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Museu do Marajó conta as histórias de ribeirinhos, dos vaqueiros e tudo sobre o povo da região

É um museu que integra, interage e conta as diferentes formas de vida de quem mora na ilha do Marajó

Bruna Lima
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O Museu do Marajó é um espaço ímpar. Ele foi criado pelo padre italiano Giovanni Galo para as pessoas que têm olhos nas pontas dos dedos. Ele mesmo falava isso. O italiano percebeu que a hospitalidade do paraense está no contato entre as pessoas, no ato de tocar, na curiosidade. 

É um museu que integra, interage e conta as diferentes formas de vida de quem mora na ilha do Marajó. Conta a história do ribeirinho, do vaqueiro marajoara, da religiosidade, das superstições e entre outros traços marcantes do povo marajoara. O acervo foi construído há mais de 40 anos de maneira cumulativa, que começou em Santa Cruz do Arari e foi transferido para Cachoeira do Arari. 

Ao longo dos anos, tanto o padre como a comunidade foram construindo a história do museu com peças de arqueologia, peças religiosas, peças criadas e até comparadas a brinquedos. 

Mas quem foi a Cachoeira do Arari há dois anos, e retornar agora, e andar pela Travessa Major Emiliano Santos vai perceber uma geografia diferente. A peça principal da pista está totalmente modificada com uma arquitetura contemporânea.  Um prédio alto, com uma estética moderna e mistura de material que envolve concreto, vidraças e ferros.

Ao entrar no museu a primeira coisa que o visitante vai encontrar é computador caipira, uma peça lúdica criada por Giovanni Galo. A partir desta peça, o visitante vai poder mergulhar em um universo que reflete todo o cosmo da cultura marajoara, que envolve a cultura ribeirinha, a cultura do vaqueiro, as causas naturalistas, a zoologia, as crenças.

Padre Giovanni Gallo arrumava os objetos de forma orgânica com mais de 1600 peças no acervo. Armando Sobral, diretor do Centro Integrado de Museu e responsável pela curadoria, explicou que foi um desafio dar início ao trabalho de entrelaçar os temas que envolvem os acessórios do museu.

"Nos deparamos com uma tipologia diversificada que incorpora elementos de interatividade em um tempo em que ainda nem se falava isso nos museus e ele já tinha essa ideia. Ele percebeu que as pessoas no Brasil gostam de tocar nas coisas. Por isso, ele criou os computadores caipiras de forma lúdica. Além de suas criações, ele ainda contava com a participação da comunidade com a doação de peças arqueológicas", explica Sobral.

Comunidade essa diretamente ativa com as causas do espaço. Otaci Gemaque, presidente da Associação do Museu do Marajó, é um destes personagens que atuam até hoje. Ele diz que são 37 anos de envolvimento com o museu. Entre tantos objetos expostos no museu, foi seu Otaci que fez.

“Eu ajudei o padre Gallo a montar esse espeço. Digo que quase 90% das peças foram projetadas por ele e feitas por mim”, afirma Otaci.

A relação de Otaci com padre Gallo era de praticamente 24 horas de convívio diário. Passava o dia na casa do sacerdote trabalhando com as peças. O sonho do padre era revitalizar todo o espaço. “Ele dizia: meu filho, enquanto Gallo for vivo o museu não morre. Mas quando eu morrer não sei o que vai acontecer. Era tudo o que ele tinha na vida”, recorda Otaci

Mas no dia 14 de dezembro de 2018 o museu “morreu”. Precisou acontecer o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, para o promotor de Justiça do Município, solicitar uma vistoria no museu do Marajó. E Maria José Gomes, amiga do padre e integrante da Associação do Museu do Marajó, disse que em uma situação ruim e triste sempre tem uma oportunidade escondida.

“Os bombeiros fizeram a visita técnica e constataram que o museu não tinha condições de permanecer em funcionamento. O promotor nos ajudou bastante, ele pediu audiência pública com o governador do estado e foi nesse processo que conseguimos a revitalização”, comemora Maria José.

Vizinha do museu, pois Maria José mora na frente do espaço, disse que está feliz com o resultado, mas ela não esconde que teve um certo impacto ao se deparar com o novo museu. “A gente que cresceu vendo ele manter as tradições sentimos um impacto, não vou mentir. Mas a gente sabe que precisa melhorar. Então aceitamos, pois a ideia dele continua lá dentro, a pesquisa dele continua e o túmulo também. A arquitetura mudou, mas a história continua sendo a mesma”, destaca Maria José.

O museu e o Gallo

Giovanni Gallo chegou no Marajó na década de 70, primeiro em Santa Cruz do Arari, depois em Cachoeira do Arari. Em Santa Cruz ele começou a acumular os objetos, mas foi em Cachoeira que ele transformou a própria casa em um atrativo de educação, lazer e conhecimento. O local recebia a comunidade e turistas.

Em 2003, o padre faleceu e a comunidade deu continuidade com o trabalho e sonho do sacerdote. Após a audiência pública, o governo do estado determinou o início das obras, que iniciaram em 2020 e o projeto foi entregue na última quinta-feira (3).

A partir de agora o povo marajoara começa um novo capítulo da história cultural da região.

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