Endividamento cresce e atinge mais paraenses
Uma outra preocupação dos paraenses é a taxa de juros mais alta

Mais paraenses estão endividados, segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo no Estado do Pará (Fecomércio). A pesquisa mostrou que em agosto 70,3% das pessoas - o maior nível desde março de 2025, estão endividadas e 23% inadimplentes. Os principais vilões são o cartão de crédito com 81,3%; carnês com 15,3% e o crédito consignado com 8,2%.
Está endividado não significa, necessariamente, uma condição negativa já que se trata de um acúmulo de dívidas, passando a ser inadimplente quando essas contas passam a ficar atrasadas. Segundo os dados da Fecomércio, o número de paraenses que declaram não terem condições de pagar dívidas cresceu em relação ao mesmo período do ano passado, saltando de 6,3% para 7%. Apesar do resultado, o número se manteve estável, com exceção de março, quando o percentual de pessoas que declaram não ter condições de pagar chegou a 12,2%.
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Os resultados vão na contramão do levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgados na terça-feira, 9, que mostrou que a proporção de inadimplentes no Brasil ficou em 30,4% – menor que a registrada no Pará. O estudo também destaca que o percentual de endividados que não têm condições de quitar suas dívidas atrasadas subiu, de 12,7% para 12,8%, de julho para agosto.
Ao comentar o assunto, o economista Everson Costa explica que vários setores já voltaram ao nível pré-pandemia, mas que alguns efeitos permanecem na vida das pessoas. “De lá pra cá o cartão de crédito acabou virando uma extensão do salário, que cobre supermercado, combustível, entre outros gastos. Ele acaba virando a grande razão do descontrole, a maioria das famílias estão penduradas no cartão. Falta também educação financeira para que as pessoas possam entender que o cenário que vivemos hoje de elevado juros torna a dívida quase impagável.”
Uma outra preocupação dos paraenses é a taxa de juros mais alta e as condições de pagamento. A taxa selic atualmente está fixada em 15% pelo Banco Central (BC). Desde setembro do ano passado a instituição não pára de aumentar os juros, atingindo em julho o patamar atual. Segundo o BC, a justificativa para a alta é o controle da inflação, incertezas quanto à política fiscal do governo federal e ambiente externo desafiador.
“A educação financeira é fundamental e alinhada a um bom planejamento a gente tem casos de sucessos de pessoas que não só conseguiram resgatar não só o controle do seus gastos, mas principalmente voltar a ter o nome limpo e isso é bom para o comércio que vende mais, é uma indústria que é mais demandada, então os efeitos positivos são fantásticos,” explica Everson.
O Brasil registrou no ano passado uma inflação de 4,83%, acima do teto da meta estabelecida pelo governo. A meta de inflação para 2024 foi de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o que isso muda na vida das pessoas? Quanto maior a inflação, menor o poder de compra da população - especialmente entre quem recebe salários mais baixos. Isso ocorre porque os preços sobem, mas os salários não acompanham esse aumento.
Ainda segundo levantamento da Fecomércio, as pessoas de menor poder aquisitivo são as mais endividadas, e as mais inadimplentes. O estudo mostrou que 7,1% dos que ganham até dez salários mínimos não têm condições de pagar suas contas, contra 5,8% dos com maior renda. Em outro recorte, 72,5% dos com menor poder aquisitivo estão endividados, enquanto 50% com maior renda declaram que estão com dívidas.
A auditora de lojas, Maria Vitória Reis da Silva, conta que tenta equilibrar as contas por ordem de prioridade e confessa que em alguns casos atrasa o pagamento. “Na hora de pagar acabo priorizando algumas coisas e deixo atrasado as outras, e me enrolando na hora de quitar as dívidas.”
“O risco de quem produz, vende, consome ele embute a inadimplência na formação final de preço. A inadimplência tem um efeito perverso porque ela devolve para a economia preços mais altos, por uma desconfiança e um medo da falta de pagamento,” conta o economista Everson Costa.
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