Atriz paraense compartilha sua trajetória e emoção ao integrar o elenco do filme 'Ainda Estou Aqui'
Angela Ribeiro traz à tela a figura de Manuela Carneiro da Cunha, destacando a luta pelos direitos indígenas no Brasil
O filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio de Melhor Filme de Língua Não-Inglesa no Globo de Ouro 2025, anunciado nesta semana. A última vez que o Brasil foi indicado nesta categoria foi há 20 anos, com o filme "Diário de Motocicleta", também dirigido por Salles. No entanto, o que pouca gente sabe é que o elenco conta também com duas atrizes paraenses: Maeve Jinkings e Angela Ribeiro.
Jinkings, conhecida pela sua atuação nas séries “DNA do Crime”, da Netflix, e em ‘Os Outros’, da Globoplay, interpretou uma livreira subversiva no período da ditadura militar, um papel que, segundo ela, a tocou profundamente. Ribeiro, por sua vez, dá vida a Manuela Carneiro da Cunha, uma professora e antropóloga que se torna uma aliada importante de Eunice Paiva (Fernanda Torres) na luta pelos direitos indígenas.
Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, Angela revelou que o convite para interpretar a antropóloga surgiu em 2023. A atriz paraense contou que recebeu a proposta por um aplicativo de troca de mensagens da assistente de elenco, dizendo que pensavam nela para o papel. "Eu, quase imediatamente, respondi que ‘sim’. Não consegui conter minha alegria em ter a possibilidade de trabalhar com pessoas que tanto admiro", disse.
A atriz destacou a relevância de ser uma mulher paraense no cenário artístico nacional. "Ser uma mulher amazônida por muito tempo nos colocava num lugar muito distante dentro do audiovisual. Especialmente porque eu, em um primeiro momento, não represento o biótipo dos que as pessoas esperam de uma mulher no Norte", explicou.
No entanto, ela diz ver essa experiência como uma oportunidade de abrir portas e revelar novas possibilidades para outros artistas da região. "Ocupar este lugar no mundo tem uma relevância importantíssima porque também volta os olhares para os nossos, revela novas possibilidades”, acrescentou.
PREPARAÇÃO
Logo no começo, a atriz contou que recebeu uma cena para teste, tendo que improvisar a partir de um dia vivido pela personagem, sem muitas pistas, devido ao sigilo do filme.
"Fui pesquisar sobre a Manuela e a Eunice, e descobri que elas eram muito amigas, davam aula juntas e fizeram muito pelos direitos indígenas, principalmente na constituição de 88. Depois, eu escrevi um texto e fiz o vídeo, com sotaque, porque Manuela nasceu em Cascais e, mesmo vindo para o Brasil aos 11 anos, ainda mantém o sotaque", relembrou.
Angela disse ter se dedicado intensamente à preparação, assistindo palestras e lendo artigos sobre o trabalho de Manuela, que incluía idas e voltas ao Rio de Janeiro para ensaios, provas de figurino e fotografia, até o dia das gravações.
Em um desses encontros para discutir a cena, Ribeiro teve a oportunidade de conhecer Fernanda Torres. A paraense destacou a generosidade e inteligência da atriz. "Ela disse que tinha ido até a casa da Manuela para conversar sobre tudo. E que a admirava muito", lembrou a paraense.
Durante as gravações, Angela teve uma surpresa especial: Manuela Carneiro da Cunha, a própria, estava presente no set. “Ela pediu para estar na cena, no meio dos alunos. Foi muito especial”, contou a atriz paraense, emocionada. “Nos encontramos e ela me disse: ‘somos da mesma altura’. Foi um momento muito bonito”, acrescentou.
Ribeiro também falou sobre o impacto do filme e sua repercussão. Para ela, o sucesso do longa pode ampliar o olhar do público sobre o cinema brasileiro. "Esse recorde de bilheteira, as premiações e as possíveis indicações ao Oscar atraíram os olhares do mundo para o que estamos produzindo aqui", afirmou, destacando a potência do cinema nacional. "O filme nos direciona a um olhar para uma história de ditadura, nos impulsiona a buscar mais fragmentos desse período que por muito tempo estava soterrado", completou.
Trajetória
Morando longe de Belém há alguns anos, Angela relembra que sua jornada no teatro começou de forma decisiva quando, após passar anos sem atuar, decidiu retomar sua carreira aos 33 anos. "Escolhi fazer uma transição de carreira [em São Paulo] logo depois de ter perdido uma grande amiga que morreu aos 26 anos com um infarto fulminante. Ela estava prestes a fazer tudo o que queria, mas não deu tempo", relembrou.
O reconhecimento da atriz veio com o Prêmio Shell de dramaturgia em 2018, pelo trabalho na peça ‘Refluxo', um marco em sua carreira. Ela tem se destacado também ao representar o Norte do Brasil em projetos audiovisuais. Recentemente, teve a oportunidade de trabalhar em dois projetos no Pará: ‘Pssica’, uma série baseada no livro de Edyr Augusto, e um longa-metragem dirigido por Priscilla Brasil e capitaneado por Quico e Fernando Meirelles.
A paraense possui uma trajetória sólida e diversificada nas artes. Formada em cênicas pela Escola de Arte Dramática da USP, em dramaturgia pelo Sesi British Council e em publicidade pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com especialização em criação na ESPM, Angela é fundadora da Cia. Bruta de Arte, onde foi dirigida por Roberto Audio em quatro espetáculos.
No teatro, destacou-se em peças como Beijo no Asfalto, sob direção de Bruno Perillo, e Dom Quixote, de Rodrigo Audi, pelos quais recebeu indicações como Melhor Atriz e Melhor Atriz coadjuvante.
No cinema, além de integrar o elenco de ‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles; ela também participou de ‘Raquel 11’, de Mari Bastos, e Biônicos, de Afonso Poyart.
Já na TV, esteve nas séries ‘José e Durval’, dirigida por Hugo Prata, Sutura, de Diego Martins, e ‘Carcereiros’, de Eduardo Belmonte.
"Felizmente agora tem muitos olhares voltados para a região Norte. Neste semestre mesmo eu tive a chance de ir ao Pará por duas vezes a trabalho. Por muito tempo, era quase um delírio pensar nessa possibilidade, porque esse sempre foi um desafio grande”, destacou.
Ribeiro também compartilhou seus próximos planos, incluindo projetos pessoais. "Eu tenho um projeto de um solo que pretendo estrear em breve, com dramaturgia e direção de uma grande amiga, uma grande artista, sobre uma professora paraense, sobre a violência nas escolas, uma mistura de ficção e realidade", revelou.
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