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Paraense realiza mostra de vídeos de artistas LGBTQIAPN+ da Amazônia na Inglaterra

Criada por Danilo Baraúna, Amazônia EcoQueer propõe diálogo entre arte, ecologia e diversidade

Enderson Oliveira

Partindo das cidades de Belém, Manaus e Porto Velho, o projeto Amazônia EcoQueer, coordenado pelo pesquisador, artista visual e curador paraense Danilo Baraúna não se limita a ser uma mostra ou uma pesquisa, mas propõe um gesto de escuta e transformação — uma travessia que começa à beira do rio e alcança o mundo. A ação é uma iniciativa de pesquisa, curadoria e circulação internacional de filmes e vídeos produzidos por artistas LGBTQIAPN+ da Amazônia brasileira.

O objetivo é compreender como essas narrativas imaginam futuros ecológicos e cuir|queer para a região, em um contexto marcado pela crise climática, pelo avanço do racismo ambiental e por disputas em torno da sobrevivência de territórios, saberes e existências.

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A pesquisa de Danilo é desenvolvida na Universidade de Newcastle (Inglaterra), com apoio da British Academy, e teve nesta quinta-feira (6) uma exibição na galeria Newcastle Contemporary Art. Intitulada “Ecologias da Beira”, a mostra reuniu produções que partem da imagem da água — seja rio ou mar — para construir poéticas sobre a relação entre corpo, território, ancestralidade, trabalho e afetos. A mostra deste ano integra o programa da exposição “Ouvindo as vozes dos rios”, com curadoria de Giuliana Borea, Jamille Pinheiro Dias e Harriet Sutcliffe.

Os filmes apresentam performances e narrativas que exploram margens, limites e travessias: autobiografias trans, histórias de amor queer nas ilhas, relações entre vidas humanas e não humanas e registros de práticas culturais ribeirinhas.


“Esta pesquisa começou a nascer ainda em 2022, ano em que voltei para Belém após quatro anos morando em Glasgow, na Escócia, para cursar meu doutorado”, explica Danilo. “Esse retorno à cidade foi também um retorno ao audiovisual experimental produzido aqui. Eu já vinha pesquisando esse campo há pelo menos 15 anos. A exposição é, de certa forma, uma continuidade desses encontros e partilhas”, destaca.

Percursos, identidades e conexões

A proposta do Amazônia EcoQueer tem como foco o processo de internacionalização de obras criadas por artistas LGBTQIAPN+ de Belém, Manaus e Porto Velho, conectando temas como justiça climática, biodiversidade, encantarias, circularidade e histórias afro-indígenas.

Para Danilo, levar essas produções a outros países não significa reproduzir lógicas coloniais, e sim questioná-las: “Falar de circulação internacional, especialmente na Europa, em meio às discussões contemporâneas sobre decolonialidade, é um trabalho desorientador. Estamos levando essas obras para países historicamente responsáveis pela expropriação de territórios do Sul Global. Por isso, é preciso cuidado. Mas também existe aí um espaço de fricção que me interessa — o encontro entre formas distintas de produzir conhecimento.”


Um dos aspectos que mais emocionam o curador é o caráter político da própria seleção: “Mapear esses trabalhos é construir memória. É afirmar pertencimento a partir de imagens emancipatórias e reconhecer caminhos já abertos para novas gerações de artistas que querem contar histórias a partir da Amazônia e com a Amazônia.”

Danilo também destaca a importância de a pesquisa ser conduzida por alguém atravessado por essas experiências: “Trazer essa discussão para dentro da academia rompe hierarquias do saber. A Amazônia não é apenas tema: é lugar de produção de pensamento. E conduzir essa pesquisa como pessoa negra e roteirista me permite ver nuances que talvez passassem despercebidas a quem observa de fora”, finaliza.