RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Flávio Bolsonaro em cena: sucessão sem projeto e a direita fragmentada

Rodolfo Marques

A política nacional entra em mais um ciclo de especulações com a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à presidência da República, no pleito de 2026. Tal movimento recoloca a família Bolsonaro no centro do debate eleitoral e antecipa disputas dentro do campo da direita. Em meio a um governo Lula que vem melhorando índices e com boas perspectivas para o próximo ano, a oposição parece mais dedicada a rearranjos familiares e narrativas digitais do que à construção de uma agenda consistente para o país.

A estratégia da família Bolsonaro é, antes de tudo, defensiva. A entrada de Flávio no jogo serve como estratégia para manter o sobrenome em evidência, preservar capital político e, sobretudo, negociar poder. O senador atua como fiador político do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), que está inelegível, condenado e preso em Brasília. A possibilidade de candidatura emerge como “moeda de troca” para avançar no projeto de anistia e manter coesa uma base que ainda orbita em torno do bolsonarismo raiz.

Esse movimento, porém, colide com os interesses de outros pré-candidatos da direita que tentam se viabilizar nacionalmente. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) surge como gestor pragmático e com discurso ainda confuso; Ratinho Júnior (PSD-PR) aposta no discurso moderado e no recall do eleitorado do sul do país; Romeu Zema (Novo-MG) insiste no liberalismo econômico e conta com a força política de Minas Gerais; e Michelle Bolsonaro (PL-DF) ocupa o espaço simbólico do bolsonarismo sem Jair – e tem grande aceitação sobre parcelas significativas dos evangélicos. A multiplicidade de nomes revela força aparente, mas expõe uma fragmentação que dificulta a convergência em torno de um projeto comum.

Enquanto isso, o presidente Lula (PT-SP) desponta como favorito para buscar um quarto mandato, beneficiado justamente pela divisão entre direita e extrema-direita e pala estabilidade de seu governo. A ausência de unidade, somada à falta de um discurso nacional consistente da oposição, reforça a vantagem de quem já ocupa o Palácio do Planalto e sabe explorar o contraste entre governabilidade e improvisação adversária.

Resta saber se a candidatura de Flávio Bolsonaro seguirá até o fim e se tem viabilidade eleitoral real. Fora da bolha das redes sociais e do eleitorado fiel ao bolsonarismo, o senador enfrenta limitações claras de projeção nacional. Seu nome parece mais funcional como instrumento de negociação política do que como alternativa competitiva ao lulismo. Flávio é o político da família que tem mais habilidade nas negociações, em especial com o Centrão, mas também é aquele que mais tem “esqueletos no armário”, tendo seu nome várias vezes associado a casos de corrupção, como as “rachadinhas”. Tudo isso deve vir à tona no caso de confirmação de sua candidatura presidencial. 

Assim, o cenário expõe uma direita mais preocupada em administrar disputas internas e salvar a liderança – e o espólio de votos – de Jair Bolsonaro, do que em discutir o futuro do país. Faltam debates sobre economia, desigualdade, meio ambiente e democracia. Sobram engajamento digital, frases de efeito e construção de narrativas, muitas vezes desconectadas da realidade e da consistência fática. 

Assim, a política brasileira, em especial nos campos da direita e da extrema-direita, vai sendo reduzida a um jogo de sobrevivência e marketing, distante das urgências reais da sociedade brasileira.

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