Sorvetes e picolés regionais levam sabor e tradição do Pará para outros estados
Sorveteria Blaus encabeça esse mercado há mais de trinta anos e aposta na tradição
Os sabores de frutas tradicionais do Pará e da região Norte são marca registrada da sorveteria paraense Blaus, presente nesse ramo há trinta e três anos. A diretora de operações Larissa Valério explica que a marca conta atualmente com vinte e cinco lojas e cerca de quarenta e cinco funcionários diretos e indiretos, em unidades espalhadas dentro e fora do estado. Ela comemora o retorno positivo dos clientes de fora e acredita que a movimentação em torno da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) ajudou a dar visibilidade ao estado, até então pouco visto, mas destaca que foi a qualidade e a riqueza da nossa cultura que cativou o público.
“A gente procura trabalhar com frutos da Amazônia e fazer o melhor que há dentro da nossa culinária voltada para sorvete. Então a nossa ideia é levar um pouco da Amazônia através dos nossos sabores para o resto do Brasil”, enfatiza Valério.
Com a produção concentrada em Belém, a marca já sente o fluxo mais intenso de visitantes na cidade, o que também reflete nas vendas. Larissa explica que o período com o maior número de vendas é o do mês de julho, embalado pelo calor do verão, seguido das festividades do Círio de Nazaré. E, assim como a celebração que homenageia a padroeira do estado, a COP 30 também promete mobilizar um número expressivo de turistas entre os dias 10 e 21 de novembro, quando está agendada para ocorrer.
Pensando nessa movimentação, além da possibilidade de estar presente nos espaços de venda do encontro climático, a sorveteria também investe na preparação da estrutura e da equipe para lidar com a demanda. Os investimentos nesse sentido incluem a oferta de cursos de inglês para os funcionários e a inclusão de cardápios em inglês. A iniciativa pretende facilitar a comunicação com os clientes estrangeiros nesse e em outros momentos a longo prazo.
A originalidade da sorveteria também está presente no sorvete de cascão, que agrega sabores locais da mesma maneira. Nesse caso, além de ingredientes básicos, como trigo e ovos, a marca também aposta no Cumaru, conhecido como a “baunilha da Amazônia” e comumente utilizado como aromatizante em alimentos. Antes, a empresa acrescentava a baunilha tradicional na produção, mas aderiu a mais um dos produtos originados na região amazônica.
Além dos sabores mais famosos, como açaí e o cupuaçu, que se tornaram característicos do Pará, a representante explica que o público é muito receptivo com frutos menos conhecidos, a exemplo do uxi. No caso da loja em São Paulo, ela relata um desafio para apresentar os frutos mais diferentes a esses clientes, o que é feito com cardápios que trazem fotos de cada fruta, por exemplo. “Na nossa operação de São Paulo, um dos grandes desafios foi a gente mostrar para as pessoas o que eram as frutas, porque tinha gente que achava que Bacuri fosse peixe”, lembra.
Nas lojas da Blaus, os preços ofertados ao consumidor final variam de R$ 7 (picolé) a R$ 17 (casquinha), mas a principal demanda da marca é com os clientes do atacado. Essa clientela acessa preços diversificados, que variam conforme a quantidade que adquirem.
Desafios
Apesar da alta demanda, o segmento precisa lidar com o período das safras das frutas locais e com a competitividade de outros mercados que também absorvem a produção dos frutos, a exemplo da indústria. Em um dos casos, a diretora de operações lembra que o milheiro de Tucumã chegou a custar R$ 2, valor impossível de ser praticado atualmente, após o produto interessar setores da indústria, como o ramo de cosméticos. Esse é um dos exemplos da competição com diferentes mercados, mas não é o único entrave.
O interesse de outros segmentos pelos produtos locas por si só não é o único entrave, mas é agravado pela mudança de comportamento percebida nas produções. A sazonalidade de cada safra sempre foi um fator comum, mas passou a gerar situações complexas com uma escassez cada vez mais intensa em diversas culturas que antes mantinham a colheita em períodos como o verão. A combinação desses dois fatores tende a elevar os preços no período com menos oferta.
“Hoje o nosso principal desafio é em questão as frutas da Amazônia que são a nossa base e de grande parte dos nossos sabores… então a escassez na matéria-prima, como a entressafra do coco ou então do açaí na época da chuva e tudo mais, tende a dificultar a nossa produção”, explica a diretora.
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Menos é mais
Após mais de trinta anos de experiências nesse mercado, Valério conta que a empresa originada no quintal da casa da sua avó de maneira despretensiosa aprendeu a não exagerar. Isso porque mesmo o que é regional precisa ser equilibrado. Por isso, quando questionada sobre a possibilidade de novos produtos ou sabores, ela afirma que às vezes “o básico bem feito é mais importante”. A expectativa da empresária é de seguir consolidando o nome da empresa e o legado da família, apresentando o sabor da Amazônia para o maior número de consumidores.
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