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Cineastas paraenses falam sobre o formato de série ‘true crime’

A técnica de misturar fatos reais e ficção divide opiniões no setor audiovisual

Thainá Dias

O gênero “true crime” está crescendo e se popularizando cada vez mais entre as plataformas de streaming. O termo, que significa “crime de verdade” tem o intuito de trazer casos verdadeiros, expor os detalhes dos crimes e o passo a passo das investigações. Esse estilo de não-ficção atrai fãs, com suas diferentes abordagens de crimes hediondos, acidentes e tramas complexas. Os cineastas paraenses, Jorane Castro e Felipe Cortez e o editor de vídeo Fernando Magno falam sobre a técnica e seus pontos de vista sobre o que ela pode causar na sociedade. O modelo audiovisual divide opiniões.

“As empresas de streaming estão financiando cada vez mais o gênero.  A história é contada através da reconstituição de cena”, define a diretora Jorane Castro. Para ela, trata-se de uma linguagem muito específica que mistura ficção e realidade, e exemplifica sua opinião com a série “Todo dia a mesma noite”, baseada no livro homônimo, de Daniela Arbex. “Legalmente, por exemplo, como vimos no caso da tragédia da Boate Kiss, a Netflix tem o direito de adaptar um fato público para uma série. Porém, é preciso irmos além de uma questão financeira, de lucratividade”.

Enquanto cineasta, Jorane acha “inadmissível projetos que vão dar visibilidade para crimes”. “O caso do filme da Suzane Von Richthofen e de outros crimes é pesado. Mas o sucesso do formato é grande. Como a sociedade se interessa tanto por situações indefensáveis? Eu tenho muita resistência para esse formato e para a importância deles na mídia”, confessa.
O diretor Felipe Cortez, por outro lado, vê no gênero uma oportunidade de que fatos públicos sejam debatidos de forma ampla, a partir das interpretações dos produtores das séries, diretores e roteiristas.

“Eu gosto bastante desse gênero. Não deixa de ser uma interpretação e uma representação desses fatos. O fato de ser um produto ficcional baseado em fatos reais não impede que seja uma interpretação dos fatos reais, o que dá ‘pano pra manga’ para várias possibilidades, vários olhares para o real dentro da obra”, analisa. “Como entretenimento e como proposição de novos olhares de fatos reais, acho que pode ser interessante, mas acho que ele precisa ser feito com muita responsabilidade”, completa Felipe Cortez.

Fatos reais do Pará

Sobre fatos ocorridos no Pará que poderiam ser trabalhados pelo modelo audiovisual, o diretor recorda de crimes que mobilizaram a “emoção pública, o nosso sentimento”. “Por exemplo, o caso do Monstro da Ceasa, aquele assassino que matou crianças e jovens. Aquilo pode ser repensado de uma forma que seja entretenimento, mas que nos faço olhar para os fatos. O problema desse gênero é quando somente explora a dor do outro, mas também pode ser feito estimulando novas visões”, reitera.

Jorane Castro cita os assassinatos do político e advogado Paulo Fonteles, da ativista irmã Dorothy Stang e do líder político Chico Mendes como exemplos de acontecimentos que poderiam ser recontados pelo gênero. “Eu penso que se é para manter esse formato, que a gente possa fugir das questões de psicopatia e trazer questões importantes que possam fazer diferença no mundo”, conclui a cineasta.

O editor de vídeo, Fernando Magno, consumidor desse formato de série, pondera que muitas vezes assistir cenas reais e chocantes causa ansiedade. “É engraçado porque ao mesmo tempo que me prende na tela da TV, me causa um mal-estar. Eu me coloco no lugar daquelas pessoas envolvidas. Mas acredito que precisa ser falado”, afirma.
Para saber mais sobre os casos do Monstro da Ceasa e do assassinato de Paulo Fonteles, mencionados por Felipe Cortez e Jorane Castro, é possível assistir os episódios da web série Somente a Verdade, do portal O Liberal.com, no link

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