Brasil exibe mais uma “fratura” nas relações entre as instituições. Haverá soluções a curto prazo? Rodolfo Marques 22.04.22 18h00 Na quinta-feira (21.04.2022), feriado nacional de Tiradentes, o presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), concedeu a “graça”, ou o perdão da pena ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado em decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira, dia 20, a oito anos e nove meses de prisão, em regime fechado, além da perda do mandato. O processo ainda não transitou em julgado. Na própria quinta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) fez uma solicitação junto ao STF para que a decisão sobre a eventual perda de mandato de Daniel Silveira coubesse ao Parlamento. O indulto individual concedido por Bolsonaro ao seu deputado aliado foi publicado em edição extra do Diário Oficial. Este novo episódio de conflito entre o chefe do poder executivo e a Corte máxima do Brasil traz novos contornos de uma já fissurada relação interinstitucional, no contexto do Estado Democrático de Direito. O impacto ainda se torna maior pelas próprias questões que envolveram o processo de Daniel Silveira, pelo fato de ele ser um membro do poder Legislativo e pelas falas dele, em fevereiro de 2021, e que geraram a ação do Ministério Público Federal. Desde a proclamação da República, em 1889, o Brasil busca ajustar o seu modelo democrático, mesmo que com vários percalços, como quando do Estado Novo de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, e quando do período autoritário militar, entre 1964 e 1985. De toda sorte, no modelo adotado no Brasil, há uma clara inspiração na perspectiva do Barão de Montesquieu (1689-1755). Na obra “O Espírito das Leis”, o escritor francês fez a proposição da premissa dos “três poderes”, com a divisão das responsabilidades entre os poderes executivo, legislativo e judiciário. Quando Montesquieu desenvolveu sua teoria, o mundo europeu vivia um histórico de concentração de poderes na figura de monarcas absolutistas. No executivo e no legislativo, no Brasil, por exemplo, há eleições periódicas e diretas para a escolha dos representantes. Na Carta Magna de 1988, as responsabilidades de cada poder estão definidas, assim como os limites, no contexto de equilíbrio para boa uma qualidade da democracia. Desde o início de seu mandato, em janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro vem aumentando a tensão junto aos poderes, mantendo os choques o Judiciário. Com o poder legislativo, a partir de 2020, com a composição do Planalto com o Centrão e, a partir da gestão de Arthur Lira como Presidente da Câmara dos Deputados, a partir de fevereiro de 2021, os conflitos foram, em grande parte, mitigados. Com o Judiciário, Bolsonaro já travou várias batalhas, em especial com os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. O ápice desses confrontos verbais ocorreu no feriado da independência, em setembro de 2021, gerando reações do presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça, ministro Luiz Fux. A situação de acirramento fica ainda mais evidente pelo cenário pré-eleitoral em que o Brasil vive. As eleições presidenciais 2022 mantêm um cenário de polarização e praticamente todos os atos do presidente Bolsonaro têm um vínculo direto ou indireto com o pleito. Ao conceder o indulto a seu aliado, evocando a questão da liberdade de expressão, o presidente mantém os seus apoiadores-eleitores engajados, principalmente nas plataformas digitais. Na questão específica de Daniel Silveira, a tendência é que, na “queda de braço” entre Bolsonaro e STF, a Corte deva prevalecer, em especial pela natureza do caso. Todavia, o chefe do executivo deve trabalhar com a narrativa de que “tentou defender as liberdades individuais, como a de expressão”, embora isso não seja exatamente a realidade dos fatos. Em um cenário de democracia fragilizada e com crises geradas a partir do chefe do poder executivo, gerando “fraturas” no desenho institucional, quem perde é o Brasil. Vale lembrar o que o então primeiro-ministro britânico Winston Churchill teria dito, em 1947, na Câmara dos Comuns, que “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras”. Ao mesmo tempo, vale a referência à obra “Como as democracias morrem” (Editora Zahar, 2018), de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, que evidencia como líderes autoritários podem erodir outras instituições de um país. Há outras demandas mais urgentes, como o enfrentamento da fome, a geração de empregos, a diminuição da inflação e a reestruturação da educação. E o Brasil precisa de equilíbrio institucional, a curto e a médio prazos, para poder retomar um caminho de crescimento e de inclusão social, com as responsabilidades divididas entre a instituições. Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave daniel silveira e jair bolsonaro COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Rodolfo Marques . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! ÚLTIMAS EM RODOLFO MARQUES Governo Lula precisa melhorar comunicação para seguir em frente 15.04.24 15h16 Rodolfo Marques 1964-2024: sessenta anos após golpe de Estado, Brasil avança para consolidar sua democracia 01.04.24 8h00 Rodolfo Marques Emmanuel Macron em Belém: relações políticas, acordos econômicos e simbolismos 29.03.24 20h30 Rodolfo Marques Novos movimentos e cartas sendo colocadas à mesa na disputa pela Prefeitura de Belém 11.03.24 14h09