Dia do Chefe de Cozinha: mulheres paraenses destacam desafios e conquistas na profissão
À frente da cozinha regional, profissionais revelam como empreender com criatividade, sustentabilidade e foco na COP 30

Celebrado nesta terça-feira (13), o Dia Nacional do Chefe de Cozinha é uma oportunidade para conhecer as histórias de quem transforma ingredientes em cultura. No Pará, mulheres como Narinha Tabosa e Thânia Rodrigues investem na culinária de origem como profissão e propósito. Entre consultorias, projetos sociais e eventos gastronômicos, elas revelam os caminhos que trilharam até aqui e como a gastronomia paraense se prepara para um novo ciclo de visibilidade com a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em Belém.
“O profissional da cozinha já nasce com o dom, né? Eu sempre gostei de cozinhar em casa. Tenho outra profissão antes dessa e, depois de um tempo, decidi colocar a cozinha como vida profissional e pessoal”, conta Narinha Tabosa, 50, que atua na área desde 2017 e é especialista em cozinha amazônica.
No caso da chef Thânia Rodrigues, 39, a descoberta da vocação aconteceu dentro de uma churrascaria. “Quando conheci meu atual marido, que já trabalhava no ramo, tive meu primeiro contato com uma cozinha industrial. Foi amor à primeira vista”, lembra. Ela trabalha há 17 anos com buffet e se especializou em São Paulo, com o objetivo de trazer inovações à culinária local.
Inovação com ingredientes da terra
“Há quatro anos, tive meu primeiro contato com os finger foods em São Paulo, essas mini porções que hoje fazem o maior sucesso em Belém. Consegui adaptar na nossa culinária e ficou bem legal”, conta Thânia. “Transformei para o nosso contexto: mini arroz paraense, mini vatapá, mini maniçoba, e servi tudo no formato de serviço volante em eventos”, acrescenta.
Além dos finger foods, Thânia também desenvolveu pratos como unha de caranguejo em redução de tucupi e filezinho ao molho de castanha-do-pará, sempre com ingredientes regionais.
Narinha, por sua vez, está se preparando para capacitar outras mulheres, com foco na sustentabilidade. “Quero qualificar 30 mulheres e ensinar tudo o que eu posso, pra que a gente possa executar na COP ganhar um dinheiro com a gastronomia”, explica. Um dos exemplos sustentáveis desenvolvidos pela chefe são os ovos de Páscoa servidos em uma cerâmica marajoara no lugar da embalagem plástica, recheado com diversas combinações regionais, como brigadeiro com jambu.
COP 30 ‘apresentará culinária paraense para o mundo’, afirmam
Com a proximidade da COP 30, Belém se torna vitrine global, e as expectativas das chefes acompanham esse movimento. “Estamos tendo uma oportunidade única de mostrar para o Brasil e o mundo o quanto nossa culinária é rica e deliciosa. Em grande parte dos nossos preparos usamos ingredientes regionais extraídos da nossa região sem degradar o meio ambiente”, ressalta Thânia.
Narinha acredita que o público internacional virá em busca da ‘cozinha raiz’:
“Eles vão buscar o que a gente come no dia a dia: o peixe frito com farinha de Bragança, o açaí da maneira cultural que a gente consome… a nossa comida de origem”, aposta.
Arroz cremoso de tucupi com farinha de tapioca apimentada e farofa de charque com camarão e jambu são alguns dos pratos paraenses feitos por Narinha (Igor Mota / O Liberal)
As duas chefes também observam com orgulho o destaque que a gastronomia paraense tem conquistado no Brasil e no mundo. “Nossos sabores são únicos. Por isso que os turistas se apaixonam quando experimentam nossas delícias”, diz Thânia.
Narinha concorda, mas chama atenção para a desigualdade de gênero no setor. “A mídia colocou nossos ingredientes em evidência, mas mais os chefes homens foram aproveitados. Nós, mulheres, ainda estamos buscando nosso caminho”, observa. Ela faz questão de citar colegas que admira: “Gosto muito da confeitaria da Sâmia Cosson, da gastronomia inclusiva da Vanja Rodrigues, dos antepastos da Thainá Damasceno e da Odeth Macedo na panificação. Temos muitas chefes que estão buscando um lugar ao sol e que vão ser descobertas mais cedo ou mais tarde”, anseia.
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