A comunicação política, indiscutivelmente, é um campo da ciência que vem, cada vez mais, ganhando espaço nos debates, nas investigações e mesmo na maneira como políticos e agremiações partidárias tratam o planejamento de comunicação com os cidadãos-eleitores.
Historicamente, o atual presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, sempre teve muito êxito no gerenciamento da pauta pública, usando metáforas, alegorias e uma linguagem popular para estar perto da população. Dando prioridade às políticas sociais, mobilizando, em geral, os mais pobres, Lula garantiu muita proximidade junto à parcela significativa do eleitorado.
Após marcar 100 dias de mandato, com desafios e alguns avanços, Lula reforçou seus dois pilares da gestão iniciada em janeiro de 2023: a defesa da democracia e a pauta econômica – esta também ligada ao reposicionamento do país no âmbito internacional. Nesses cenários, que vêm trazendo pontos positivos, o governo Lula cometeu alguns “deslizes” em relação ao campo da comunicação.
Um ponto que causou controvérsia foi a questão dos diálogos internacionais com a China e com a Rússia a respeito da guerra no leste europeu, que se arrasta desde fevereiro de 2022. Por ora, os planos de mediação do conflito apresentados por Lula não encontraram eco e o país busca se reposicionar no campo da neutralidade.
Também gerou “burburinho” o movimento do governo em fazer uma regulamentação das importações feitas junto a empresas como Shein, Shopee e AliExpress, que em geral não cobram taxas dos consumidores – e geram pouco faturamento tributário para o governo brasileiro. No dia 18 de abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo abriu mão de suspender a regra que isenta transações internacionais balizadas em até 50 dólares.
Outro exemplo desse processo foi a abordagem que o presidente faz a respeito a violência nas escolas. Lula fez uma crítica ao uso de videogames, como sendo um vetor para estimular o uso de armas. O influenciador digital Felipe Neto, que foi um nome essencial na campanha de Lula, em 2022, no enfrentamento à desinformação, criticou a fala do presidente, chamando-a de ultrapassada e equivocada.
Essas “patinadas” de Lula e do governo em relação à comunicação política geram reflexões em pesquisas de opinião, por exemplo. Levantamento realizado pela Quaest e divulgado em 19 de abril mostrou que a avaliação positiva do governo caiu de 40% para 36% e a percepção negativa aumentou de 20% para 29%. Por óbvio, não dá para atribuir esses números apenas à questão da comunicação, mas as falas públicas de Lula corroboraram para este
cenário.
“Escorregões”, em termos de comunicação, são comuns. Para mitigar o efeito deles e/ou para evitar a repetição de declarações equivocadas, há mister que, nesse caso, o governo passe a investir em uma gestão mais profissional nas ferramentas de interação, tanto nos meios analógicos quanto nas plataformas digitais. Para além disso, é essencial utilizar o potencial do próprio Lula a favor do governo, estimulando a participação dele nas arenas públicas com mais fatos e dados – e com informações que sejam favoráveis à gestão federal. Por fim, é necessário sempre pensar no timing das abordagens, para evitar que a pauta da comunicação seja desconfortável para Lula e para o próprio governo.