O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

O exercício do poder e a brevidade da vida

Océlio de Morais

Muitos e muitos  – e quem de nós? – ainda não pronunciou a frase “a natureza é sábia!”, diante  da incrível vida humana e de todas as coisas que integram a natureza dentro da extraordinária ordem e harmonização funcional do universo.

A longevidade e a morte corporal são exemplos da sabedoria da natureza.  Veja-Se: quando a gente lê sobre a longevidade da vida humana  na antiguidade bíblica, até parece que a natureza humana  experimentou  um pouco da perpetuidade corpórea. A Bíblia Sagrada reporta que Noé viveu 950 anos; Adão, 930 anos; Sete, 912 anos; Jarede, 962 anos; Lameque, 777 anos e Enoque, 365 anos.  

Eclesiastes – escrito entre 450 e 180 a.C, pelo rei Salomão, conforme a tradição bíblica – perpetuou a razão divina e universal  quando, por exemplo, profetiza que “Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou”, (3:13).

Vem do estoicismo helenístico (século IV a.C. ao século III d.C.), embora sem uma autoria definida quanto a algum filósofo, a ideia de que “natureza é sábia”, atrelada à razão divina universal,  da qual, como primeiro princípio de compreensão e de aceitação dessa ordem, dependia a felicidade humana – primeiro princípio  divino e universal, o qual também permite compreender que a “Alma é o primeiro princípio ético motor da vida humana”, temática acerca da qual já dediquei os seguintes ensaios filosóficos:  “Sobre as virtudes que ensinam viver conforme a natureza”, “Sobre a Alma e o Espírito antes e depois da morte” e  “O tempo, a eternidade e o que isso tem a ver com a natureza humana?” 

Na sequência daquelas reflexões filosóficas,  dedica-se à sabedoria no exercício do poder na brevidade da vida.

Aquele tempo de vida – baseado em ciclos lunares, cada qual com cerca de 29 dias –  aos olhos de hoje,  verdadeiramente  causa incredulidade, tendo em conta a expectativa de vida média global que é de 73,4 anos, no século XXI, conforme dados da Organização Mundial da Saúde: 

Aqui cabe uma pergunta por mera hipótese: já imaginamos  nos dias atuais um novo Noé (com 950 anos) e  um novo Jarede vivendo 962 anos? Seria possível imaginar uma pessoa tão poderosa, mas tão absolutamente poderosa, que nunca adoecesse, envelhecesse e que nunca morresse?  

E se o novo “Adão” e o novo Jarede exercessem o poder na expectativa de  que tudo podem  e de que nada de mal lhe alcançariam, não seriam –   a possibilidade da longevidade e poder absoluto –  rigorosamente contra a “sabedoria” da natureza e não seriam fatores para perpetuar um temível e terrível perigo contra as outras vidas humana?

A brevidade da vida com todas as suas  vicissitudes  e o correspondente exercício do poder  – no seu tempo certo –  também são sinais concretos da sabedoria da natureza. 

Por certo que a história registra muitos casos de homens que assim  pensaram e que  viveram com as mãos despóticas e sanguinárias  sobre vidas inocentes.  Usaram  a força opressora do poder para alimentar o incontrolável ego da fama e do próprio poder.

No entanto, em vida, não foram amados,  mas temidos e  também odiados, contrariando o conselho  de Maquiavel em “O Príncipe”, de que é mais seguro (ao governante)  “ser temido do que amado”, porque “não pode ser amado e temido simultaneamente”.

 Ao final, morreram como todos os mortais  e entraram para a história déspotas e  assassinos.  

A verdade que todos sabemos, mas nem sempre a consideramos, é que a doença (que ninguém a quer) pode chegar em qualquer idade –  desde criança, na adolescência, na juventude, na maturidade e na velhice  – sempre  apresentando com a mensagem subliminar: todos somos frágeis e todos morremos, por isso, nenhum poder é perpétuo e, também por essa razão, todo poder deve ser exercido como forma de serviço à coletividade e não como forma de opressão. 

A exceção, sob o olhar da fé absoluta em Deus, seria a repetição do milagre de Enoque, o bem-aventurado que  que não morreu,  porque foi arrebatado vivo por Deus aos Céus.  “Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não experimentou a morte; "e já não foi encontrado, porque Deus o havia arrebatado", pois antes de ser arrebatado recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus”. (Hebreus 11:5).

Por isso, a finitude corpórea é um dom ou sabedoria da natureza das coisas. Há um tempo para nascer e um tempo para morrer.  É o princípio natural da vida.  O dia e a hora, não sabemos exatamente,  muito embora os avanços da medicina e das tecnológicas já possam programar o dia do nascimento, assim como podem dar expectativas de prolongamento da vida além de certo limite, de acordo com as condições de saúde da pessoa.  

Como já afirmei no ensaio filósofo rico “Sobre as virtudes que ensinam viver conforme a natureza”: todas coisas têm uma natureza comum: tudo tem um início e um fim, sendo que o tempo de cada coisa ou de cada ser é a totalidade de toda a existência. Mas, na totalidade da vida humana,  a natureza é mista: coexistem a razão e  a emoção, que às vezes estão harmônicas,  embora quase sempre entram em choque na hora das escolhas.  E as escolhas – acrescenta-se – são relativas à semeadura,  que é livre, mas a colheita é obrigatória. 

Assim, cotidianamente a sabedoria da natureza nos diz: todos somos frágeis (suscetíveis às doenças) e, ao final,  todos morremos, é a lição final da sabedoria da natureza. A coragem (na prática do que é correto) e a justiça  (disposição ética pelo bem), por isso,  são sementes indispensáveis para começar a experiência de viver a simplified,  conforme a sabedoria da natureza, isto é, a certeza segundo a qual a ordem universal das coisas existe para a felicidade humana, o que afasta – por  si – toda ação que contrarie esse princípio de sabedoria.  A humildade é um ato concreto de sabedoria.

 

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Océlio de Morais
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