Arte marajoara inspira coleção de moda praia

Quem um dia já atravessou, de barco ou de carro (na época da seca é possível essa experiência),o lago Arari, sabe exatamente o que signica imensidão. E foi ali, à margem esquerda do principal lago do arquipélago,em Cachoeira do Arari, que, em 1972, um padre decidiu fazer um museu para eternizar a riqueza cultural do Marajó.

O padre era Giovanni Gallo, um italiano, nascido em Turim, e o museu um polo de desenvolvimento comunitário que ultrapassou as fronteiras do Marajó e do Pará levando conhecimento, curiosidade, história e inspiração para o mundo.

Quase 50 anos depois da abertura do Museu, o legado de Giovanni Gallo chega ao público na Exposição "Cacos Marajoara", inspirada no livro “Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara”, escrito pelo próprio padre. A exposição, de moda praia, é uma realização da marca Tuttagrulla, da designer Márcia Vieira, que além de homenagear o criador do Museu, e dar uma maior visibilidade aos desenhos marajoaras e seus designers, também promove o intercâmbio entre Itália e Amazônia.

"A maior preocupação foi retransmitir todo o amor que ele dedicou a esse trabalho maravilhoso que deixou, esse lado dele foi muito importante para nossa cultura paraense. Essa é a maior preocupação, de você tentar mostrar as gregas(traços dos desenhos) da forma como elas realmente merecem, como ele pensou, pesquisou, idealizou", explica.

Trançados são marca da coleção Cacos Marajoara (Divulgação)

"Na primeira edição do livro dele não tinham os cacos marajoara, aí ele fez uma terceira edição colocando cada caco dos fragmentos das cerâmicas e explicando de onde e como elas sairam. Então essa a parte mais delicada quando você tem que repassar para o público, na tua coleção, todo esse amor e eu espero ter conseguido, porque são gregas maravilhosas que a gente tem que dar visibilidade e ter orgulho de fazer parte dessa cultura que também nos pertence", completa.

As peças que Márcia criou para a exposição trazem estampas que marcam a beleza,a força e o colorido dos grafismos marajoaras. São 10 maiôs que vão muito além da moda praia,representam pedaços da história de um povo que tem mais de 5 mil anos de tradição.

"O povo marajoara, assim como os Maias,também tiveram um percurso,ramificações que resultaram na cerâmica tapajônica, por exemplo. Quando pensei nas minhas peças,pensei muito nessa questão indígena que a gente tem,busquei inspiração nas tangas, nos fios, nas pinturas que você vê nos corpos dos índios, os riscados. Então,nas minhas peças tem muitas linhas, fios... e um outro elemento, que é a questão da história que fala das cobras, da natureza, de todo um processo que tem dentro da nossa arqueologia, que é muito rica",explica a designer.

Essa relação afetiva com o padre Giovanni Gallo que, hoje,resultou na exposição, vem dos tempos que Márcia se mudou para a Itália, onde ainda vive. O intecâmbio dela com aquele país se deu por meio da cerâmica marajoara, promovendo a nossa cultura e fazendo exposições.

A Coleção Cacos Marajoara está em exposição no Espaço São José Liberto (Divulgação)

Na loja que ela tinha em Florença a cerâmica do Marajó era um dos principais produtos e foi aí que conheceu o trabalho que o padre fazia em Cachoeira doo Arari e o museu. Nasceu uma admiração separada por um oceano e fortalecida através dos muitos emails em que trocavam informações.

O que une essas histórias é a própria história de cada povo,seja o italiano seja o paraense criado nos campos do Marajó, marcados por uma rica manualidade." Eles tem cerâmicas etruscas maravilhosas,toscanas, e nós temos cerâmicas marajoaras, do Paracuri, que é tudo uma evolução de ambas, então tem muita coisa que poderia exemplicar pra mostrar o encontro deessa duas histórias", conta Márcia, que escolheu a moda para transmitir conhecimento aliado à beleza.

Agende-se

Exposição "Cacos Marajoara"
Visitação até 5 de setembro, de 10h às 18h, de terça a sábado. No domingo,de 10h as 14h.
Local: Espaço Moda do São José Liberto