Audiência dos 'reality show' cresceu de 50% a 60% durante a pandemia
BBB 21 bateu todos os recordes como o programa mais assistido da série
Ao longo das últimas duas décadas, o Brasil se rendeu aos realities shows e, em tempos de pandemia do novo coronavírus, os produtores comemoram índices recordes de audiência. Os números de audiência do Big Brother Brasil 21, intitulado o ‘Big dos Bigs’, mostram que essa foi uma edição histórica na trajetória do reality. O programa teve a temporada de maior audiência, na média nacional, 51% em nove anos - com 27 pontos de participação, segundo o Painel Nacional de Televisão ( PNT).
De acordo com dados enviados pela TV Globo ao Estadão, a final, que consagrou Juliette Freire como campeã, também foi a de maior audiência em 11 anos. Mas o recorde da temporada no PNT foi registrado no dia 23 de fevereiro, noite em que Karol Conká foi eliminada, com 36 pontos de audiência.
Com a força das redes sociais, é praticamente impossível sair ileso das notícias relacionadas aos programas e muita gente acaba se interessando pelas polêmicas geradas. Por que isso acontece?
"Creio que poder ser atravessado pelas paixões que nos evocam assistir de forma crua o cotidiano dos outros sempre serve de ‘válvula de escape’. O espectador procura torcer, rir, vibrar e chorar com aquilo que se destaca, amplifica e de certa forma "normaliza" as pequenezas que nos são próprias. A migração da TV para a internet é parte do contexto no qual o espectador é costumeiramente mais ativo que os próprios partícipes, vide outros realities como os na Twitch TV e no próprio YouTube", explica Leonardo Goldberg, doutor em Psicologia.
Aquela história de que reality show serve apenas para quem é curioso sobre a vida alheia ou que sente prazer em observar pessoas nas mais diversas situações é coisa do passado. Programas como Big Brother Brasil e A Fazenda, por exemplo, levantam uma série de pautas sociais, como racismo, homofobia e feminismo.
Mas nem sempre foi assim. Nos idos dos anos 2000, quando Silvio Santos trouxe o formato para o Brasil, com o extinto Casa dos Artistas, o símbolo que representou a atração foi uma fechadura.
O dono do SBT decidiu alugar uma casa vizinha à própria residência, no bairro do Morumbi, na zona Sul de São Paulo, e confinar alguns artistas durante meses. O diretor de TV Julio Francfort participou da montagem e da criação da plástica de Casa dos Artistas e acredita que diversos fatores fizeram com que os brasileiros gostassem do estilo.
"O primeiro aspecto vem exatamente do exemplo que o próprio Silvio Santos deu na época da estreia de Casa dos Artistas. A curiosidade milenar das pessoas em ‘olhar pelo vão da fechadura’. A presença de pessoas conhecidas, exatamente para saber como aquele artista ou personalidade pensa e se comporta fora da telinha, fora da sua zona de conforto, conhecer o ser humano por trás daquele cantor ou cantora, humorista, do apresentador e por aí vai, também são atrativos", afirma. Francfort acrescenta que, por mais que muitos não admitam, brigas e discussões cativam o telespectador
Confinar pessoas com personalidades tão distintas, durante muito tempo, com o objetivo de vencer o prêmio oferecido parece uma combinação explosiva. Não é à toa que as produções oferecem atendimento psicológico para qualquer participante que precise, nas 24h.
Formatos
O psicanalista Leonardo Goldberg explica que existem, basicamente, quatro formatos recorrentes de reality shows que cativam o público: os big brothers, os de sobrevivência, de encontros amorosos e de busca de empregos.
"No fundo, poderíamos traduzir como quatro instâncias que nos interessam profundamente: nos fazermos vistos pelos outros, nos mantermos vivos, encontrar um par amoroso e uma realização laboral. Por isso tanto interesse nesse formato de destacamento do cotidiano. Os ‘reality shows’ são frutos da herança estética legada pelo realismo: revelar de forma crua nossa realidade, nossos sensos mais humanos e cotidianos", analisa.
No caso de atrações como No Limite e MasterChef, a disputa é um elemento importante nessa equação. "A competição é o ‘marco zero’ destes programas. No caso de No Limite, nesta edição, temos também o fato de os participantes já serem conhecidos da maioria do público, mesmo que alguns já tenham sido esquecidos com o tempo (todos são ex-‘BBB’s).
Também estamos tratando de um reality de isolamento e não de confinamento, então, tudo acontece fora da ‘caixinha’, do ambiente controlado. O outro fator é entender até onde o ser humano consegue ir em seus limites físicos e mentais.
No caso dos gastronômicos, os especialistas estão ali para fazer algo que o brasileiro adora: julgar os outros. Essa receita com um toque de bom humor, misturado ao tempero de avaliadores carrascos e a torcida pelos competidores, é um ‘prato cheio’ para a audiência", avalia Francfort.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA