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COP 30: Após protestos, ministras Marina Silva e Sonia Guajajara se reúnem com lideranças Munduruku

Lideranças indígenas cobram reunião urgente com Lula, a revogação do Decreto 12.600/2025 e proteção ao território

Thaline Silva*

Na manhã desta sexta-feira (14), indígenas do povo Munduruku, articulados pelo Movimento Ipereg Ayu, realizaram um protesto em frente à entrada da Blue Zone da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém, para cobrar uma reunião emergencial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo afirma que o governo federal tem avançado em projetos de infraestrutura que ameaçam o território Munduruku e povos das bacias do Tapajós e Xingu, sem realizar a consulta prévia prevista na Convenção 169 da OIT.

De acordo com o advogado Marco Apolo de Santana Leão, que acompanha o grupo, o ato levou à articulação de uma reunião com as ministras Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas). Segundo Marco Apolo, as lideranças decidiram liberar o portão após o compromisso de diálogo. Ele afirmou que “a privatização do Rio Tapajós seria revogada pelo presidente Lula e que há outras reivindicações contra o garimpo ilegal no território indígena”. O advogado acrescentou que os Munduruku querem ser ouvidos durante a conferência e que a mobilização foi necessária para garantir essa escuta.

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Leão explicou que o presidente da COP aceitou receber representantes do movimento e que a reunião com as ministras foi articulada ainda pela manhã. Ele destacou que o protesto foi pacífico e reiterou que as lideranças entendem que, sem a manifestação, não teriam espaço na agenda oficial da conferência. “Eles foram ouvidos depois do movimento, depois da reivindicação”, afirmou. O advogado informou ainda que o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública e outras organizações de apoio às causas indígenas foram convidadas a participar do encontro.

Em nota, o Movimento Munduruku Ipereg Ayu declarou que, além dos grandes empreendimentos, o protesto também é contra projetos de crédito de carbono e mecanismos de REDD+ jurisdicional discutidos na COP 30 e em negociações governamentais. Segundo o grupo, essas iniciativas representam uma “venda da floresta” porque retiram autonomia dos povos e permitem a entrada de empresas e intermediários nos territórios, sem enfrentar o que consideram os reais fatores da crise climática: desmatamento industrial, garimpo, hidrovias e expansão da soja.

“O governo e o mundo precisam entender que nossa floresta não está à venda. Nós não negociamos a mãe natureza”, afirmou uma das lideranças durante o ato. O decreto que motivou grande parte das críticas — o nº 12.600/2025 — criou o Plano Nacional de Hidrovias e tornou os rios Tapajós, Madeira e Tocantins eixos prioritários para navegação de cargas. Para os Munduruku, a medida abre caminho para novas dragagens, derrocamento de pedrais sagrados e a expansão de portos privados na região.

Durante o protesto, a entrada principal da Blue Zone foi bloqueada, e os participantes precisaram acessar a área restrita por um portão lateral usado como saída. Após o fim do ato, a circulação foi normalizada.

*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia

 

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