Crise em redes varejistas gera temor em trabalhadores

Sindicato afirma que os pagamentos de funcionários estão normais, porém há escassez de abastecimento

Fabrício Queiroz
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O processo de recuperação judicial das Lojas Americanas, que tem um rombo estimado em mais de R$ 20 bilhões, e a recente divulgação de que as Lojas Marisa pretende renegociar as dívidas com seus credores criaram um cenário de incertezas entre os funcionários dessas redes. Segundo o Sindicato dos Empregados no Comércio e Serviços do Estado do Pará (SEC), o medo do desemprego é grande entre os trabalhadores, apesar de não ter ocorrido desligamentos recentes.

“Estamos muito preocupados e monitorando a situação porque quando grandes de redes de lojas como essas fecham sempre sobra para o trabalhador. Em casos antigos, a maioria dos trabalhadores não sabe nem quanto recebeu porque as indenizações acabam sendo parceladas”, afirma Ivan Duarte, presidente do SEC, que diz que apesar da situação incerta sobre os rumos das Lojas Americanas, os salários tem sido pagos normalmente.

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A situação da loja de departamentos aqui no estado é a que tem sido acompanhada mais de perto, envolvendo o trabalho das 16 diretorias regionais do sindicato. Não há cálculo sobre o quantitativo de funcionários da Americanas no Pará, porém o SEC afirma que há unidades em todos os 144 municípios paraenses, sendo que o número mínimo de empregados em cada loja seria de 12. Dessa forma, é possível estimar que o número de funcionários gire em torno de 1.728, porém o total deve ser maior visto que há cidades com mais de uma loja, como é o caso de Belém, além de que estabelecimentos de grande porte tem até 26 contratados.

No acompanhamento desse caso, o principal problema relatado pelos empregados seria a falta de reposição de itens. “O que temos de concreto é que a última grande chegada de mercadoria foi por volta do dia 8 de dezembro. Agora em janeiro e fevereiro, os trabalhadores estão vendendo o que tem nos estoques. Quando se entra nas lojas, a gente percebe que as mercadorias de maior valor, como televisão, som e celular, não está sendo reposta. A reposição ficou escassa e ocorre mais para os produtos mais de valores insignificantes, como chocolates e biscoitos”, comenta Ivan.

“Os próprios trabalhadores tem procurado informações no sindicato para saber o que está acontecendo, justamente porque existe o medo de levar um calote. Infelizmente, a gente sabe que sempre sobra para quem está na parte debaixo”, acrescenta o sindicalista.

Enquanto as Lojas Americanas entraram em processo de recuperação judicial, as Lojas Marisa anunciaram que pretendem renegociar suas dívidas de cerca de R$ 600 milhões com bancos credores para evitar que a situação de débito inviabilize suas operações. Para o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (Corecon PA/AP), Nélio Bordalo Filho, as dificuldades enfrentadas por grandes nomes do segmento varejista brasileiro criam um ambiente desfavorável para os negócios.

“Essa situação impacta negativamente na gestão dos negócios pois as exigências dos bancos serão maiores, haverá a necessidade de apresentação de garantias reais nas operações e o aumento do custo do dinheiro (taxa de juros) em função do risco do negócio, sendo que os dois fatores citados poderão implicar em maiores dificuldades para as empresas conseguirem novos empréstimos para manter ou ampliar as suas atividades comerciais”, analisa Bordalo.

O economista esclarece, no entanto, que ambos processos ocorrem dentro de parâmetros que permitem condições de melhorias e manutenção das atividades das empresas. “No caso da Marisa, o reescalonamento das dívidas com seus credores é também conhecido como reestruturação de dívidas, é um processo comum no mundo dos negócios e tem por objetivo reduzir o total de dívidas da empresa, diminuir os juros pagos por contratações de auxílio de crédito e estender prazos para quitação de débitos juntos a instituições financeiras e com fornecedores. Na reestruturação, os próprios gestores da empresa podem trabalhar nesse planejamento, ou, contratar empresa ou profissionais especialistas em gestão financeira que tenham expertise no assunto, ou seja, é mais um processo de caráter administrativo e de gestão de crise”, explica.

Já a recuperação judicial, embora seja encarada com preocupação por credores e fornecedores, é amparada pela Lei nº 11.101/2005 que permite a suspenção e renegociação de dívidas, direcionando o uso do patrimônio ou dos recursos adquiridos para que se honre compromissos com pagamentos de funcionários, tributos e insumos necessários à manutenção do negócio ativo. Assim, se evita uma situação extrema que é a falência.

“A recuperação judicial de uma empresa é muito melhor do que um pedido de falência, que nesse caso a empresa encerra as atividades, e seus ativos são vendidos para o pagamento das dívidas existentes, causando também demissão de todos os colaboradores, ou seja, resulta em desemprego”, esclarece Nélio Bordalo.

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