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Lançado na COP 30, mutirão quer acelerar a revitalização do rio São Francisco

Evento ocorreu na tarde deste sábado na Green Zone (Zona Verde) da Conferência, em Belém

Dilson Pimentel

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em parceria com o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC) e entidades da Caatinga, lançou, na tarde deste sábado (15), em Belém, o Mutirão Pelo Rio São Francisco, durante a programação da COP 30. Realizado na Green Zone, o evento apresentou a metodologia de transformação ecológica e discutiu estratégias para acelerar cadeias produtivas em Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia.

A iniciativa visa criar uma grande transformação nos modelos econômicos que hoje geram impacto ambiental e não resolvem a desigualdade social. A metodologia do mutirão busca a regeneração da caatinga e do Rio São Francisco por meio da reformulação das cadeias produtivas. Destacada como uma das ações mais relevantes da conferência para a proteção e regeneração de biomas brasileiros, a iniciativa veio acompanhada de três pontos centrais: a assinatura do termo de parceria entre CBHSF e Fórum, o anúncio de carbono comercializado com chancela do "Velho Chico" (como é conhecido o rio São Francisco) e o compromisso de retorno de 3% dos recursos para ações de revitalização na bacia.

"A revitalização é responsabilidade de todos", disse, durante o evento, o presidente do CBHSF, Cláudio Ademar da Silva. Em entrevista ao Grupo Liberal, ele ressaltou que o mutirão busca unir todas as forças da bacia em torno de um modelo que combine preservação ambiental, desenvolvimento econômico e inclusão social. “Esse mutirão tem como foco juntar todas as forças da Bacia de São Francisco em torno da revitalização e do desenvolvimento econômico sustentável. Que tenha visão hídrica e ambiental, mas também social, onde você possa promover ações que você tenha sustentabilidade com a economia. Porque eu acredito, é uma visão minha, que não existe sustentabilidade sem a parte econômica estar associada a essa sustentabilidade. Eu costumo dizer o seguinte: não existe caatinga em pé de barriga vazia”, disse. “Precisamos pensar em projetos que tragam dignidade às famílias socialmente e, também, possa conservar a terra, o solo, o clima e água”, afirmou.

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Crédito de carbono

Cláudio destacou que a situação atual do rio é "gravíssima". Dos 505 municípios da bacia, apenas 12 possuem 100% de saneamento. Segundo ele, mudar essa realidade depende de um esforço conjunto entre União, estados, municípios, usuários e sociedade civil. “Precisamos lançar um movimento como mutirão, para que todos venham fazer parte da transformação dessa bacia”, afirmou. “Hoje a gente já começa uma parceria com uma cooperativa de crédito de carbono sediada em Delmiro Gouveia, em Alagoas. A legislação de crédito de carbono já foi aprovada no Congresso Nacional. No entanto, precisa ser regulamentada e implementada”, observou.

"A gente já está buscando essa primeira ação aqui de implementação, pra gente discutir tecnicamente entre a cooperativa e o comitê como transformar essa parceria em resultados. Primeiro, a gente quer trazer uma proposta onde a maior parte dos recursos que podem ser conseguidos pela propriedade fique com o dono da propriedade. Porque assim você traz um resultado social para o dono da terra, que está fazendo o resgate do crédito de carbono e está conservando o meio ambiente. Na minha visão, essa proposta mantém a caatinga em pé e remunera quem cuida da caatinga. Estou falando da caatinga. Mas pode ser o cerrado, a mata atlântica. A gente quer pagar, compensar quem cuida da caatinga. E, com isso, trazer recursos para a revitalização da bacia”, disse Cláudio Ademar da Silva. Embora ainda em fase de definição jurídica e técnica, ele acredita que a proposta deve consolidar-se como um dos pilares do mutirão.

Fórum do Clima defende metodologia estruturada e inovação econômica

O jornalista Sérgio Xavier, coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima - órgão ligado ao Comitê Interministerial de Mudança do Clima, com 23 ministérios - também participou do lançamento como um dos 30 enviados especiais da COP 30 - ele foi nomeado pelo presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago. Sérgio destacou que o mutirão se conecta diretamente ao lema da COP 30, o “Mutirão Global pelo Clima”, e que a iniciativa visa não apenas mobilização, mas implementação prática e sustentável.

“Nós percebemos que não basta juntar todo mundo. É preciso ter metodologias que conectem recursos, conhecimentos, estruturas, políticas públicas”, disse. Segundo Sérgio Xavier, universidades como a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), governos estaduais e prefeituras, além de organizações como a Cooperativa de Carbono, fazem parte do arranjo que deve impulsionar cadeias econômicas regenerativas nos territórios.

“A gente acredita que, para fazer transformação, você tem que pegar a cadeia econômica de cada território e tornar essas cadeias realmente regenerativas, sustentáveis, inclusivas. Então, essa é a ideia. É um mutirão, mas um mutirão estruturado para impulsionar inovações na economia”, afirmou. Entre os resultados concretos já observados, ele destacou a criação da cooperativa de crédito de carbono, considerada inovadora por permitir que pequenos produtores acessem um mercado historicamente restrito a grandes proprietários.

“A cooperativa soma as áreas que estão preservadas e comercializa isso de uma maneira mais estruturada, sem ter tanta burocracia para o pequeno produtor, o agricultor familiar. Essa já é uma inovação”, destacou. Outro ponto discutido foi o uso de ferramentas digitais e inteligência artificial de interesse público para gerenciar a complexidade dos sistemas econômicos e ambientais envolvidos. “Seria uma governança multinível, multissetorial, multiconhecimento. Portanto, tem que ter ferramentas digitais, utilizando inteligência artificial de interesse público, com controle social, para gerenciar essa complexidade”, observou. Após finalizada a metodologia em construção com a universidade, disse, o sistema será testado no território e posteriormente replicado em outras bacias hidrográficas.