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Crônica: Na Celpa do Iguatemi

Na época da Celpa, do Iguatemi e da Abelhuda minha única preocupação era passar de ano na escola

Eduardo Laviano

Meu pai é um sujeito surpreendente. Já estou acostumado, mas, nada poderia ter me preparado para a última dele. O cara se arrumou, penteou o cabelo, colocou a máscara e me avisou na porta: “Vou lá na Equatorial e já volto”.

Meu mundo caiu. Uma cratera abriu sob meus pés. Juro. De todas as pessoas do mundo, ele era a última que pensei que fosse chamar a Celpa de Equatorial. E com tanta naturalidade, fingindo costume.

Me senti traído porque chamei recentemente a concessionária de energia de Celpa e fui corrigido na mesma hora pelo meu chefe. Eu rebati, dizendo que não aceitava, que Celpa era melhor.

Virei aquilo que critico: o velho rabugento que diz “no meu tempo que era bom”. E mudaram para um nome maior, mais difícil de encaixar nos títulos das matérias.

É diferente da Vale do Rio Doce, que matou o Rio Doce e virou só Vale. Nossos editores agradecem.

Parafraseando Justin Bieber, não estou apaixonado pelo nome Celpa, mas sim pelo sentimento que ele traz. Na época da Celpa minha única preocupação era passar de ano na escola.

Eu também nunca havia recebido uma ligação de São Paulo com alguém que sabia todos os meus dados oferecendo um cartão de crédito.

Foi um tempo que o Brasil havia superado a fome, que a classe média comprou carros usados e que a classe alta decidiu chamar os carros usados de “seminovos” para vendê-los com mais garbo.

Mas a nostalgia não é culpa minha. É que Belém não deixa a gente fugir do passado. Às vezes, quando ninguém está olhando, chamo o Pátio Belém de Iguatemi, só pela adrenalina.

Esse nome me remete a uma época em que o Pedreira Lomas não percorria 80% da cidade, mas no máximo uns 60%. E não existia isso de linha A ou B. Não tinha chance de você parar no Entroncamento achando que ia para a Pedro Miranda.

E o que dizer do melhor nome já inventado para uma doceria? Abelhuda é regional, sacana, divertido. Foi trocado por Amorosa. Veja como regredimos tanto em tão pouco tempo.

Mas não se enganem: estamos, na verdade, progredindo. Todo passado, quando bem edulcorado, tende a parecer melhor do que foi. Mas não há rotina de skincare que supere o ato de aprender coisas novas quando o assunto é permanecer jovem.

Digo isso porque fiquei encantado com o Tadeu Schmidt, apresentador do reality Big Brother Brasil, pedindo para a participante Linn da Quebrada explicar a tatuagem que fez na testa com a palavra “Ela”.

Como a cantora e atriz é travesti, a mãe dela tinha dificuldades de abandonar os pronomes masculinos na hora de falar com a filha. E os participantes do BBB, aparentemente, também. Um assunto impensável de ser mencionado em rede nacional de TV na época que o Balacoolbar ainda era African Bar.

A tatuagem de Linn é um lembrete de que a vida vai em frente – e quem se recusa a ir com ela vai acabar lanchando sozinho na Abelhuda depois de enfrentar uma fila imensa para pagar uma conta na Celpa do Iguatemi.

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