Drag, o quê? Da TV aos streamings, como a arte e os artistas marcaram o Brasil

Shinohara e Allyster são casados e unem as suas narrativas para também, por meio do audiovisual, dar suporte a outras Drags

Ellen Moon D'arc
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Drag Queens e performers sempre estiveram presentes nas artes, no teatro, cinema e na TV. Mais recentemente, nos streamings, estão ganhando força dentro e fora do país. Quem cresceu com a TV aberta conheceu nomes como o do ator, comediante, dançarino e Drag Queen brasileiro Jorge Lafond, falecido há 20 anos e eternizado pela personagem "Vera Verão"; assim como da apresentadora e atriz Elke Maravilha, que faleceu em 2016. Ou de artistas, que estão na ativa, como a atriz, humorista e cantora Nany People e Eloi Iglesias, cantor, compositor e performer.

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Allyster Fagundes é artista visual e performa a Drag "Allyster". Começou a pesquisar na graduação o movimento NoiteSuja e produziu um documentário, que oficialmente é o primeiro registro do movimento das Themonhas. Este foi o primeiro contato com a linguagem Drag e na defesa do seu TCC, sua primeira montação. "Eu estava documentando a origem de um movimento, que é o NoiteSuja, de onde derivam as Themonhas. Depois dessa primeira pesquisa eu senti necessidade de ir pro mestrado, que culminou em uma série de vídeos e numa exposição. Umas obras em látex, e se chama 'Reverbero'. Eu sou uma Drag que me aproprio muito da linguagem audiovisual para construir minhas próprias narrativas", disse.

O artista acredita que os realities internacionais são importantes, mas o recorte local se torna ainda mais relevante, pois a identificação e representatividade importam. "Eu acho que os realities shows foram muito importantes, é quando o mundo volta a olhar a arte Drag e vemos artistas Drags adentrando outros campos da arte, música, audiovisual. Isso é importante para fazer surgir novas gerações de artistas. O NoiteSuja - e as Themonhas - é um movimento que subverte a leitura padrão e mostra que não devemos nos prender a padrões, é arte', arguiu.

"Importante destacares estes artistas [disse se referindo a Jorge Lafond, Elke Maravilha e Eloi Iglesias]. Jorge Lafond surgiu na mídia quando não se falava de negritude e nem das questões das pessoas LGBTQIAP+. Ele é uma figura política. Elke Maravilha, esse corpo performático feminino, quando não se falava de mulher fazendo Drag despertou questionamentos sobre mulheres fazendo Drag e comentários de pessoas influentes, como Rupaul’s, que por algum tempo não validou a participação de mulheres trans e cis. E o Elói, que é uma figura muito emblemática da nossa região, importantíssima para a nossa cidade’, finalizou analisando a importância destes artistas e seus protagonismos na TV averta.

image " Quando entrei na faculdade meu pensamento foi mudando, mas foi com esse contato com a arte drag que eu realmente entendi que ser afeminado é lindo, que eu sou lindo, que meus gestos são poderosos e eu não precisava mais esconder de ninguém", disse Shinohara. (Reprodução / Allyster Fagundes)

O criador audiovisual Edielson Shinohara, quando está in Drag é “Shayna Ladiv”. Sua primeira experiência com a arte foi em 2016, na oficina da artista Monique Malcher, que na época também era a Cílios de Nazaré, uma das primeiras mulheres Drags de Belém. "Eu sempre fui um cara afeminado, fui uma 'criança viada' e sofri muito preconceito e homofobia na rua, na escola e dentro de casa também,. Então desde muito novo fui me 'endurecendo', me policiando pra não fazer gestos afeminados e tentando falar mais forte, grosso, pra passar despercebido. Quando entrei na faculdade meu pensamento foi mudando, mas foi com esse contato com a arte drag que eu realmente entendi que ser afeminado é lindo, que eu sou lindo, que meus gestos são poderosos e eu não precisava mais esconder de ninguém", completou.

Para ele, fazer Drag aliado ao audiovisual se fortaleceu em 2017, quando criou o "Manas Kill", um curta de ficção, que conta a história de uma mulher trans e seu melhor amigo. "Uma drag queen, que é super destemida e cheia de atitude, características que também fazem parte de mim, quando estou in drag. Esse filme fez muito sucesso na época, chegamos a ser exibidos e premiamos em festivais no Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e aqui, em alguns festivais e mostras no Pará. Ele também está em exibição na Tv Cultura e no Canal educativo do Pará", relembrou.

image Shinohara e Allyster são casados e unem as suas narrativas para também, por meio do audiovisual, dar suporte a outras Drags. (Reprodução / Vinícius Lima)

Shinohara e Allyster são casados e unem as suas narrativas para também, por meio do audiovisual, dar suporte a outras Drags. "Sou casado com o Allyster Fagundes que também é artista drag, assessoro a carreira da Tiffany Boo, que é uma cantora drag, e estou o tempo todo trocando experiências e aprimorando nossa arte juntos. Muitos trabalhos que já desenvolvemos trazem essa perspectiva de corpos themonizados, mas que ocupam lugares de poder, e de fato é um reflexo dos nossos processos pessoais. Nossas criações são pensadas para que todes que tiveram ou tenham a mesma vivência que a gente, se identifique e entenda que tudo é possível, que somos fortes e podemos vencer na vida", finalizou.

image “Rupaul's Drag Race” é considerado o reality mais famoso do mundo e desde 2009, ano de sua estreia, outros programas foram surgindo em formatos similares. Hoje há a edição do Estados Unidos que está com 15 temporadas, que conta também com o “All Star”. (Reprodução / Divulgação)

Drag show!

“Rupaul's Drag Race” é considerado o reality mais famoso do mundo e desde 2009, ano de sua estreia, outros programas foram surgindo em formatos similares. Hoje há a edição do Estados Unidos que está com 15 temporadas, que conta também com o “All Star”. O programa original e já tem versões no Reino Unido (4 temporadas), Itália (2 temporadas), Canadá (3 temporadas), Oceania (2 temporadas), além de já ter as edições de Rupaul's Drag Race na Espanha, França e Filipinas, todas com uma temporada. Há outros programas sob as “bençãos” de Rupaul Charles, como o “Queen of the Universe”. Há ainda o “Rupual's Drag Race Secret Celebrity”, que está em sua terceira edição.

No Brasil, mais recentemente foi gravado o reality "Caravana das Drags", com locação em Belém e o reality "Dinastia Drag", lançado pelo coletivo paraense NoiteSuja e disponível no Youtube. Mas, antes disso, outros realities brasileiros fizeram sucesso, tais como “Drag Me as a Queen” o, primeiro reality Drag brasileiro, com estreia em 2017; "Nasce uma Rainha", de 2020 e "Queen Stars Brasil", em 2022.

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