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Projeto lança coletânea de autores paraenses e traça perfil dos quadrinhistas afroamazônicos

A publicação 'Zagaia' será lançada neste sábado, 18, de forma on-line, a partir das 19h30, com produções inéditas de 13 artistas selecionados

O Liberal
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Fazer um mapeamento dos quadrinhistas afroamazônicos que atuam na Região Metropolitana de Belém, era um desejo antigo do artista visual, ilustrador e pesquisador, Elton Galdino. Esse foi então o ponto de partida do Projeto Zagaia que lança no próximo sábado (18), de forma on-line, a partir das 19h30, uma coletânea com produções inéditas de 13 artistas selecionados e com o resultado da pesquisa do estudo.

Ao todo, serão 500 exemplares, parte deles distribuídos para bibliotecas e centro comunitários, escolas públicas, entre outros e o restante será dividido entre os artistas para que possam comercializar.

A coletânea traz dez histórias. Cada uma feita por um artista, sendo duas feitas por duplas, totalizando os 13 artistas envolvidos, entre roteiristas e desenhistas. O idealizador do projeto, Elton Galdino, conta que não houve uma definição prévia dos temas a serem abordados nas Histórias em Quadrinhos (HQs).

“Mas muitos artistas acabaram falando de experiências ou de percepções próprias, até mesmo pelas rodas de conversa, que acabaram sendo um espaço de acolhimento e compartilhamento de experiências”, ressalta.

image O quadrinista Elton Galdino é o idealizador do projeto Zagaya (Projeto Zagaya/ Divulgação)

O resultado são narrativas humoradas e outras mais contemplativas e mais subjetivas, assim com uma gama de diferentes estilos de desenho, desde mangás até trabalhos mais densos, em preto e branco chapado. “A ideia era ser diverso mesmo e não ser limitante de qualquer forma”, destaca.

Todos os quadrinhos foram produzidos exclusivamente para o projeto. “Após o mapeamento e seleção dos artistas, realizamos uma semana de rodas de conversa, onde tratamos de temas como representação e representatividade negra nas HQs e identidade e pertencimento negro na Amazônia. Em seguida, cada artista produziu uma única HQ de uma única página”, lembra.

O artista visual destaca que o projeto é um desdobramento de pesquisas anteriores desenvolvidas por ele há alguns anos, relacionadas à produção de quadrinistas paraenses. Resulta ainda de suas próprias percepções sobre a inserção de artistas negros no cenário do quadrinho local.

“É um projeto inédito, no sentido de que é a primeira vez que é feito um mapeamento da produção de quadrinistas negros nestes municípios. Além de servir de base para pesquisas futuras sobre o tema e divulgar a produção de artistas locais, creio que a importância está também no caráter de formação e manutenção de público consumidor de quadrinho nas periferias”, avalia.

image O quadrinho de Helô Rodrigues conta a história da personagem “Morte” que busca o apreço dos seres humanos a qualquer custo (Projeto Zagaia/ Divulgação)

Desde o início do projeto, segundo ele, o objetivo foi expor um mosaico bem amplo de narrativas e procedimentos técnicos. “Evitando, dessa forma, narrativas estereotipadas sobre personagens negros e expor um quadrinho com muitas possibilidades além da história do herói branco, musculoso e fantástico que mora em cidades com realidades muito distintas da nossa”, resume.

O próprio nome do projeto “Zagaia” referência a uma lança africana também incorporada pelos indígenas usadas para caça e para guerra já faz uma analogia a um trabalho feito por negros e índios.

Perfil

Os resultados colhidos a partir da pesquisa feita pelo Projeto Zagaia realizada na Região Metropolitana de Belém por meio do google forms mostra, entre outros dados, que o “Local de Residência” dos quadrinhistas afroamazônicos é a capital paraense (76,1%), enquanto 19,1% deles estão em Ananindeua e 4,8% nos outros municípios.

Sobre a raça, o levantamento mostra que 66,7% deles são pretos e 33,3% pardos. Mas para o idealizador do projeto, os resultados mais consistentes estão para além dos percentuais. “Resumidamente é importante citar três dados. O primeiro é que embora se fale muito da produção de artistas homens, existem muitas mulheres negras atuantes no mercado local de HQ”, enfatiza Elton.

Além disso, a maioria dos artistas tem renda familiar acima de dois salários mínimos. “Isso nos mostra que ainda precisamos romper muitas barreiras em termos de educação, formação artística e de público, por isso a necessidade de um projeto que se disponha a levar publicações de forma gratuita para a comunidade”, cita.

A terceira conclusão, de acordo com o pesquisador é que embora existam muitos artistas negros trabalhando com quadrinho na região, a maioria ainda é de homens, héteros e cisgêneros. “Lembrando que esses dados são referentes a pesquisa feita só entre quadrinistas autodeclarados negros nos municípios de Belém e Ananindeua”, diz ressaltando que os participantes do projeto têm entre 15 e 30 anos.

Os perfis mostrados pela pesquisa não são novidades para Elton, que tem uma atuação intensa nessa área, onde desenvolve um trabalho como educador, artistas e pesquisador de quadrinhos.

No caso dos artistas participantes da coletânea, ele destaca que “alguns já tem uma produção bem consolidada, mas tem gente que está fazendo quadrinhos pela primeira vez. São ilustradores e artistas visuais que convidei sabendo que tinham um mundo a ser explorado nas HQs. E parece que deu muito certo. Na produção específica para esta coletânea, as rodas de conversa serviram de mola propulsora e depois fui acompanhando o processo de feitura das Hqs de cada um, interferindo somente em questões mais técnicas, específicas do formato do projeto ou do público em questão”, diz.

Participantes

A quadrinista Helô Rodrigues, de 23 anos, é uma das artistas que fazem parte do projeto. Ela iniciou nas HQs há cerca de três anos, no Coletivo Paraense Açaí Pesado, onde teve sua primeira história publicada juntamente com o parceiro e marido Ítalo Rodrigues. O quadrinho conta a história da personagem “Morte” que busca o apreço dos seres humanos a qualquer custo.

“Gosto de desenhar tirinhas para as redes sociais, levando um toque de humor e sempre tendo como personagem principal uma mulher negra”, conta ela que teve seu primeiro contato com essa arte aos cinco anos, por meio das revistinhas da Turma da Mônica, Mickey, Luluzinha e Mafalda.

Helô define seu estilo como voltado para o “humor e a representatividade feminina”. “Já consegui trabalhos inesquecíveis por conta do meu estilo com empresas grandes como Telecine, Red Bull, Sorriso, GNT e entre outras. Ainda estou planejando para o futuro lançar uma revista independente, vai ser minha primeira. Meu trabalho de maior destaque até agora são os quadrinhos que estão no Açaí Pesado 1 e 2 e agora para o Projeto Zagaia”, diz.

Para ela, a importância do projeto é justamente dar visibilidade para uma comunidade artística grande, mas ainda pouco conhecida. “São tantos artistas negros que admiro e que são incríveis no que fazem, mas que têm seus trabalhos reconhecidos devidamente. Essa iniciativa é para gritar para o povo que estamos aqui, que somos espetaculares no que fazemos”, resume a quadrinhista que costuma divulgar seus trabalhos principalmente pelas redes sociais.

Fernanda Monteiro, 21 anos, é outra quadrinista do projeto. Ela faz tirinhas desde 2017. “Mas o Zagaia foi a minha primeira oportunidade de construir algo mais completo seguindo essa narrativa de quadrinhos, mesmo que seja um material de uma página.

A artista começou fazendo algumas tirinhas rápidas sobre temas cotidianos e afirma ter um estilo mais instantâneo que possa transmitir de imediato sua intensão. “Gosto de fazer coisas mais rápidas e que transmitam a sensação que tive naquela cena representada. Acredito que os trabalhos que faço são mais inspirados em sentimentos pessoais”, define.

Estar no projeto para ela tem uma importância bem particular. “Ele ajuda no seu próprio reconhecimento enquanto artista. No meu caso, por exemplo, antes achava que não era capaz de produzir quadrinhos. Fui convidada e incentivada pelo organizador do projeto a participar e o resultado está aí”, comemora ela que divulga suas tirinhas pelo Instagram.

O projeto foi selecionado pelo Edital de Artes Visuais - Lei Aldir Blanc Pará 2020 e conta ainda com a participação dos artistas: Alan Furtado, Mandy Barros, Bruno Pedroso, Gyselle Kolwalsk, Italo Rodrigues, PV Dias, Rodrigo Leão, Woylle Duarte & Victor Duarte e Yan di Maria & Lira.

Agende-se:

Lançamento da Coleção Zagaia
Data: 
Dia 18, live a partir das 19h30
No Google Meet, com participação de todos os artistas envolvidos na coletânea

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