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Compras parceladas no crédito podem driblar alta da inflação; entenda

Ao comprar um item mais caro e parcelar por um ano, o consumidor pode sair no lucro, porque paga um produto durante meses com o preço de um ano atrás. Especialistas pedem cuidado.

Elisa Vaz
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A alta da inflação, que vem sendo uma tendência no Brasil nos últimos anos, faz com que muitas pessoas busquem formas de driblar a escalada de preços, especialmente em um cenário de desemprego e diminuição de renda. Medida oficialmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação é, de forma resumida, o aumento dos preços de bens e serviços e implica na diminuição do poder de compra da moeda. Ou seja, se um consumidor tem R$ 100 e a inflação crescer 10% no próximo ano, dentro desse período ele terá perdido R$ 10.

O parcelamento é uma modalidade de pagamento defendida por alguns estudiosos e consumidores como forma de driblar essa perda de dinheiro. Por exemplo: ao comprar um item mais caro e parcelar por um ano, o consumidor pode sair no lucro, porque paga um produto durante meses com o preço de um ano atrás, mesmo que a inflação tenha crescido no período e aquele item provavelmente tenha ficado mais caro.

Chamado “Doutor Equilíbrio”, um contador e educação financeiro publicou um vídeo explicando por que é melhor parcelar em vez de comprar itens à vista. Segundo ele, além de driblar a alta da inflação, o comprador ainda pode usar aquele montante que gastaria de uma vez para investir. Dessa forma, ganha mais com o rendimento do que com o percentual de desconto para compras à vista. O exemplo dado por ele é o seguinte: uma geladeira custa de R$ 3.299. Se o cliente tem esse valor na conta e opta por investir e comprar a geladeira com parcelamento de 10 vezes, pode garantir rendimento diário e mensal. A cada mês, o consumidor retira R$ 329 do que está guardado para pagar a fatura da geladeira. Ao final dos 10 meses, vai arrecadar com o lucro do que rendeu.

Consumidor defende cartão de crédito

Entusiasta do uso da modalidade de crédito para compras, o advogado Renan Malcher, de 32 anos, diz que o cartão pode ser uma ótima forma de driblar a inflação e ainda garantir vantagens oferecidas pelos bancos, mas sempre de forma responsável. Ele indica que todas as transações sejam feitas no cartão de crédito, mesmo as compras de pequeno valor, e se divide entre as modalidades à vista e parcelado.

“O racional do cartão de crédito é bem simples: o banco lhe dá 30 dias sem juros para pagar suas compras à vista e o prazo de parcelamento também sem juros, para as parceladas. O valor em si não está somente na inflação por período, mas também muito pelas vantagens que cada cartão de crédito confere ao portador, como pontos em programas de fidelidade, cashback e outros. Eu parcelo com frequência, mas somente os bens ou serviços que possuem um valor agregado maior, cuja projeção da parcela, e não o preço total, se encaixe no meu orçamento familiar. Faço isso exatamente pensando na oportunidade que o banco me concede ao permitir que eu pague por um bem ou serviço no curso do tempo, sem a aplicação de juros”, comenta.

Ao analisar outras modalidades de crédito disponíveis, Renan dá um exemplo: um bem custa R$ 15 mil e o lojista permite o parcelamento em 12 vezes sem juros no cartão de crédito. O consumidor vê no aplicativo do banco que tem limite no cartão para a compra. De outro lado, também percebe que o banco lhe oferece um crédito pessoal no mesmo valor, mas nessa modalidade terá que pagar juros que, segundo ele, custarão mais do que 100% ao ano. Por isso o advogado defende que a linha de crédito concedida pelo banco no cartão sempre será mais vantajosa, pois sairá basicamente sem custos.

Inflação significa perda de poder de compra

O segundo grande benefício do parcelamento sem juros, para ele, é diminuir a perda do poder de compra, resultado da alta da inflação. “Ela nada mais é do que a variação dos preços em decorrência da perda ou ganho de valorização de uma moeda no curso do tempo. Um real em 2002 não vale o mesmo que um real hoje, pois, de lá para cá, a moeda perdeu consideravelmente o seu valor. E isso se reflete diretamente no poder de compra dos brasileiros. A lógica é de que os preços tendem sempre a subir, retirando valor da moeda. A inflação reflete a lógica da oferta e da demanda: quanto mais dinheiro há em circulação, menos valor esse dinheiro terá. Quanto mais caro um produto ou serviço for ficando, haverá mais circulação de dinheiro para adquirir o mesmo produto, em razão dos aumentos dos preços”, explica.

Em um cenário como o atual, de inflação alta e taxa de básica de juros em patamares de dois dígitos, parcelar sem juros será a melhor escolha, na opinião de Renan, pois a tendência é ​de ​que a moeda perca valor durante o curso do tempo, aumentando o preço do bem ou serviço adquirido no cartão de crédito sem juros. De outro lado, se o consumidor possui o recurso integral para pagamento à vista e preferir investi-lo, há um ganho de capital entre o rendimento do investimento e a perda do valor do dinheiro “paralisado” na parcela do cartão de crédito, lógica que se aplica melhor a compras de valores mais elevados, diz.

O próprio advogado já comprou uma bicicleta de alto valor agregado, de forma parcelada, e investiu a integralidade do dinheiro, na época, em fundos imobiliários. Renan conta que a ideia deu certo, muito em razão da educação financeira, porque ele só gasta o que o orçamento familiar permite. A dica do consumidor é não gastar mais de 30% do orçamento em compras não essenciais e investir uma parte do salário todo mês. Além disso, ele indica que as pessoas procurem formas de se educar financeiramente por vídeos ou acompanhando especialistas do segmento.

Especialistas pedem cuidado

O economista Valfredo de Farias acha a ideia de parcelar para ganhar da inflação “bacana”, mas não concorda que essa seja a melhor forma de administrar o dinheiro, até porque requer uma boa organização financeira e um bom planejamento. “O que acontece, na maioria das vezes, é que as pessoas que pensam assim acabam se enrolando com o cartão, até porque fazem parcelamentos de várias coisas, o que vira uma bola de neve porque a fatura começa a vir muito pesada e a tendência é se enrolar”, comenta.

Outro agravante do parcelamento, segundo ele, é o longo prazo. Ao fazer uma compra dividida em um ano, o consumidor não tem noção do que vai acontecer na sua vida naquele período: pode ficar desempregado ou ter uma saída de despesas alta para custear algum tratamento de saúde ou emergência familiar. Caso a pessoa não seja muito bem organizada, Valfredo não aconselha a parcelar tudo para ganhar da inflação. Até porque ele avalia que a maior parte da população tem dívidas e despesas e o salário nem sempre cobre tudo isso.

Uma solução recomendada pelo economista e que ele mesmo usa ao comprar no crédito é a seguinte: a cada compra feita no cartão, ele transfere a mesma quantidade de recurso para uma outra conta que não usa, então, no final do mês, se tiver que pagar uma fatura de R$ 1 mil, o dinheiro já está disponível. Dessa forma, não se enrola e ainda ganha pontuação, cashback e milhas como vantagens.

Investimento é desafio

O assessor de investimentos Leonardo Cardoso concorda em partes com Valfredo. Ele acha que, na teoria, a ideia funciona e, a nível de investimentos, com uma taxa básica de juros nesses patamares, é possível garantir uma rentabilidade muito mais interessante investindo do que por meio dos descontos ofertados para algumas compras à vista. Ele indica que, primeiramente, o comprador faça uma análise e se atente para a disciplina que será necessária para gerir esse pagamento parcelado.

“Acredito que pouquíssimas pessoas teriam a disciplina necessária para esse movimento de ter o dinheiro para comprar à vista, mas manter em uma conta o dinheiro separado para que vá rendendo e pagando parcela a parcela. Na atual conjuntura econômica em que vivemos, onde os preços dos produtos e serviços sobem muito rápido, posso afirmar quase com 100% de certeza que apareceriam, no decorrer do caminho das parcelas, outras demandas para aquele dinheiro”, ressalta. Leonardo ainda acredita no consumo consciente e que as pessoas devem, acima de tudo, focar em gerar mais renda, não em pequenas economias que gastam mais energia do que fazem um efeito prático no orçamento. “Claro que é importante se educar financeiramente, mas sempre atento ao que vai fazer uma diferença real”.

No caso do parcelamento citado, de 10 meses, caso o consumidor opte por essa forma de pagamento, precisa conhecer produtos do mercado financeiro que façam valer o esforço para economizar. Leonardo Cardoso diz que existem, hoje, produtos no mercado com bom rendimento para períodos desse tipo. As próprias contas correntes remuneradas são opções, segundo ele, mas o assessor recomenda buscar outras mais seguras, como o Certificado de Depósito Bancário (CDB) de liquidez diária, fundos de renda fixa e até mesmo o Tesouro Selic.

Mas, se a pessoa for desorganizada e não souber administrar esses recursos para pagar as faturas do parcelamento, deve focar em comprar o que puder à vista, para não criar novas contas e pendências que podem atrapalhar o orçamento mensal, alerta o assessor de investimentos.

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