Pará desafia retração da aviação regional e aumenta número de voos
Ministério do Turismo e companhias aéreas vai aumentar a frequência de voos e a ampliação das aeronaves no período da COP 30
Enquanto a aviação regional encolheu em grande parte do país após o fim da Voepass e cortes da Azul Conecta em 14 cidades brasileiras somente neste ano, o Pará vai na contramão com aumento no número de voos e turismo fortalecido. Nacionalmente, o setor está cada vez mais concentrado e depende de uma nova estratégia do governo federal, que pretende conceder terminais regionais na Amazônia Legal e no Nordeste — áreas historicamente afetadas pela falta de infraestrutura.
No Pará, o aeroporto do município de Itaituba, na região sudoeste, é um dos contemplados pelo programa Ampliar do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor). Estão previstos investimentos de mais de R$100 milhões para ampliação da pista de pousos e decolagens, do pátio de aeronaves e do terminal de passageiros, além do reforço da pavimentação para as operações de jatos.
Enquanto a aviação regional passa por uma fase de encolhimento, no estado, a realidade é diferente. O aquecimento do turismo, puxado por eventos de grande porte como o Círio de Nazaré e a 30° Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), abriu espaço para novos fluxos aéreos. Além da ligação com capitais do Norte e Nordeste, cidades como Santarém, Marabá e Altamira seguem registrando conectividade relevante, servindo de hubs regionais.
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Em entrevista ao Grupo Liberal, em agosto, o ministro Celso Sabino informou que o turismo no Pará registrou crescimento no primeiro semestre de 2025, com indicadores acima das expectativas. Um dos pontos apontados foi a expansão da malha aérea, o aumento do fluxo de turistas nacionais (28,5%) e internacionais (18%) , além de investimentos em infraestrutura.
O resultado positivo se reflete nos números expressivos de passageiros no aeroporto de Belém. No 1º semestre de 2025, o espaço atendeu 1.967.313 passageiros, entre desembarques, embarques e conexões, em mais de 16 mil voos domésticos e internacionais. É o melhor resultado da história do Aeroporto Júlio Cezar Ribeiro – Val-de-Cans para o período. Segundo a concessionária que administra o aeroporto da capital paraense, o resultado representa um crescimento de 1,4% em comparação aos seis primeiros meses de 2024, quando foram contabilizados 1.939.641 embarques e desembarques.
A LATAM anunciou que ampliará em 25% a sua oferta de assentos em Belém durante a COP 30. O aumento em relação à operação regular se dará por meio de voos extras e a criação das rotas especiais Bogotá-Belém e Galeão-Belém. A iniciativa faz parte do esforço logístico para aumentar a conectividade de passageiros e cargas durante o evento. “O nosso compromisso com o meio ambiente e as pessoas do Brasil e da América do Sul é de longo prazo e inegociável. Assim como aconteceu nos anos anteriores, a aviação e a LATAM terão papel fundamental na realização da COP, tanto na logística da conferência quanto nos seus debates sobre a descarbonização e as mudanças climáticas”, afirma Maria Elisa Curcio, diretora de Assuntos Corporativos, Regulatórios e Sustentabilidade da LATAM Brasil.
Segundo o Ministério do Turismo, uma parceria com as companhias aéreas vai permitir aumentar a frequência de voos e a ampliação das aeronaves no período da COP 30, saindo de 199 mil assentos disponíveis para 246 mil assentos. A expectativa é que a medida amplie o número de pessoas também no Círio de Nazaré e garanta maior participação na conferência climática.
Ao falar sobre como a COP 30, o economista Nélio Bordalo Filho, afirmou que o evento marca um novo momento para o setor. “Além do impacto imediato, o evento coloca Belém em evidência internacional, o que pode consolidar o Pará como destino turístico estratégico da Amazônia, trazendo benefícios econômicos que vão além do período da conferência.”
Para ele, o desafio é equilibrar a demanda turística com a aviação voltada ao dia a dia da população. Municípios distantes da capital, que dependem fortemente de deslocamentos aéreos para acessar serviços de saúde e educação, ainda enfrentam tarifas elevadas e oferta limitada de voos.
“No caso da Amazônia, esse é um desafio histórico. Algumas alternativas para driblar essa situação seria ampliar políticas de subsídio à aviação regional, integrar melhor os modais de transporte (rodoviário e hidroviário) com os aeroportos, incentivar parcerias público-privadas para modernizar aeroportos estratégicos e estimular o uso de aeronaves menores e mais eficientes, que permitam reduzir custos operacionais. Assim, é possível ampliar a malha aérea e tornar os preços mais acessíveis.”
Programa busca ampliar aviação regional
O Ministério de Portos e Aeroportos, por meio do programa AmpliAR, prevê investimentos privados de mais de R$5 bilhões, com a meta de modernizar até 100 aeroportos em todo o país. Por meio de parcerias com concessionárias privadas, o programa permite que essas empresas assumam a gestão de aeroportos regionais deficitários, em troca de reequilíbrios contratuais, como redução de outorgas ou extensão dos prazos de concessão
A GOL manifestou apoio a iniciativa do governo federal que estimula a aviação regional. Para a Companhia, “o programa Ampliar tem o potencial de enfrentar um dos principais desafios do setor: ampliar os investimentos em infraestrutura de aeroportos regionais para receber aeronaves de maior porte, condição essencial para garantir uma aviação mais sustentável e conectada no país.” A Gol atualmente atua nas cidades de Belém, Marabá e Santarém.
Para o economista Nélio Bordado Filho, o encerramento das atividades da VoePass representa uma perda enorme para a conectividade regional. “Muitos municípios de médio porte ficam ainda mais isolados, o que afeta o turismo, a circulação de profissionais e a possibilidade de atração de investimentos.”
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu, em março, as operações aéreas da Voepass, formada pela Passaredo Transportes Aéreos e pela Map Linhas Aéreas. Em agosto de 2024 um avião da empresa caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo com 62 pessoas a bordo, ninguém sobreviveu.