Com avanço da inflação, docerias reduzem margem de lucro para não perder clientes
Preço de produtos como como leite e açúcar, utilizados para preparar os bolos e outros doces, disparou e empreendedoras precisam se adaptar para manter as vendas
O preço dos produtos utilizados por empresários para a produção de bolos e outros doces tem subido ao longo de 2022. Apenas no primeiro semestre, o óleo ficou 37,14% mais caro, e também tiveram altas expressivas o leite (19,78%), o pão (18,98%), o café (18,42%) e o açúcar (10,47%), entre outros, como aponta o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com isso, os pequenos e médios empreendedores precisam criar estratégias para conseguir manter o negócio em dia sem repassar todas as altas para não perder clientes.
É o caso da empresária Isabel Lima, dona de uma doceria conhecida em Belém e presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) da capital. Ela conta que tem sentido as altas de preços nos produtos utilizados na empresa desde o início da pandemia. A escalada da inflação, na opinião da empreendedora, prejudicou muito o setor, já que os donos de estabelecimentos não conseguem repassar todos os reajustes aos consumidores e acabam reduzindo a margem de lucro.
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“Antes, o litro do leite no período de entressafra saia a menos de R$ 5 e agora beira os R$ 10. Outro exemplo é o leite condensado de cinco litros que, em uma semana, custava R$ 79 e na seguinte passou para R$ 105. Só que temos sofrido em praticamente todos os itens do cardápio, devido a fatores externos e internos”, afirma. Isabela relata altas superiores às registradas pelo Dieese: 28% no leite e derivados, 31,53% no preço do óleo de soja e 32,34% no preço do gás de cozinha nos últimos doze meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA); e de 130% no valor do trigo nos últimos dois anos, segundo consultoria da MLB, que atende associações e empresas do setor de moagem e panificação.
A estratégia da maioria dos estabelecimentos é reduzir a margem lucro tentando garantir o volume nas compras. Afinal, para Isabela, não tem como não repassar nada, mas também não tem como repassar toda inflação acumulada. Para manter a doceria de pé, ela precisou focar em uma gestão mais austera, revendo custos, identificando os insumos de maior peso e racionalizando seu uso. Com o último aumento do preço do leite e derivados, a empresária também precisou testar outras marcas e dar espaço a fornecedores locais, o que ela avalia como “muito positivo”, pois foi possível fazer uma troca inteligente, que não alterou em nada a qualidade dos produtos, ajudou a segurar o reajuste e ainda incentiva o desenvolvimento da indústria local.
“A inflação impactou diretamente na margem dos produtos, por isso é necessário fazer com que o giro de produtos aumente de forma a compensar essa perda de resultado. Outro grande desafio é a perda do poder de compra do cliente; dessa forma o segmento precisa trabalhar com os pacotes atrativos. O consumidor está disposto a voltar para esses espaços, porém com uma capacidade de consumo afetada”, opina. A previsão é de crescimento para os próximos meses, segundo Isabela, com um prognóstico positivo, de retomada econômica, impulsionada por datas como Círio, Copa do Mundo e Natal.
Venda caseira
O empreendedor Renan Rocha ainda não tem um espaço físico, mas faz sucesso com as vendas pela internet: ele tem uma loja virtual e oferece doces e bolos pelo Instagram. Desde que fundou o negócio, em 2020, os preços têm aumentado constantemente, mas 2022 trouxe reajustes com mais rapidez. “Com certeza, todos os produtos aumentaram de valor. De março a junho vi muitas reclamações de aumento de preço. Um bom exemplo é o leite condensado, que custava em torno de R$ 5 ou R$ 6 e agora a mesma marca é vendida a R$ 8, dependendo de onde se compra”, afirma.
Para não perder clientes, Renan tentou segurar os valores o máximo de tempo possível, mas precisou fazer um reajuste em tudo recentemente, evitando que seu lucro diminuísse drasticamente. Ele também tenta, às vezes, utilizar outras marcas, mas algumas alteram o sabor do produto final, então orienta que o confeiteiro conheça as melhores e alterne entre elas quando tem promoção, além de sempre aproveitar ao máximo cada ingrediente usado, tentando fazer com que não haja desperdício.
“O peso dos produtos não mudou, tento fazer sempre com a mesma qualidade que sempre fiz e vou tentando aprimorar, sendo que, mesmo com o reajuste recente dos meus produtos, os meus clientes continuam comprando, pois sabem que tudo está aumentando de valor. Estou conseguindo manter as vendas, mas tudo depende também do marketing que faço, número de postagens nas redes sociais e outros fatores. E mesmo que estejamos no mês de julho, em que as pessoas buscam guardar dinheiro para viajar, as vendas continuaram boas e, às vezes, a procura é até maior do que eu consigo vender”, comenta Renan.
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