MENU

BUSCA

‘Uma p*ta pode ser mãe e educar’, declara Lourdes Barretos sobre discriminação contra prostitutas

O dia 2 de junho é marcado pelo Dia Internacional da Prostituta. Em entrevista, ao portal O Liberal.com Lourdes buscou quebrar preconceitos da profissão e o que falta a classe das profissionais do sexo conquistar

Amanda Martins

Nesta quinta-feira (2), comemora-se o Dia Internacional da Prostituta, mas a data não é vista como momento de comemorações, e sim, de desafios. Isso porque, a violência e a discriminação são alguns dos obstáculos ainda enfrentados por essas mulheres. Buscando quebrar preconceitos e, por sua vez, desmistificar a palavra “puta”, o OLiberal.com conversou com a ativista Lourdes Barreto, de 80 anos, fundadora da Rede Brasileira de Prostitutas e do Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará (Gempac).

VEJA MAIS

Vida de Lourdes Barreto vira livro
“Puta Autobiografia” é um marco político e cultural que conta e reconta a história da prostituta e ativista, fala de suas memórias de vida e do país.

Trabalhadoras do sexo querem mais debate sobre regularização da profissão
Um projeto de lei, proposto em 2012, está arquivado na Câmara dos Deputados, em Brasília

Mãe-solo de quatro filhos, avó de 10 netos e bisavó de oito bisnetos, Lourdes conseguiu criar e educar toda essa “turma” dedicando-se ao trabalho sexual durante 56 anos. Hoje, já aposentada, ela se sente muito “orgulhosa” pela trajetória que trilhou, sempre buscando não apenas lutar por sua liberdade, mas também  incentivar outras mulheres a se sentirem livres e donas de si.  

"Eu criei meus filhos como uma boa mãe e uma dona de casa. Foram cuidados por pessoas responsáveis quando [eu] saía para trabalhar, colocando-os na escola. Acompanhei todo o processo de educação, por entender que é um dos maiores pilares da vida do ser humano”, disse.

A ativista desabafa, ainda, sobre a dificuldade da sociedade de entender que uma mulher que trabalha com a prostituição pode desempenhar "outras tarefas" e ser uma pessoa normal, com anseios e dificuldades.

“As pessoas não entendem que uma puta pode ser mãe, pode ter os seus filhos, educar... Tenho duas filhas, quatro netas e nenhuma é prostituta. E se fosse não teria nenhum problema. Nunca vi nenhuma diferença  de trabalhar com os meus órgãos sexuais como se eu tivesse trabalhando dando aula, escrevendo. Pra mim, é tudo igual. Só pelo fato da gente trabalhar com o nossos órgãos sexuais nós sofremos tantos estigmas”, acrescentou a ativista.

No Brasil, a prostituição é reconhecida como uma das 600 ocupações profissionais desde 2002. No entanto, ser proprietário ou gerente de local onde se pratica o sexo comercial é crime. Lourdes, que já está na luta política há 50 anos,  enumera a violência e a discriminação, principalmente contra mulheres negras, como um dos maiores desafios ainda enfrentados pelas profissionais do sexo. 

Para ela, a sociedade não possui respeito por essas mulheres. Então, cabe aos coletivos continuar resistindo à "hipocrisia de uma sociedade falsa moralista”. 

“O estigma e o preconceito são muito grandes. É muita discriminação contra nós. Ninguém respeita. É como se nós não existíssemos. Nós existimos, nunca vai acabar a prostituição, é desde o começo do mundo. Mulheres que têm liberdade. O corpo é nosso. Nós fazemos do nosso corpo o que queremos.  É uma luta que não tem fim”, declarou. 

E, claro, a luta não pode parar. Por isso, conheça cinco  perfis de profissionais do sexo que são ativistas para você seguir nas redes sociais e  ficar por dentro da causa:

Monique Prada


Mara Vale


Indianarae Siqueira


Betania Santos


Sammy Larrat


(Estagiária Amanda Martins, sob supervisão do editor executivo de OLiberal.com, Carlos Fellip)

Cultura