Maestrina paraense Cibelle Donza representa o Norte na Bienal de Música Brasileira Contemporânea
Mesa desta quinta-feira (27) destaca trajetórias femininas e desafios da criação contemporânea no país
A maestrina e compositora paraense Cibelle Donza é a convidada da Fundação Nacional de Artes (Funarte) para representar a região Norte na 26ª Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro. Ela participa nesta quinta-feira (27) da mesa “As mulheres da música brasileira contemporânea”, parte do seminário que integra a programação do evento. A Bienal, iniciada no último dia 22 de novembro e transmitida pelo YouTube, é considerada uma das mais importantes iniciativas de difusão e celebração da música de concerto no país e, em 2025, chega à edição comemorativa de 50 anos.
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A programação reúne uma mostra retrospectiva das últimas cinco décadas da Bienal, destacando compositoras e compositores que marcaram sua história, além de oito concertos - de câmara, orquestrais e eletroacústicos - e discussões voltadas à memória, criação, difusão e futuro da música contemporânea no Brasil. O convite feito à maestrina paraense integra o conjunto de homenagens da edição especial, que reúne nomes essenciais da criação musical no país.
Para Cibelle, participar da edição comemorativa reforça o alcance nacional de sua trajetória. “Significa inserir a Amazônia na discussão não como referência exótica ou periférica, mas como força artística contemporânea, com produção própria e pensamento próprio”, afirmou a Mestra Titular e Diretora Artística da Orquestra Filarmônica da Amazônia (FILMA).
Na mesa em que participa, Donza pretende abordar três dimensões de sua experiência: regência, composição e território. Segundo ela, esses campos ainda refletem desigualdades.
“A regência e a composição seguem sendo ambientes amplamente masculinos. Levarei dados concretos levantados no projeto 'Mulheres na Música de Concerto', realizado em Belém, que revelam um retrato do Brasil”, explicou, dizendo que os números serão apresentados junto a propostas de estratégias para ampliar a presença feminina na música de concerto.
Ela também pretende evidenciar a dimensão amazônica na discussão. “Ser mulher e ser amazônida acrescenta camadas próprias de desafio. Discutir gênero sem discutir território e acesso é ignorar uma parte fundamental do problema, e também das soluções”, afirmou.
Cibelle ressalta que a região produz criação sofisticada, repertório contemporâneo e pesquisa consistente, muitas vezes com pouca visibilidade nacional. “Quero mostrar que a Amazônia produz música de alto nível e que isso é feito também por mulheres, muitas vezes sem reconhecimento”, completou.
Futuro
Sobre os próximos passos, Donza projeta ampliar sua atuação como maestrina em temporadas regulares de orquestras brasileiras, além de fortalecer a FILMA fundada por ela em 2021. “É uma orquestra profissional, porém independente, que ainda busca apoio continuado para realizar temporadas com a excelência que buscamos”, disse.
Segundo ela, a missão da orquestra filarmônica é nutrir o legado e, ao mesmo tempo, criar e desenvolver novas ideias, ‘conectando a Amazônia ao mundo’. “Isso sintetiza muito do que me move. Tenho projetos estruturados há anos para materializar essa visão, e espero poder avançar nessa direção com parceiros que também acreditam nesse potencial”, explicou.
Cibelle explica que também tem dedicado atenção à expansão de seus projetos autorais, tanto no campo da composição quanto em iniciativas voltadas ao fortalecimento da presença feminina na música de concerto. Segundo ela, esse movimento envolve a ampliação de ações já estruturadas e a busca por novas fronteiras de atuação.
“Paralelamente, sigo fortalecendo a circulação das minhas obras no Brasil e no exterior e expandindo iniciativas que venho desenvolvendo, como o projeto ‘Mulheres na Música de Concerto’, que prevê a internacionalização do ‘Concurso Lígia Amadio’ para os próximos anos, e os programas de mentoria e residência formativa em orquestras já aprovados na lei de incentivo à cultura, todos à espera dos patrocínios adequados para se tornarem realidade”, afirmou.
Carreira
Natural de Belém, Donza é mestre em regência orquestral pela Ithaca College, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Atua desde 2011 à frente da Zarabatana Jazz Band, grupo criado por sua família, que une jazz e sonoridades amazônicas em repertório autoral. Sua trajetória marca um ponto de ruptura no cenário musical paraense: ela uma das primeiras mulheres a ocuparem cargos profissionais de regência no estado, abrindo caminhos em um ambiente historicamente dominado por homens.
Ao longo da carreira, Cibelle regeu importantes orquestras brasileiras, como a Sinfônica de Minas Gerais, a Sinfônica do Espírito Santo, a Sinfônica do Theatro da Paz, a Orquestra do Teatro Nacional Cláudio Santoro e a Sinfônica da Unicamp. Suas composições já foram apresentadas em palcos de referência, como a Sala São Paulo e o Festival de Inverno de Campos do Jordão, e interpretadas por formações como a Petrobras Sinfônica e a Orquestra Santa Fé, da Argentina.
O reconhecimento de seu trabalho inclui premiações nacionais e internacionais, entre elas a Bienal Funarte de 2023 e o Prêmio Amazônia de Música 2025, na categoria 'Melhor Regente – Erudito'.
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