Comercialização da carne deve cair em 2022, segundo estudo
Altos preços, falta de chuvas e embargo da China são avaliados como principais razões, aponta Dieese

A comercialização de carne bovina brasileira deve registrar queda no início de 2022. A previsão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e foi divulgada esta semana em um estudo da entidade.
Segundo análise do Instituto, a carne enfrenta baixa procura no mercado interno brasileiro, especialmente por conta dos altos preços do produto, por conta da inflação. No Pará, por exemplo, as altas nos preços da carne já chegaram a 20,84%, segundo estudo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese).
Mas além disso, o estudo do Ipea aponta que a escassez hídrica que atingiu o país nos últimos meses também afetou os preços. Isso é porque a falta de chuvas provoca redução na oferta de grãos utilizados para alimentar gado. Se a oferta diminui, o custo para alimentá-los é mais alto, e isso é repassado para o consumidor final.
Exportação em crise
O embargo da China também pesa na equação. Desde o dia 4 de novembro, quando dois casos de síndrome da vaca louca foram identificados em gados brasileiros de exportação, o maior consumidor de carne bovina brasileira interrompeu as compras.
O país asiático já oficializou a liberação de carnes validadas antes do dia 4 de novembro, um alívio parcial para o setor. O Ministério da Agricultura trabalha para reverter o efeito da decisão de maneira geral, já que, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal, as ocorrências no Brasil não representam risco para a cadeia de produção bovina brasileira
Queda no mercado interno
Daniel Acatauassú Freire preside o Sindicato da Carne e Derivados do Estado do Pará e lembra que o consumo de carne pelo mercado interno já vem caindo desde a década passada, como consequência do preço da arroba, o que fez os consumidores migrarem para proteínas mais baratas, como frango, porco, ovos e embutidos.
"Em 2006 a arroba estava na ordem de R$ 55,00 e o consumo per capita chegava a 40 quilos. Em 2021 a arroba média subiu para R$ 294,00 e o consumo de carne bovina caiu para os 25 kg per capita. Uma consequência foi a diminuição da produção estadual. Os abates, que eram em média 2,5 milhões de cabeças, caíram para abaixo de 1,8 milhões. Essa queda de produção só não foi maior devido à abertura de mercados externos, como a China, Singapura, Filipinas etc. Para 2022, espera-se uma estabilidade de preços da arroba do boi e até uma ligeira queda devido a previsão de ofertas maiores de animais jovens. Esperamos também a retomada da China, que a qualquer momento pode voltar às compras. Em suma, o mercado é soberano e se ajusta de acordo com preços, demanda e oferta", avalia ele.
Tantas dificuldades acentuaram os números negativos da exportação no mês de novembro, com uma queda de 49% em relação ao mesmo mês em 2020, informou hoje o Ministério da Economia. Em receita, a queda foi de 43%. A pesquisa do Ipea mostra ainda que a carne de frango deve registrar alta demanda em dezembro.
“Mesmo com a proximidade do final de ano, quando geralmente se verifica aumento na demanda por outras carnes, como a suína, a bovina e as de aves natalinas, em detrimento da de frango, o consumo da proteína de frango pode seguir aquecido, justamente devido ao aumento da demanda por proteínas mais baratas”, aponta estudo publicado pela entidade.
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