálogo, não é só o Fórum, mas os participantes, que são do Pará, do resto do Brasil, Europa, Estados Unidos”, explicou Teresa Presas, que é consultora estratégica do Fórum e acumula conhecimentos em assuntos da União Europeia, relações institucionais internacionais, com expertise em transformar visões e estratégias em ações, desenvolvendo e gerenciando projetos.
Em 2021, a quarta edição do evento terá programação híbrida, devido ao ainda momento de alerta por conta da pandemia da Covid-19, vivenciado em todo o mundo. Com programação online e gratuita, o evento tem quatro vertentes: pessoas, planeta, políticas e estratégias regionais, nacionais e comunitárias sobre a bioeconomia, onde participam os governos; iniciativas de financiamento sustentáveis, que abrange os líderes corporativos e suas produções e processos – empresas e indústrias, sejam públicas ou privadas; bioprodutos, resultado da junção dos dois primeiros vetores; e saúde.
“O quarto vetor é o nosso futuro. No ano passado, em que tivemos a edição online, foi dedicado ao tema educação e não que esse ano não será abordado, mas vamos falar de saúde por razões óbvias. Nossa intenção é discutir em uma floresta tropical os potenciais econômicos que vemos nela. Esse formato, de presencial e online, será diferente, para alcançar empresas que ainda não têm autorização para vir, mas vai ser muito interessante”, prevê a consultora, que também tem experiência na liderança de equipes multiculturais, reunindo diferentes visões e facilitando o consenso em torno de objetivos comuns.
Política e estratégias de desenvolvimento
O secretário de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Mauro O’ de Almeida, Bioconomia lembra que o Pará sediar o evento é uma oportunidade. “É colocar um refletor em toda essa variedade de recursos, essa abundância e esse potencial gigantesco econômico ainda não explorado, porque nós temos um dos mais ricos patrimônios do planeta”, afirmou.
Para Mauro, falar sobre a bioeconomia é sair do viés da indústria tradicional, e vincular esse conceito à floresta e tudo que vem dela, como ervas, sementes, frutos, folhas. “Ainda estamos construindo esse conceito de bioeconomia no Brasil, e a ideia é vincular à floresta. Tudo aquilo que a gente já fez no passado. Eu digo sempre que essa bioeconomia é encontrar com o nosso passado, a nossa ancestralidade, com os povos da floresta, a cultura florestal e tudo que isso representa na Amazônia”, pontua.
O desmatamento é considerado pelo secretário um desperdício de alternativas e oportunidades para o desenvolvimento regional, que deve ser associado à ciência e tecnologia, e a um manejo focado em ações sustentáveis. “Pensar o meio ambiente é pensar um tema geopolítico, importante nas discussões mundiais. A agenda ambiental se transformou num tema totalmente relevante e indispensável. A justiça social, o desenvolvimento e a questão ambiental estão relacionados, e vinculados à questão econômica. E a solução é pensar num modelo de desenvolvimento justo e social baseado em estímulos e negócios sustentáveis que gerem empregos verdes e renda, em especial aos jovens e mulheres”, concluiu.
Bioprodutos e economia
O que começou com um hobby, há três anos, se transformou em negócio e trouxe a empresária Liane Dias para o mundo da bioeconomia. Ela, que atua com a comercialização de cafés especializados apenas no varejo e para um público segmentado, em Belém, será uma das expositoras do Fórum Mundial de Bioeconomia e conta um pouco dessa trajetória com o produto, que adquire em Rondônia, também estado do Norte e localizado na região amazônica.
“Fui uma das primeiras lojas a ‘puxar’ esse café de Rondônia para cá, que é o café que a gente chama de robusta amazônico. Hoje ele é produzido em Rondônia, mas foi bem adaptado, porque não é originário do Brasil e sim da África. A variedade de cafés que Rondônia produz chamamos de robusta e é diferente do café tradicional. Hoje, 97% da cafeicultura do Norte fica com o Estado”, comenta.
Segundo a empreendedora, há 70 anos, o Estado de Rondônia começou a trabalhar com o café e de lá para cá não parou de crescer. Por isso, Liane faz questão de buscar seus produtos no vizinho para garantir um produto de qualidade e diferenciado aos clientes. “O café robusta não é muito conhecido, o arábico, que é outro estilo de café, é mais popular. Porém, o robusta é produzido de forma especial. E isso movimenta muito a economia de lá. São mais de 17 mil famílias produzindo café. E é um café de alta qualidade”, conta a curadora de café, que começou vendendo dois quilos ao mês e hoje vende mais de 20.
O Fórum
Durante três dias, especialistas em bioeconomia do Brasil e de várias partes do mundo vão debater iniciativas, políticas públicas e novas tecnologias que substituem produtos calcados em materiais e matriz energética fósseis por outros de base sustentável. Apontada como um dos principais caminhos para evitar a degradação ambiental e promover alternativas de inclusão social, a bioeconomia é pautada em ações que tenham na floresta em pé a geração de emprego e renda para milhões de pessoas em todas as partes do mundo.
O Fórum é referência internacional nas discussões sobre o tema, e a escolha histórica do Pará como sede faz parte da estratégia de colocar a bioeconomia no centro do debate sobre sustentabilidade ambiental. Belém é considerada a porta de entrada da Amazônia, região com a maior biodiversidade do mundo. E essa escolha se dá exatamente no momento em que os efeitos das mudanças climáticas são tão dramáticos e a comunidade internacional se prepara para a COP-26, em Glasgow (Escócia), em novembro.
Na cerimônia de abertura do evento, será assinado o Edital de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), para concessão de Áreas Estaduais para proteção e comercialização de créditos de carbono; o primeiro contrato de crédito para produtores da bioeconomia, por meio do Banco do Estado do Pará (Banpará Bio); e ainda o decreto da Estratégia de bioeconomia do estado do Pará.
Participam desse primeiro momento o fundador do Fórum Mundial de Bioeconomia, Jukka Kantola; o governador do estado, Helder Barbalho; o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcelo Brito; o diretor Executivo da IBA, José Carlos Fonseca; a secretária geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônia, Mária Alexandra Moreira Lopes; o presidente do Consórcio de Governadores da Amazônia Legal, governador do Maranhão, Flávio Dino de Castro e Costa; e o vice presidente do Brasil, Hamilton Mourão.
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