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"Help", a vendedora de bombons e colecionadora de histórias

Quem transita pela noite de Belém já deve ter cruzado, comprado bombons ou até chorado as mágoas no ombro de Leila do Socorro da Silva, 58

Bruna Lima
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Alguns a chamam de "Help", outros de Madá, outros de Cássia Eller e tem os que lhe chamam pelo prenome Socorro. Quem transita pela noite de Belém já deve ter cruzado, comprado bombons, cigarros a retalho ou até chorado as mágoas no ombro de Leila do Socorro da Silva, 58, que é mais uma entrevistada da série "Personagens da noite", de O Liberal.

Socorro percorre as baladas da noite de Belém vendendo bombons há 30 anos. Ela já passou por diferentes gerações. Hoje em dia, seus principais pontos são Empório, Seu Pai, Vitrine e as festas nos bairros do Umarizal e Reduto. Mas ela sempre está nos locais onde ocorrem os grandes shows na cidade, pois ela diz que é venda garantida.

Foi a venda de bombons que deu condições para Socorro criar os quatro filhos. Antes de entrar no ramo, ela já trabalhava como ambulante, mas era em um ponto parado na Presidente Vargas. Com a retirada dos ambulantes da via e após o remanejamento para o buraco da Palmeira, Socorro precisou ir em busca de um outro meio para ganhar dinheiro.

"Nessa história de mudança, acabou que tive meu material todo roubado, pois eu vendia importados. E foi um caos porque perdi muito dinheiro. Fiquei desesperada, mas nunca quis trabalhar como empregada, pois não gosto de ser mandada. Se for ver minha carteira de trabalho, é limpa", comenta Socorro aos risos.

Em meio a essa fase complicada da vida, ela já tinha contato com alguns vendedores de bombons: o Ceará, o Cueca, a Antônia e a Graça e foi neles que ela se inspirou para montar a primeira banca, de madeira angelim pedra. "Quando eu comecei, eu ia para a frente do antigo African Bar, para o Miralha, a Zepeling Club, a boate Signos e várias outras", recorda a Help.

Durante essa jornada, Socorro vem colecionando histórias e amigos. O apelido de Cássia Eller surgiu após cortar o cabelo bem curto depois de passar por um assalto traumático. "Eu tinha cabelo longo, mas em uma das voltas para casa de madrugada, fui abordada por três moleques. Eles me abordaram para levar minha venda e meu dinheiro, mas eu reagi. Eu rodava com a banca de madeira e dava neles, eles puxavam meu cabelo, me espancaram muito. Quem me ajudou foi um motorista do UFPA Pedreira, ele me levou ao Pronto-Socorro do Guamá", recorda a ambulante.

Atualmente, a "Help" usa uma banca de alumínio que lhe dá mais possibilidade de transitar pelos seus locais de venda. Ela trabalha de terça a domingo e sempre circula aproximadamente por três locais na noite.  Ela diz que já está acostumada com essa rotina e não consegue se imaginar fazendo algo diferente.

"É tanta coisa que acontece nessa banca aqui. Eu escuto muita história e vejo muita coisa também. É mulher flagrando o marido com a outra, é gente que se encosta aqui e começa a lamentar o término de namoro e também sobre outras questões da vida. Eu tento aconselhar, sabe", diz Socorro.

Mãe de quatro filhos, três mulheres e um homem, nunca quis que eles seguissem os seus passos. "Eu sempre mostrei a realidade para todos, essa vida não é fácil e sempre incentivei que eles estudassem", completa. Ela conseguiu formar uma filha em Administração, outra em Turismo e a terceira trabalha em uma empresa de plano de saúde. O filho morreu há seis anos. Socorro não disse a causa da morte, apenas chorou ao lembrar do filho. "Ele morreu no dia das mães, esse ano completou seis anos. Foi muito difícil. Penso nele sempre", se emocionou. 

Foi no período de pandemia que Socorro confirmou que tem muitos amigos, e apesar de ser uma mulher de não gostar de pedir nada a ninguém, ela disse que recebia com frequência ligação de amigos para avisar que estavam enviando pix. 

"Muitos amigos e minhas filhas me deram suporte, foi um momento bem difícil, mas não fiquei desamparada. Tudo isso porque a gente vai conversando, criando laços com as pessoas. Mas para trabalhar na noite, é preciso saber lidar com muita coisa e saber se relacionar", observa.

Moradora do Marex, Socorro diz que é feliz e que acabou absorvendo a boemia, pois tem dias que quase não tem lucro, mas a satisfação maior é de encontrar pessoas, conversar e ver vida sob um olhar mais festivo.

"A noite ela proporciona isso, os locais que eu frequento tem música, pessoas e todo esse movimento gera uma energia legal. Tem dias que não vendo quase nada e está ótimo", reforça, Help.

Além de psicóloga, Socorro conhece bem o perfil das festas, os artistas e tem as melhores dicas para quem quer curtir a noite de Belém.

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