Ferramentas tecnológicas ajudam pequenas empresas a impulsionar negócios
Segundo Tayça Bendelack, cabelereira e empreendedora, uso de redes sociais como ferramenta de divulgação é responsável por 50% do público do salão
Com o acesso de novas tecnologias disponíveis para facilitar várias tarefas do cotidiano, é natural que ferramentas tecnológicas também alcançassem os pequenos negócios para impulsionar vendas e expandir o alcance dos serviços. Tayça Bendelack, que é cabeleireira há 14 anos em Belém, explica que o auxílio de ferramentas como redes sociais e aplicativos de gerenciamento de agendamentos são essenciais para o desempenho do seu negócio. O Pará atualmente possui 328.577 MEIs, de acordo com dados da Receita Federal. Entre o total, 99.037 estão presentes na capital paraense.
A carreira como cabeleireira iniciou após a segunda gravidez. Tayça explica que trabalhava como promotora de vendas, mas optou por ficar próxima da filha. “Então, foi aí que eu botei na balança. O que que eu sabia fazer? Eu amava cozinhar e eu amava fazer cabelo. Eu era a prima que fazia o cabelo das outras primas, das dez amigas. Decidi fazer um curso de cabeleireiro e super me adaptei. Gostei muito e, a partir daí, nunca mais parei”, explicou.
O uso das redes sociais, que hoje são responsáveis por 50% dos clientes que chegam até o salão, começou após comentários que os próprios clientes faziam sobre publicações de outros profissionais nas redes. Atualmente, a média de atendimentos por semana é de 20 a 25 pessoas, com maiores fluxos nos dias de sexta e sábado. “É, consideravelmente, uma mudança repentina de quando eu não postava para quando eu passei a utilizar. Eu costumo dizer que as redes sociais em geral são uma vitrine”, pontuou Tayça.
A cabeleireira, que é especialista em loiros, foca a produção de conteúdo no processo antes e após os procedimentos. O alcance já trouxe para o salão, que é localizado no centro de Belém, clientes dos municípios de Barcarena e Abaetetuba.
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Para aprender sobre a funcionalidade do algoritmo e como seria possível utilizar a ferramenta ao seu favor, Tayça realizou alguns cursos. “Eu tive que fazer alguns cursos para saber lidar, saber postar, saber horários, tudo isso. Tudo isso a gente precisa saber. Não se posta tudo o dia inteiro. Posta dentro dos horários certos para que as pessoas tenham tempo para ver, para te escutar, para entender aquilo que você está querendo passar para elas”, observou.
Outra ferramenta importante para ela gerir o negócio é a utilização de um aplicativo de agendamento dos atendimentos. Os clientes são cadastrados e, após o envio de um link para acesso, o horário do serviço chega de forma automática para Tayça. “Como eu sou a única funcionária, já é automático para mim. Se eu tivesse mais funcionários, estaria lá específico o nome das pessoas”, concluiu.
Presença digital é uma tendência no mercado
Segundo Igor Gammarano, pesquisador nas áreas de marketing digital e tecnologias e professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA), a exposição de produtos e serviços em ambientes digitais reconhecidos acelera a decisão da compra ou consumo de um produto e reduz o abismo de desconfiança que, historicamente, separava pequenos empreendedores dos grandes.
“É nesse ambiente que se observa uma clara tendência de aumento de consumo: quanto maior o contato do cliente com experiências virtuais — sejam vídeos, avaliações, stories, ou chats instantâneos — mais imediata se torna sua propensão a consumir, pois o processo de decisão deixa de ser apenas racional e passa a ser sensorial e socialmente validado por outras pessoas”, explicou o professor. A experiência vai além das redes sociais e também é aplicada a plataformas de e-commerce. Para ele, essa transformação no modelo de consumo não é apenas estar dentro do ambiente online, mas de construir uma narrativa autêntica, interativa e personalizada que aproxima o consumidor da experiência real do produto ou serviço.
O impacto dos avanços tecnológicos para os pequenos empreendedores também é observado em outros setores de tecnologia. Sistemas de gestão de relacionamento com o cliente (CRMs, na sigla em inglês), por exemplo, permitiram conhecer quem é o público, mapear jornadas, antecipar demandas e fidelizar clientes. Softwares de gestão interna integram processos de estoque, finanças e logística, tornando possível operar com precisão, reduzir desperdícios e responder rapidamente ao mercado. As ferramentas anteriormente eram algo limitado a grandes empresas.
Outro avanço, segundo o professor, são as ferramentas gratuitas de design gráfico. A facilitação na criação de uma comunicação visual competitiva diminui a dependência na terceirização do serviço e permitiu a diminuição dos custos de criação de identidade visual. “A convergência dessas tecnologias viabilizou uma profissionalização inédita do pequeno negócio, tornando-o protagonista de sua própria transformação digital”, disse Gammarano.
Avanços de inteligências artificiais trazem benefícios
Antônio Romero, gerente da Unidade de Relacionamento Empresarial do Sebrae no Pará, explica que a entidade, atualmente, reconhece a importância da funcionalidade de ferramentas tecnológicas para o pequeno empreendedor. “O Sebrae no Pará apoia os pequenos negócios com soluções tecnológicas por meio de consultorias, capacitações, acesso a ferramentas digitais e programas de inovação. Oferecemos orientações sobre marketing digital, e-commerce, automação, controle financeiro e produtividade, além de conectar os empreendedores a ecossistemas de inovação e startups”, explicou.
Segundo o gerente, ter conhecimento das tecnologias é uma parte fundamental para aumentar a competitividade, eficiência e o crescimento sustentável dos empreendimentos, especialmente no contexto da Amazônia. Segundo Romero, os cursos têm disponibilidade durante todo o ano e buscam atender todos os perfis, incluindo os que possuem negócios nas áreas digitais, com cursos sobre marketing digital e Inteligência Artificial (IA).
Gammarano pontua que, entre as inovações do mercado na área, o avanço da inteligência artificial generativa é uma das mais significativas para o mercado. Através dela, é possível personificar ofertas, automatizar atendimentos e analisar preventivamente o comportamento do consumidor — tudo em tempo real e com custos acessíveis. A automação integrada à jornada de vendas tem tornado pequenos negócios mais ágeis em responder às necessidades dos clientes.
“Vejo, ainda, a ascensão das plataformas ‘no code’ e ‘low code’, que permitem que o empreendedor desenvolva soluções digitais sob medida sem depender de conhecimento técnico avançado, democratizando o acesso à inovação. A economia dos dados, unida à IA, cria um ciclo virtuoso: quanto mais o pequeno negócio aprende sobre seu cliente, mais assertivo se torna em suas ofertas e maior é a sua taxa de conversão”, avalia o pesquisador. Para ele, o futuro dos pequenos negócios está em integrar a tecnologia como parceira estratégica e não reduzi-la a apenas suporte operacional.
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