RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Governo Lula III: apesar das melhorias do primeiro ano, é preciso avançar mais

Rodolfo Marques

O terceiro mandato presidencial de Luís Inácio Lula da Silva, iniciado em janeiro de 2023, além de guardar muitas diferenças com os governos anteriores do petista – entre 2003 e 2006 e entre 2007 e 2010 –, insere-se em um cenário de grande polarização política, de maior protagonismo das Casas Legislativas e de forte oposição bolsonarista. Portanto, os desafios que se impuseram foram ainda maiores para Lula e para a equipe.

O governo federal, conseguiu, em 2023, avançar em muitos campos, como na aprovação da reforma tributária, na recolocação dentro da política internacional, no contexto econômico (diminuição da inflação e das taxas de desemprego), dentre outros. Ao mesmo, procurou debelar alguns dos vários prejuízos deixados pela gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022). A retomada de programas sociais e políticas públicas de inclusão, marcas anteriores dos governos petistas, também esteve no ambiente das mudanças implementadas no primeiro ano de governo. 

Todavia, é preciso avançar mais e, de certa forma, conquistar parte do eleitorado que migrou do centro para o antipetismo, materializado, anteriormente, em candidaturas do PSDB e, a partir de 2018, em nomes ligados à direita e à extrema-direita, com a liderança destacada de Bolsonaro. 

E como fazer isso em um país tão dividido e com altos níveis de intolerância e de, até mesmo, violência política? 
Um primeiro ponto que pode ser considerado é uma modernização em procedimentos. É preciso melhorar a comunicação – tanto pública quanto governamental – e evidenciar o que está sendo feito e o que ainda será realizado. O enfrentamento da desinformação, marca muito peculiar do bolsonarismo – embora não somente dele – é uma condição essencial. 

O aperfeiçoamento da gestão pública emerge como um segundo aspecto de melhoria que deveria ser implementado, ainda mais com a presença evidente consistente dos mecanismos de accountability vertical e horizontal no país. A própria discussão sobre a reforma do Estado, já com vasta bibliografia no meio acadêmico, seria uma pauta a que poderia ser resgatada pelo governo. Isso deveria ocorrer mesmo em um contexto em que a Câmara dos Deputados tem mantido uma agenda uma pouco apartada das prioridades nacionais. 

Um terceiro segmento é a pauta ambiental. O Brasil voltou a protagonizar discussões internacionais a respeito do tema, nas arenas globais, e ganhou o direito de sediar a COP-30, a ser realizada em novembro de 2025, em Belém-PA. Neste quesito, a sustentabilidade na Amazônia emerge como uma necessidade, na defesa da floresta em pé, no combate ao garimpo ilegal e, em uma visão mais ampla, na defesa irrestrita dos direitos humanos. Neste sentido, a permanência expoentes como os ministros Marina Silva e Sílvio Almeida, respectivamente, nas pastas do Meio Ambiente e Mudança Climática e dos Direitos Humanos e da Cidadania, respectivamente, é um importante sinal de avanço na gestão de Lula.
 
Um quarto ponto – este, talvez o de maior dificuldade – é o da pauta da segurança pública. Recentemente, Lula substituiu o titular da pasta do ministério da Justiça e Segurança Pública. Com a ida de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF), assumiu o seu lugar o ex-ministro do STF, Ricardo Lewandowski. A missão é bem difícil, diante da expansão do crime organizado, da ação das milícias e do aumento dos índices de armamento da população. E as respostas precisarão ser assertivas e ágeis nos próximos anos.

Por fim, mas não menos importante, Lula precisará aumentar o seu campo de diálogo com novas e diferentes geração – e com nichos bem específicos, como os grandes grupos de evangélicos existentes no país. Bolsonaro e os bolsonaristas detêm, há algum tempo, a preferência desse público, muito vinculado à força narrativa dos líderes religiosos. Nessa mesma seara, o governo precisa conversar mais com o público conservador, que se manifesta de forma muito significativa, em termos quantitativos, na sociedade brasileira. 

Dessa forma, a despeito de pesquisas recentes indicam o aumento da avaliação positiva de Lula e de seu governo, os sinais de alerta devem permanecer acesos para ações claras e objetivas, em um país que se mostra ainda muito dividido e cada vez mais complexo.

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