Fim das tarifas de 40% sobre a carne bovina brasileira pode pressionar preços para os consumidores
No caso do Pará, especialistas avaliam que o impacto no preço ao consumidor pode ocorrer, mas depende de vários fatores específicos do estado
A decisão dos Estados Unidos de suspender a sobretaxa de 40% sobre a carne bovina brasileira, anunciada recentemente, reacendeu os debates sobre os possíveis efeitos no mercado interno. No Pará, onde o preço da carne tem pesado no bolso dos consumidores, a medida internacional levanta expectativas mas também incertezas. A tarifa extra imposta pelo presidente Donald Trump encareceu a exportação da carne brasileira e reduziu a competitividade do produto naquele mercado. Com o fim do “tarifaço”, frigoríficos brasileiros passam a ter mais vantagens para retomar ou ampliar envios aos Estados Unidos, um dos maiores importadores de proteína animal do mundo.
O presidente do Sindicato de Carnes e Derivados do Estado do Pará (Sindicarne-PA), Daniel Freire, acredita que a medida não deve impactar no preço do produto e que outros fatores influenciam como o valor dos combustíveis, frete e logística. “ Os preços do boi, como são commodities, sofrem impactos de diversos fatores, por exemplo a sazonalidade. No fim do ano, os cortes do traseiro costumam ser mais demandados devido as festas e pagamentos de 13° salário. Não creio que a queda das tarifas impactem muito nos preços, vejo um cenário normal de ofertas com preços oscilando normalmente, alguns cortes sobem outros descem.”
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Para o setor do agronegócio, a mudança representa previsibilidade e possibilidade de aumento da demanda externa. Para o consumidor brasileiro, no entanto, os efeitos são indiretos e variam conforme cada região. No caso do Pará, especialistas avaliam que o impacto no preço ao consumidor pode ocorrer, mas depende de vários fatores específicos do estado.
“A carne brasileira ela tem um custo de fabricação senão dos menores, o menor do mundo então ela tem um preço competitivo e com a com a retirada das tarifas logicamente o mercado americano vai voltar a comprar, esse efeito ele não é imediato não dá pra dizer que em uma semana o preço da carne vai explodir, ou seja, vai ficar muito mais caro. Estamos falando aí sim da possibilidade de aumentar essas exportação da carne brasileira é claro que de alguns cortes mais específicos que têm a preferência do consumidor externo, inclusive, americano, portanto, isso traz sim uma expectativa de preços maiores para nós, agora de quanto vai ser e em que momento a gente vai ter que estar acompanhando isso”, explica o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), Everson Costa.
A cadeia da carne é sensível a variações de câmbio, custo de insumos, demanda internacional e logística. Por isso, o efeito da medida dos EUA não é imediato, e sim gradual. O Pará, por sua distância dos principais polos produtores, tende a sentir os impactos por último.
De acordo com dados do Dieese-PA o preço da carne tem apresentado instabilidade nos últimos meses com aumento de 10,14% no acumulado dos 12 meses na capital paraense. “A carne apresenta uma instabilidade no preço, aquela carne comercializada nos mercados, feiras e açougues de Belém. Enquanto ano passado era possível comprar um quilo de carne por R$ 36,70, hoje você não compra um quilo por menos de R$ 40,00 reais para carne de primeira (paulista, cabeça de lombo, chã)”, explica Everson.
Ainda assim, o fim da tarifa abre espaço para algum alívio no médio prazo. A depender do comportamento das exportações e da oferta interna, o paraense pode ver uma acomodação nos preços algo muito bem-vindo após meses de alta nos alimentos.
“A produção de carne do Pará é de em torno de 1 milhão de toneladas ano, exportamos 150 mil toneladas para outros países e consumimos no estado em torno de 290 mil toneladas. O resto vai para o mercado brasileiro”, explica Daniel Freire do Sindicarne-PA.
O empresário Rony da Silva é dono de um açougue há 30 anos no bairro do Guamá, ele conta que os preços estão dentro da normalidade e que o aumento foi influenciado por fatores internos como o valor do frete. “Quem exporta são os grandes frigoríficos, pessoas como eu e outros colegas não devemos mudar o preço, não temos luxo, mas temos qualidade e o povo gosta. O aumento que teve foi em razão do preço do frete e de tarifas de pedágio, mas não atingiu quase ninguém, foi um aumento de 5%”, comenta.
Para consumidores, açougueiros e comerciantes locais, o momento agora é de observação. Os próximos meses revelarão se o movimento internacional vai realmente chegar às gôndolas dos supermercados paraenses.