Exportações do Pará caem no 1º semestre de 2025, mas setor químico mostra força; veja números
Apesar da leve retração geral de 0,4%, produtos químicos lideram alta com crescimento de 46,5%, enquanto mineração e produtos do reino vegetal enfrentam forte queda e tensão cresce com tarifas dos EUA.

No primeiro semestre deste ano, as exportações no Pará somaram 10,9 bilhões de dólares, uma variação negativa de 0,4% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando o estado exportou 11,1 bilhões de dólares. Porém, no mês de junho, antes mesmo do início das tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras anunciadas pelos EUA, as exportações fecharam em 1,6 bilhão de dólares, o que representa uma queda de 23,6% em comparação a junho de 2024 (2,1 bilhões de dólares). Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
No primeiro semestre de 2025, as exportações do Pará apresentaram comportamentos distintos entre os setores, quando comparadas ao mesmo período de 2024.
O setor de produtos minerais, apesar de manter o maior volume exportado, registrou queda de 10,6% no valor total, passando de US$ 7,5 bilhões em 2024 para US$ 6,7 bilhões em 2025, mesmo com um leve aumento de 4,21% no volume físico, de 73,5 para 76,6 bilhões de quilogramas líquidos exportados.
Em contraste, o setor de produtos das indústrias químicas ou indústrias conexas teve um aumento expressivo de 46,5% no valor exportado, saltando de US$ 887 milhões no primeiro semestre de 2024 para US$ 1,3 bilhão em 2025. O volume também cresceu em 12%, de 2,5 bilhões para 2,8 bilhões de quilogramas líquidos, consolidando o setor como uma das áreas em crescimento na pauta de exportações do estado.
Já o segmento de produtos do reino vegetal apresentou queda significativa, tanto no valor exportado quanto no volume. O faturamento recuou de US$ 1,5 bilhão em 2024 para US$ 1,04 bilhão em 2025, uma queda de 30,66%, enquanto o volume exportado caiu de 3,6 bilhões para 2,4 bilhões de quilogramas líquidos - uma queda de 33,33%.
Focando no mês de junho, a tendência de queda nos produtos do reino vegetal e mineral se manteve.
As exportações de produtos minerais caíram de US$ 1,3 bilhão em junho de 2024 para US$ 1,07 bilhão em junho de 2025 - queda de 17,69% - embora o volume físico tenha aumentado - de 14 bilhões para 14,3 bilhões de quilogramas líquidos no intervalo de um ano, um aumento de apenas 2,14%.
Os produtos do reino vegetal recuaram ainda mais na exportação, com redução de US$ 387 milhões para US$ 212 milhões - queda de 45,21% - acompanhada de forte queda no volume. Em junho do ano passado, foram exportados 869 milhões de quilogramas líquidos, enquanto que em junho deste ano, o número foi para 512 milhões. A variação negativa foi de 41,08% no período.
Por outro lado, as exportações químicas se mantiveram mais estáveis, com uma leve queda de 9,57% no valor de US$ 188 milhões para US$ 171 milhões, mas o aumento de 8,48% no volume de 507 para 550 milhões de quilogramas líquidos sinaliza ganhos de competitividade.
Indústria paraense demonstra força e adaptabilidade, segundo Fiepa
A cadeia produtiva do Pará vem demonstrando, segundo o setor de indústria, uma forte capacidade de adaptação ao mercado internacional.
"É notório o esforço da indústria paraense em manter seus contratos, cumprir rigorosamente os prazos de entrega e buscar, de maneira constante, a diversificação dos destinos de suas exportações", afirmou Cassandra Lobato, gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA).
Essa diversificação pode ser observada tanto pela inserção de novos produtos quanto pela manutenção de itens tradicionais na pauta exportadora. Segundo Lobato, madeira, suco de frutas e pimenta continuam sendo carro-chefe, enquanto produtos como soja e carne bovina ganham cada vez mais espaço no comércio exterior.
Principais parceiros e ameaças no horizonte
De acordo com a representante da Fiepa, entre os principais destinos das exportações paraenses estão China, Estados Unidos e Malásia. No que diz respeito às importações, destacam-se Estados Unidos, Rússia e China. Contudo, a relação comercial com os EUA pode sofrer uma ruptura caso se concretizem as medidas tarifárias previstas.
"Para o 2º semestre de 2025, a expectativa é preocupante caso as medidas tarifárias de 50% dos Estados Unidos realmente sejam implementadas. Temos uma projeção negativa, com uma possível redução de 2,81% nas exportações aos EUA", alertou Cassandra.
Setores mais vulneráveis aos efeitos das tarifas
Entre os setores que mais sentiriam os impactos, conforme Lobato, estão alimentos e bebidas, com destaque para o segmento de suco de frutas, e a madeira, que corre o risco de perder até 40% do seu mercado internacional no comércio com os EUA.
"É um ponto de atenção, pois acaba tendo consequências diretas nos quesitos comerciais. Diante disso, é imprescindível que as medidas comerciais sejam tratadas com cautela e equilíbrio para evitar impactos ampliados que possam atingir segmentos econômicos mais vulneráveis e, consequentemente, acarretar consequências sociais", enfatizou a gerente da FIEPA.
Diante desse cenário de incerteza, Cassandra Lobato defende a via diplomática como caminho para mitigar danos e garantir a continuidade dos negócios.
“Reforçamos a importância de um diálogo diplomático aberto e construtivo entre as nações, buscando soluções que minimizem prejuízos, preservem os investimentos e assegurem a continuidade das relações comerciais históricas e mutuamente benéficas”, concluiu.
Exportações minerais em queda: contexto externo e interno, segundo economista
De acordo com Nélio Bordalo, economista, consultor de empresas e Conselheiro do CORECON PA/AP (Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá), a discrepância entre o aumento do volume físico e a queda no valor das exportações minerais tem raízes principalmente na conjuntura internacional e na estrutura da pauta exportadora paraense.
"Essa situação sinaliza uma possível deterioração nos termos de troca para os produtos minerais exportados pelo Pará", avaliou o economista.
Entre os fatores apontados para essa queda de receita estão a redução dos preços internacionais das commodities minerais, como o minério de ferro, além do impacto da desaceleração da economia chinesa — principal compradora do produto. Bordalo também destacou a ampliação da oferta por concorrentes e a menor demanda global por aço como agravantes.
"Outro fator relevante é o perfil da pauta exportadora mineral do Pará, ainda fortemente concentrada em produtos de baixo valor agregado", explicou.
"A exportação de minérios em estado bruto, sem beneficiamento local ou transformação industrial, limita a geração de receitas, mesmo quando há crescimento nos volumes exportados”, disse.
Além disso, mudanças na composição dos produtos exportados, com maior participação de minérios de menor teor ou menor cotação, podem ter contribuído para a queda na receita.
Setor químico em ascensão aponta caminhos para diversificação
Em sentido oposto ao setor mineral, o setor químico apresentou um desempenho robusto no semestre, com crescimento tanto no valor quanto no volume das exportações. Para Bordalo, esse resultado pode indicar uma mudança positiva na estrutura econômica do estado.
"Esse avanço certamente reflete um aumento na demanda internacional por insumos químicos, incluindo produtos derivados de matérias-primas do Pará", afirmou.
Ele destacou o papel dos polos industriais, especialmente em Barcarena, que contam com melhor infraestrutura logística e maior capacidade de aproveitamento industrial dos recursos naturais.
Apesar de ainda ser cedo para afirmar que há uma transformação estrutural em curso, Bordalo vê potencial no crescimento do setor químico como parte de uma estratégia mais ampla para diversificação da economia local.
"Caso esse movimento seja sustentado por políticas públicas adequadas e investimentos privados em agregação de valor, há potencial para uma diversificação da pauta exportadora do estado", destacou.
"Isso pode reduzir a dependência de commodities primárias e tornar a economia paraense mais resistente a choques externos”, avalia.
Exportações Gerais – Janeiro a Junho de 2025
Total exportado: US$ 10,9 bilhões
Variação em relação ao 1º semestre de 2024: queda de 0,4%
Valor em 2024: US$ 11,1 bilhões
Desempenho em Junho de 2025
Total exportado em junho: US$ 1,6 bilhão
Variação em relação a junho de 2024: queda de 23,6%
Valor em junho de 2024: US$ 2,1 bilhões
Importante: Queda ocorreu antes do anúncio das tarifas de 50% dos EUA
Setor de Produtos Minerais
Janeiro a Junho de 2025:
- Valor exportado: US$ 6,7 bilhões (queda de 10,6% em relação a 2024)
- Volume exportado: 76,6 bilhões kg (aumento de 4,21%)
Junho de 2025:
- Valor: US$ 1,07 bilhão (queda de 17,69%)
- Volume: 14,3 bilhões kg (aumento de 2,14%)
Setor de Produtos do Reino Vegetal
Janeiro a Junho de 2025:
- Valor exportado: US$ 1,04 bilhão (queda de 30,66%)
- Volume exportado: 2,4 bilhões kg (queda de 33,33%)
Junho de 2025:
- Valor: US$ 212 milhões (queda de 45,21%)
- Volume: 512 milhões kg (queda de 41,08%)
Setor de Produtos Químicos e Indústrias Conexas
Janeiro a Junho de 2025:
- Valor exportado: US$ 1,3 bilhão (aumento de 46,5%)
- Volume exportado: 2,8 bilhões kg (aumento de 12%)
Junho de 2025:
- Valor: US$ 171 milhões (queda de 9,57%)
- Volume: 550 milhões kg (aumento de 8,48%)
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