Com alta dos alimentos, comerciantes não conseguem segurar preço do popular 'prato feito'
Situação está cada vez mais difícil para quem vende e para quem precisa comer fora diariamente

A inflação no preço dos alimentos tem afetado não só o bolso de quem come, mas também de quem prepara a comida, entre eles paraenses que trabalham com o popular "prato feito". No Pará, segundo o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos, as maiores altas registradas em agosto ficaram para o óleo de cozinha, com alta acumulada de 81,61% nos últimos doze meses, entre julho de 2020 e julho de 2021. O segundo lugar da lista foi o arroz, com reajuste acumulado de 56,43% no mesmo período. A carne bovina também teve alta expressiva nos preços, chegando a 34,42%. A manteiga é outro produto que chama a atenção, com alta de 14,50%.
Sidney Augusto e a esposa Diana Auxiliadora trabalham juntos no ramo. Ele conta que o aumento principal nos últimos meses para o estabelecimento dele foi o do óleo, mas também do frango, da víscera e do fígado.
"Antigamente você encontrava fígado por até sete reais na feira. Hoje chega a trinta. A pandemia também impactou muito, principalmente para quem tem restaurante, né? Muitas empresas fecharam as portas e outras deixaram os empregados trabalharem em casa. Isso diminuiu o pedido de refeições. Com as entregas, nosso custo aumentou", avalia.
Sandra Paixão vende pratos feitos na avenida Pedro Miranda de 11h até 15h. Ela conta que passou 2020 inteiro sem fazer reajuste nenhum nos preços, mas as finanças do carrinho de comida que ela comanda não resistiram ao ano de 2021.
"Precisei aumentar meu produto que mais sai para 15 reais. Era 12. A clientela até falou no início mas não reclamaram muito. Acho que sabem da situação que estão as coisas. Hoje cem reais não é nada. Vai no supermercado para ver o que consegue comprar. Cabe nas duas mãos", diz.
O cenário é similar no resto do Brasil. O prato feito do brasileiro subiu quase o triplo da inflação em apenas um ano, segundo levantamento do pesquisador e economista Matheus Peçanha, da FGV.
A cesta de dez itens do prato feito teve variação de 22,57% no acumulado em 12 meses até julho, enquanto que a o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV avançou 8,75%.comer
Entre as maiores altas, os destaques são os mesmos observados no Pará, porém com números menores. O aumento do preço do arroz em todo o país foi de 37,5%, quase 20% menos que no Pará. Já o aumento no preço das carnes bovinas foi de 32,69%, pouco menos que 2% da alta registrado no território paraense.
A médica Ana Paula Reis se acostumou a comer na rua desde que estava no ensino médio. Ela come no mesmo lugar há anos e conta que o preço já foi reajustado três vezes, pelo o que ela se lembra.
"Eu amo as comidas simples mesmo de mãe, feijão, arroz, carne. Se tiver macarrão melhor ainda. Para mim vale a pena pois economizo tempo. Acho que esses reajustes são compreensíveis. A maioria dos produtos está passando por altas no preços. Eu não cozinho, mas se cozinhasse, estaria pagando a mais também pelo meu almoço", afirma.
Apesar das altas, alguns produtos apresentaram recuo no preço, porém, não em quantidade suficiente para interferir no valor final do prato feito. É o caso do preço do feijão, por exemplo, que teve queda de 12,35%.
Segundo o pesquisador da FGV, a disparada da inflação dos itens do prato feito é reflexo das condições climáticas adversas que vêm castigando o Brasil há mais de um ano com a estiagem e, mais recentemente, com as geadas.
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