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RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Eleições/EUA-2020: reflexos na política externa brasileira e derrota da estratégia de desinformação

Rodolfo Marques

O processo eleitoral norte-americano dominou o noticiário mundial neste início do mês de novembro, deixando em segundo plano, no Brasil, questões como o fracasso na gestão do enfrentamento à pandemia de Covid-19, a crise generalizada no Amapá com os problemas do fornecimento da energia, e a instabilidade no núcleo político mais próximo ao presidente da República – incluindo as denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

No pleito norte-americano, o democrata Joe Biden, de 77 anos, encontra-se muito próximo de vencer seu principal oponente. No modelo eleitoral norte-americano, muito específico e fiel às tradições federalistas previstas em sua Constituição, há a predominância da ideia do Colégio Eleitoral, com o voto não- obrigatório, a possiblidade de sufrágio antecipado e à distância, e a prevalência dos estados que são mais populosos – e com mais delegados eleitos, de forma majoritária. A apuração e a votação manuais dão um tom de expectativa e de lentidão, o que alonga a ansiedade e a irritação dos stakeholders do processo eleitoral.

Biden, com mais de 73 milhões de votos, já é o político norte-americano que mais recebeu a preferência eleitoral, mostrando também uma adesão em massa do cidadão ianque a este certame, mesmo marcado pela atipicidade própria da pandemia em que o mundo vive.

No contexto nacional – e no da relação bilateral Estados Unidos-Brasil –, há uma certa dúvida, visto que o país se alinhou ideologicamente aos norte-americanos em janeiro de 2019, quando do início do governo de Jair Bolsonaro. O presidente brasileiro, aliás, declarou “torcida” por Donald Trump, presidente e candidato à reeleição – virtualmente derrotado. A relação Bolsonaro-Trump sempre pareceu mais estabelecida do que Brasil-Estados Unidos, visto que o país muito pouco usufruiu, em dois anos. O abandono da postura histórica do governo brasileiro em relação à política interna de outras nações, escolha feita pelo Chefe do Itamaraty, ministro Ernesto Araújo, também gera muito mais prejuízos – e até um certo isolamento do Brasil no contexto internacional.  As relações, prioritariamente, deveriam ser mais institucionais e menos pessoais.

No cenário específico das eleições, as pesquisas davam uma vantagem maior para Joe Biden – mas Trump manteve equilibrada a disputa até o final. O presidente americano, que deve deixar a Casa Branca em 20 de janeiro de 2021, mostrou que consolidou uma base bastante razoável de eleitores e trouxe à tona o conceito de “preferência silenciosa”. Muitos eleitores não declararam abertamente que tinham feito a escolha por Trump; todavia, no momento do voto, podem ter optado por ele a partir de uma diversificação de motivos – como o nacionalismo, a postura conservadora, o rompimento com a política tradicional, o fechamento da fronteiras aos estrangeiros ou mesmo pelo cenário econômico pré-pandemia.

Por outro lado, a derrota provável de Trump mostra um certo esgotamento da estratégia de comunicação política baseada na divulgação de fake news e na exploração da desinformação. O presidente norte-americano no período 2017-2020 colecionou desafetos, desafiou a ciência, fez declarações homofóbicas e xenófobas, pouco flertou com a verdade, desfilou mentiras nas mídias e nas redes sociais (em especial, no Twitter) e, de certa forma, apequenou a importância do cargo por ele ocupado. Em seu ato final, Trump contraria a lógica democrática, declara vitória, exige recontagem de votos e fala em fraudes eleitorais – sem comprovação – e apresentando números fictícios. Parcelas da população e dos meios de comunicação indicaram que perderam a paciência com os arroubos do presidente americano.

Talvez os ventos que bateram fortemente no território americano, com um enfrentamento à desinformação e à postura desrespeitosa e autocrática de seu presidente, possam ecoar em outras democracias da América Latina, nos próximos pleitos eleitorais.

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