RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Vitória de Javier Milei, na Argentina, mostra tendências e acende sinais de alerta

Rodolfo Marques

O economista e deputado Javier Milei, com discurso de extrema-direita e anarcocapitalista, venceu o segundo turno das eleições presidenciais argentinas, neste domingo, 19, com mais de 14 milhões de votos (ou 55,6% dos votos válidos). Milei venceu o governista e atual ministro da Economia do país platino, Sérgio Massa, e ocupará a Casa Rosada entre dezembro de 2023 e dezembro de 2027.

Entre as várias inferências que podem ser apontadas, indiscutivelmente a grave crise econômica argentina, com inflação anual superior a 140%, foi uma espécie de mola propulsora para o discurso de Milei – e de sua campanha vitoriosa. Massa personificava, exatamente, a “cara da crise” e, a despeito disse, teve pouco mais de 44% dos votos válidos (ou 11,5 milhões de votos). As perspectivas de Teoria da Escolha Racional da Teoria Econômica da Democracia, tão discutidas, apresentadas e difundidas por Anthony Downs (1930-2021), tiveram grande amparo nesse cenário político argentino.

Outro fator importante do pleito é a questão do ambiente político com o crescimento da extrema-direita e seus discursos e ferramentas tão característicos. Milei apostou em falas antissistema, de enfrentamento e destruição da “casta” política e reforçando a ideia de liberdade – em parâmetros muito peculiares. O uso da desinformação, principalmente nas plataformas digitais, foi algo corriqueiro por parte de sua campanha – mas não somente dele. 

O ultradireitista conseguiu muita aderência em determinados públicos ao falar sobre a extinção de alguns privilégios, redução de pastas ministeriais, “implosão” do Banco Central, privatizações em larga escala e ampliação do livre comércio. O fato de representar uma figura exótica, inclusive em supostas comunicações com animais mortos, ajudou a reforçar a estratégia de campanha em relação às ideias de diferença e de mudança do status quo. 

No campo internacional, o presidente eleito abordou, em vários momentos, o rompimento de relações com dois dos principais parceiros comerciais da Argentina – a China e o Brasil –, por diferenças ideológicas com os chefes de Estado, Xi Jinping e Luís Inácio Lula da Silva, respectivamente. Milei também demonstrou desinteresse no MERCOSUL e na possível – e já aprovada – na versão ampliada do BRICS.

O pleito argentino também reforçou uma tendência nos mais recentes embates eleitorais da América Latina: o peso cada vez mais ínfimo dos debates eleitorais. Embora intelectualmente mais preparado e eventualmente com melhor desempenho do debate público realizado uma semana antes do segundo turno das eleições, Sérgio Massa não conseguiu conquistar votos de forma consistente. 

Findo o período eleitoral, com o início dos trabalhos de transição e com a posse marcada para o próximo dia 10 de dezembro, Javier Milei tende a começar a modular o seu discurso. Bravatas, palavrões e histrionismo, embora caracteres peculiares do presidente eleito, deve ficar menos presentes durante os primeiros meses do novo governo. 

Na própria manifestação após a confirmação da vitória e após o contato feito pelo candidato derrotado, Sérgio Massa, o anarcocapitalista falou da herança maldita do peronismo e do kirchnerismo – e disse defender a reconstrução do país

O presidente brasileiro, Lula, mandou mensagem, via redes sociais, para a Argentina e para a campanha vitorioso, e reforçou a necessidade dos diálogos entre os dois países nas suas ações coletivas.

Assim, a Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil, entrará em seu novo ciclo político, com o peronismo (provavelmente, muito aguerrido) na oposição, com a extrema-direita no poder e com a observância, uma vez mais, da vontade da maioria, em um contexto de caos econômico acumulado após os desastrosos governos de Mauricio Macri (2015-2019) e Alberto Fernández (2019-2023). 

O povo argentino optou pela mudança e, certamente, cobrará o seu novo presidente. E teve o direito de fazer sua escolha de forma democrática, 40 anos depois do fim do seu sangrento e doloroso período ditatorial. 

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