Setores de venda e tecnologia ganham destaque no mercado de trabalho

O mercado de trabalho tem sofrido uma série de transformações, aceleradas principalmente pela pandemia da covid-19, e os profissionais do futuro precisam se adaptar às novas tendências mercadológicas. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que várias ocupações tiveram variação no número de contratações entre os anos de 2012 a 2019. Segundo o Fórum Econômico Mundial (2020), o conjunto de profissões emergentes refletirá a importância contínua da interação humana na nova economia, com o aumento da demanda por empregos na economia do cuidado; funções em marketing, vendas e produção de conteúdo.

Por exemplo, as ocupações que mais têm crescido no Brasil nos últimos anos são as relacionadas aos serviços, como vendedores. Em percentual, os cargos que mais ficaram em ascensão foram os gerentes de serviços (23%) e vendedores (16%). Na variação em números absolutos, também tiveram destaque os vendedores - mais de 297 mil em crescimento nesta ocupação. Em segundo lugar ficou a função de comerciantes e vendedores de lojas - variação de mais de 118 mil vagas. Inclusive, cinco das 10 ocupações com mais contratações em números absolutos estão relacionadas ao setor de serviços e comércio, segundo os dados.

Como explica a especialista em finanças e mestre em administração Juliana Santa Brígida, os serviços estão tomando conta do mercado, pois hoje o consumidor busca mais do que comprar um produto ou serviço, mas também experiência, e isso transforma a profissão de vendedor e atrai mais oportunidades para a área. Esta tendência, para alguns especialistas, está relacionada às características da economia e do mercado de trabalho brasileiro, em que o setor de serviços se destaca e no qual os informais tendem a estar mais concentrados. Na opinião de Juliana, este é um cenário negativo para quem atua na informalidade porque o trabalhador se isenta de benefícios, mas o mercado gera oportunidades para autônomos.

"Este é um excelente momento para desenvolver habilidades que busquem não só vender, mas proporcionar uma experiência diferenciada para as vendas, o que além de potencializar gera fidelização dos clientes", avalia. A indicação da especialista é que o profissional comece por cursos que desenvolvam habilidades de negociação e relacionamento interpessoal.

A pesquisa também mostra que houve crescimento das ocupações relacionadas à tecnologia. Algumas das funções que tiveram destaque foram: instaladores e reparadores de equipamentos eletrônicos e de telecomunicações (13%); dirigentes de serviços de TI e comunicações (9,9%); e especialistas em base de dados e em redes de computadores (9,8%). Na avaliação de Juliana, a grande tendência para o futuro são as profissões que atuam diretamente com a tecnologia: "Saber utilizar dados e gerenciar esses dados no mercado é o grande segredo para o desenvolvimento e crescimento das organizações".

Mesmo com o destaque, o levantamento aponta que as ocupações relacionadas à área de TI ainda representam uma parcela muito pequena do total de empregos. Isso sugere, segundo a profissional, que essas mudanças na força de trabalho ocorram em um ritmo mais lento no Brasil do que nos países desenvolvidos. "Infelizmente no Brasil ainda estamos a passos lentos, porém outros países também buscam talentos por conta da necessidade desses profissionais a nível global", aponta.

Ainda segundo o estudo, há tendência de aumento de ocupações “centradas nas pessoas” e declínio de funções administrativas e técnicas associadas às funções repetitivas e operacionais. Nas ocupações com contratações em declínio, quatro das 10 do ranking são relacionadas a ocupações elementares, como trabalhadores elementares da agropecuária, da pesca e florestais (menos 300,4 mil em variação), trabalhadores elementares da mineração e da construção (-94,9 mil), trabalhadores domésticos e de limpeza de interior de edifícios (-70,7 mil) e vendedores ambulantes (-52,5 mil).

Em variação percentual, os cargos que tiveram maior declínio, nesta ordem, foram: produtores e trabalhadores qualificados de exploração agropecuária mista (-45,1%); diretores e gerentes gerais (-14,5%); dirigentes de produção agropecuária, silvicultura, aquicultura e pesca (-13,7%); técnicos e profissionais de nível médio em ciências biológicas e afins (-13,6%); e operadores de máquinas de escritório (-12,6%); entre outras funções.

De acordo com Juliana, o foco do mercado hoje é o indivíduo, e por isso conhecer a si e ao outro é se destacar nas funções que envolvem pessoas. "Destacamos a inteligência emocional como a grande habilidade do mercado; as funções mais tradicionais estão se transformando, na verdade. Por isso é necessário compreender mais as pessoas e suas reais necessidades e, consequentemente, proporcionar experiências diferenciadas no consumo", orienta a especialista em finanças e mestre em administração.

Confira as 10 profissões com maiores participações no futuro

Outros vendedores: 11,84%

Comerciantes e vendedores de lojas: 7,1%

Trabalhadores domésticos e outros de limpeza: 5,68%

Agricultores e trabalhadores qualificados na agricultura: 3,87%

Escriturários gerais: 3,67%

Condutores de automóveis, caminhonetes e motocicletas: 3,08%

Cabeleireiros e especialistas em beleza: 2,85%

Vendedores de rua e postos de mercado: 2,71%

Trabalhadores da construção civil em obras estruturais: 2,06%

Cozinheiros: 2,05%

Fonte: Ibre/FGV