Sumano passeia pelas fases da tempestade em 'Filho do Vento'; ouça

Rapper do interior de Igarapé-Miri lança álbum curto nesta sexta-feira, 23, rimando força preta e camponesa

Lucas Costa
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Entre o rio e os campos de terra de futebol, Sumano viu na Vila Menino Deus do Anapu, interior de Igarapé-Miri, características, em tese, de cidade grande em paradoxo: a criminalidade, o tráfico e o racismo, bem como a produção de arte, conhecimento e cultura. Esta vivência é o que o rapper apresenta no álbum curto “Filho do Veto”, que chega às plataformas de música nesta sexta-feira (22).

Sumano teve seus primeiros singles lançados em 2020, as faixas “Tudo Ladrão” e “Novo Sol”. Ele considera “Filho do Vento” um marco, já que fica entre os primeiros singles, e um novo álbum, que já prepara para o ano que vem.

“Quis fazer algo mais amplo possível, não só eu, porque fomos três mentes: eu, Jeremias, e Giovane Araújo. Nós três pensando pensamos juntos a questão do nome, o título, a identidade visual; e foi muito prazeroso, porque eu estava fazendo isso com pessoas que eu já caminho há muito tempo. Pensar nas letras não foi tão difícil também, porque eram coisas que eu já queria dizer há muito tempo, então as coisas foram acontecendo”, conta Sumano.

Filho do Vento tem um lado que pode se chamar de ventania: é brisa em faixas como “Vôo”, em que há um diálogo descontraído entre as crianças da Vila Menino Deus e Sumano; também se mostra tempestade nas letras incisivas de combate às condições derivadas de um sistema social excludente, que impedem muitos Sumanos de sonhar.

O álbum ainda sobrevoa outros territórios, fazendo conexão com a cidade de Castanhal e o bairro do Guamá, da capital paraense. Uma das faixas traz as participações de Kratos, rapper da Baixada do Milagre - periferia de Castanhal; e Daniel ADR, rapper da periferia belenense. Os três artistas pretos dividiram a faixa “Frio”, que combina um beat calmo com rimas que trazem o orgulho de contrariar a estatística brasileira que violenta homens negros.

“Filho do Vento” traz a narrativa de um menino empinando pipa, que em meio aos preconceitos e o descaso do poder público, representa a válvula de escape de Sumano.

Representando o interior do estado em um movimento do rap paraense que vem crescendo nos últimos anos, Sumano fala sobre a dualidade dessa representatividade, e destaca a vontade de quebrar cada vez mais barreiras.

“Ser um rapper do interior é um paradoxo na minha vida, porque ao mesmo tempo que a questão da representatividade me dá a possibilidade de inspirar pessoas que têm a mesma origem que eu, de encorajar essas pessoas; ao mesmo tempo que isso acontece, eu percebo também que tem muitos artistas bons no interior e que não tem muito espaço. Por um lado é bom ser referência, mas por outro lado não é bom ser a única referência, ou uma das poucas”, diz Sumano.

O artista fala ainda sobre a necessidade em sair da “caixinha” sendo um rapper do interior, desfazendo ideias de que há discursos limitados a artistas que estão fora da região metropolitana de Belém.

“As pessoas acham que a gente tem que ser algo apenas, ser preso numa caixinha, falar sobre temas específicos, como se eu tivesse destinado a ser um rapper no interior. Dizem: ‘ah é um rapper do interior, mas ele está falando de dinheiro, de tênis, de roupa de marca, falando de bebida, então não é mais do interior’. Acho que tem esse estereótipo de por as pessoas serem do interior, tem que falar de farinha, de açaí, de carimbó; eu penso diferente”, defende.

 

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