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Luthier de Belém fabrica violões e cavaquinhos para artistas renomados do Brasil

Márcio Luthier já construiu instrumentos para Paulinho da Viola, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Dominguinhos da Estágio e Sombrinha

Vito Gemaque
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As mãos de Márcio Corrêa talham a madeira transformando-a em fina arte. Os troncos de madeira aos poucos dão formas a violões, cavaquinhos, bandolins e banjos. A arte do luthier – profissão de Márcio – é tão sensível como aqueles para os quais ele esculpe a madeira, os músicos que irão tocar seus instrumentos. Conhecido como Márcio Luthier, o belenense de 48 anos é pai de instrumentos que já foram utilizados por grandes nomes do samba como Paulinho da Viola, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Nilza Carvalho, Sombrinha do Fundo de Quintal, Dominguinhos da Estácio e Sebastião Tapajós.

Esse é um destino diferente daquele que Márcio imaginava. Como inúmeros jovens ele sonhou em dedilhar e retirar sons para chorinhos e sambas, mas as trilhas da vida levaram-lhe para outro rumo. Os pais de Márcio não tinham condições para comprar um instrumento. A dificuldade lhe levou a fabricar o próprio cavaquinho.

“Quando comecei nunca foi com esse intuito. Comecei a tocar cavaquinho. Toquei com uma galera da velha guarda do samba na beira do rio. Tinham umas serestas lá no antigo Iate Clube. O Vaico, que era professor do Carlos Gomes, disse que ia me ensinar gratuitamente. Eu peguei emprestado um instrumento, mas depois pediram para devolver. Eu pedi o cavaquinho do Vaico desenhei num papel e ficava olhando por dentro. E construí o meu primeiro cavaquinho, sem saber nada. Só com a curiosidade”, relembra.

Após passar alguns anos em São Paulo onde melhorou as técnicas de reparo e criação de instrumentos voltou para a capital paraense. O autodidata não imaginava que seria tão requisitado. Alguns encomendam as peças para serem entregues em outros Estados ou países como Estados Unidos, Suíça e Holanda. Os instrumentos viajaram também para tours internacionais.

Hoje a oficina onde trabalha funciona no térreo da sua residência. O cheiro de madeira é o anfitrião do espaço localizado na rua Boaventura da Silva, nº 1897, entre 3 de maio e 14 de abril, no bairro do Reduto.

O trabalho de um luthier envolve habilidades técnicas e artísticas, combinando conhecimentos de marcenaria, acústica, design e música. O termo 'luthier' tem origem francesa usado para se referir aos construtores do antigo instrumento chamado alaúde (conhecido como lute em francês). O detalhismo e o cuidado devem ser precisos para que os instrumentos obedeçam a ciência das escalas e da afinação.

Márcio Luthier

Márcio produz instrumentos todos os dias. O trabalho começa às 7h45 e segue até às 23h20. Quando um novo cliente entra na oficina o estudo começa imediatamente. O artesão busca detalhes do tamanho dos braços do cliente, da pegada e do estilo musical que o cliente toca. É assim que consegue ofertar um instrumento sob medida para cada pessoa. Em média, a produção dura aproximadamente 30 dias.

“O instrumento é a extensão do corpo da gente. Você precisa tocar sem estar brigando para fazer um acordo, se tu me encomendas um instrumento tudo interfere. A pessoa chega aqui e diz ‘Márcio eu quero instrumento de jacaranda’, porque ele tem um sonho de ter violão assim. Eu vou fazer do jeito que pediu”, revela.

Por causa desse esmero, Márcio desconsidera a concorrência dos instrumentos industriais baratos importados da China e de outros países asiáticos. “A indústria faz instrumentos em série, não tem inúmeros cuidados, além da matéria-prima que é diferente. Eles fazem um instrumento médio que dê para todo mundo. Só compra instrumento de indústria quem está começando. E quando a pessoa aprende compra de um luthier. Um instrumentista não usa um instrumento daqueles”, comenta.

A diferença se traduz também no preço. Os “instrumentos industriais” têm preços bem inferiores, porém a qualidade de um violão ou cavaquinho do luthier belenense é díspar dos industriais. Enquanto um cavaquinho pela internet custa a média de R$ 300, um instrumento de Márcio Luthier parte de R$ 2.600.

Os violões nas lojas de Belém estão a partir de R$ 500; com Márcio variam de R$ 4.900 até R$ 7.000. Por reconhecer o alto investimento, ele não faz diferenciação entre um instrumento feito para quem está aprendendo para um músico internacionalmente conhecido. “Eu faço o meu melhor sempre”, assegura.

Um dos clientes frequentes era Dominguinhos de Estácio. O sambista vinha todo ano em Belém para o Alto do Círio e levava um estoque de cavaquinhos. “Ele gostou muito de um banjo que viu no Alto [do Círio]. Perguntou onde o músico tinha comprado, que falou e no outro dia veio bater aqui. Ele vendia na Viradouro. Comprava 10 a 12 cavaquinhos e levava para o Rio de Janeiro”, relembra.

Os instrumentos de Márcio Luthier estão pelo mundo. Eles fazem com o que o profissional esteja no Carnaval em Belém e do Rio de Janeiro sem sair de casa. “É um pedacinho de mim quando vai ali, de muita dedicação e entrega e poeira. É muito gratificante mesmo. Tenho vários instrumentos no Carnaval. Onde tem um instrumento meu, eu estou presente”.

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