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Rascunho do documento final aumenta expectativas e debate sobre Mapa do Caminho na COP 30

Entre metas e negociações, especialistas avaliam risco de não haver mais tempo para atrasar soluções

Maycon Marte

Após a apresentação do rascunho elaborado pela presidência da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), nesta terça-feira (18), o debate sobre que acordo será efetivado também cresce. As soluções dependem da aprovação de todos os países, mas deveriam considerar os direcionamentos do Mapa do Caminho (Roadmap, em inglês), conforme avaliaram especialistas em clima e meio ambiente entrevistados pelo Grupo Liberal. Uma das afirmativas em comum é a de que a questão dos combustíveis fósseis e do desmatamento são as prioridades a serem resolvidas.

Apresentados no segundo dia da segunda semana de atividades da COP 30, o rascunho apresenta uma primeira proposta do que pode ser decidido em Belém entre os países. No entanto, a versão não agradou aos especialistas, que temem ações pouco efetivas contra o uso de combustíveis fósseis, atual elefante na sala da conferência climática. Um dos textos faz menção ao Mapa do Caminho, uma proposta do presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, apresentada durante a Cúpula de Líderes, evento que antecedeu a COP 30, entre os dias 6 e 7 de novembro.

Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, comemora que o Mapa tenha ganhado adeptos, com pelo menos 80 países demonstrando apoio, a exemplo da Colômbia e do Reino Unido. Mas, apesar das expectativas, o alerta é para que a negociação nào deixe de incluir os combustíveis fósseis, responsáveis por três quartos dos problemas da crise climática, como ele explica.

“Se a gente não lidar com este problema, não vamos ter solução na crise do clima. Essa ideia foi lançada pelo presidente Lula e agora nós vimos, depois da coletiva de imprensa, que esse discurso ganhou adeptos, com mais de 80 países demonstrando interesse em participar do seu desenvolvimento. Isso representaria um avanço expressivo e um marco inédito em conferências climáticas”, afirma Astrini.

O secretário não alimenta tantas esperanças de que o Mapa do Caminho chegue ao fim da COP 30 da maneira mais completa como foi idealizado. Mas prevê a designação de um grupo, composto por países ou demais especialistas, para aprofundar os detalhes do plano de ação. Nesse contexto, ele destaca a responsabilização dos países mais poluentes pela eficiência da iniciativa, com os mais ricos auxiliando no financiamento de países que precisam de apoio para realizar a transição energética.

Existe ainda uma movimentação de alguns países para que os estudos técnicos em torno do uso de outras fontes de energia se estendam por mais dois anos, levando o debate até 2027. Essa pressão é liderada pelo Grupo Africano, que reúne cerca de 54 países. Mas essa intenção gera preocupação no especialista. Segundo ele, o prazo para agirmos venceu, isso porque a discussão se arrasta desde a COP 28, em Dubai. Por isso os argumentos de prejuízos financeiros, defendidos por esses países relutantes, não superam os impactos sobre os mais afetados.

“É fundamental considerar os prejuízos enfrentados pelas vítimas de eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e incêndios florestais. A urgência da situação exige respostas imediatas”, afirma Astrini.

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Última chance

O meteorologista e pesquisador brasileiro, Carlos Nobre, alerta que, caso se acolha esse atraso, “o risco aumenta consideravelmente”. A afirmação acompanha o alerta de que já estamos próximos do limite de 1,5 graus que o Acordo de Paris pretendia limitar a temperatura do planeta. Ele estima que devemos ultrapassar o limite nos próximos cinco a dez anos.

Nobre também coloca a redução de emissões de gases do efeito estufa com prioridade, em especial, as contribuições do uso de combustíveis fósseis para esse cenário. Para ele, as metas do Acordo de Paris e reafirmadas na COP 26, de zerar emissões líquidas até 2050, não são suficientes. O caminho seria a transição energética urgente e o desmatamento zero.

“O atraso nessas ações, especialmente na transição energética, aumenta o risco de atingir o limite de 1,5ºC de aquecimento global em poucos anos, levando a consequências graves e irreversíveis para o planeta”, destaca o pesquisador.