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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

O choque das liberdades

Océlio de Morais

Como a liberdade de pensamento é sagrada, no sentido  filosófico de que é inata à condição humana,  tenho procurado entender, no silêncio da cidade – quando a noite avança e o brilho das estrelas fica mais lindo – as razões das beligerâncias humanas de toda natureza. 

Este breve ensaio filosófico tem por finalidade oferecer uma reflexão, também teológica, sobre o choque das liberdades. A  hipótese principal é a seguinte:  o conflito das liberdades é uma questão relativa à natureza anética (=aética) do poder e à consciência ética da alma livre.

Nessas reflexões, quase sempre a tendência é ficar adstrito às causas mais imediatas, aquelas que a materialidade humana busca incessantemente todos os dias. Isso não é ruim, porque é a  partir da materialidade humana – conforme a intensidade de cada um – que é possível identificar  como as beligerâncias humanas se formam e ganham proporções, às vezes, desmedidas e incontroláveis. 

Então pensei: as beligerâncias humanas imediatas  têm lá suas raízes nos choques das vivências das liberdades, precisamente quando um esquece a linha divisória de seus limites, invadindo e violando o campo da liberdade do outro. Podem observar com calma: isso ocorre no plano individual de vida humana.  Ocorre diariamente. 

E na natureza gregária do indivíduo – aquela que designa a nossa condição sociável –  reside a natureza política que pode ou não alimentar projetos de poder. Nessa condição, os choques das liberdades são bem mais evidentes, porque são macros, inerentes às questões estruturais da sociedade e do Estado. 

Os chiques das liberdades não são bons para ninguém individualmente, tampouco para a sociedade. Todos sabemos disso. Mas há uma questão que pode explicar bem melhor esses choques: a  sede de e pelo poder  de toda natureza, que leva o homem a perder o domínio de si mesmo, um problema inerente à alma aprisionada; portanto, um problema que revela o espírito beligerante de cada um.  Isso quem disse –  e com Ele concordo plenamente - foi Jesus Cristo.   

E Jesus disse para a multidão e aos discípulos,  todos fascinados com as suas mensagens proféticas: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. (Marcos. 8:36).

“Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?, a pergunta de Jesus desmontou os doutores da lei, o governador Pôncio Pilatos e líderes religiosos de sua época. Numa interpretação mais livre, penso que a pergunta pode ser traduzida assim:  nenhum poder  no mundo  – conquistado ou usurpado –  vale a pena se aquele poderoso conquistador ou usurpador  perder o domínio de sua alma.   A pessoa será realmente livre quando a sua alma não for dominada pelo cinzel do sistema, pois a  suposta liberdade que decorreria do poder nada mais é do que uma ilusão efêmera  do poder.

Jesus pronunciou a mensagem quando explicava sobre o sofrimento, a rejeição e a perseguição  que deveria passar até a crucificação na cruz como parte do projeto de sua experiência humana; mas  especialmente,  como confirmação de que a vida eterna (= a vida espiritual)  tinha um alto preço a ser pago: a transformação  radical de vida que deveria ser feita para ganhar o Reino dos Céus. 

Nas palavras de Jesus: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, disse o Mestre, acrescentando: “Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho a salvará” (Marcos 8: 34-35).

Então, procurei ver como aquela potente e devastadora mensagem de Jesus se aplicaria à contemporaneidade  – devastadora  no sentido do apego ao poder que embrutece (a perda do significado para si do que seja o espírito da  liberdade)  e  que pode levar à tiraria em face da coletividade, naquelas situações em que o temor paira no ar pelo medo das ações punitivas daquele que “tem  todo o poder do mundo”,  mas já perdeu o domínio de si mesmo.  

Qualquer que seja a aplicação contemporânea, a perspectiva é a verdade que liberta e que promove a leveza da alma,  aquela sensação de  espírito livre, alegre e feliz. 

Uma possível aplicação da mensagem de Jesus à contemporaneidade, penso que pode ser vista e explicada assim: a condição-chamado “Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”  foi colocado por Jesus como o desafio da renúncia ao poder que corrompe a natureza humana, e, em última perspectiva, corrompe  a alma.

“Negar a si mesmo”, teologicamente pode ser também pode ser dito assim:  negar aquela cegueira pelo poder que sempre quer mais poder, para que, então,  e  seja possível tomar a  própria cruz, isto é, reconstruir a essência ética-espiritual de vida, visto que a cruz simboliza a separação do poder material em relação à virtude da alma livre.

Pegar a cruz  significa seguir a Jesus por todo o sempre,  isto é, todos os dias e noites da vida, portanto, significa a renúncia àquele poder humano individual ou institucional  nocivo que  da alma retira a liberdade .

“Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. Verdadeiramente é a grande questão que leva à reflexão sobre o bom uso da  liberdade.  

É uma questão essencial da vida, especialmente quando se  considera que a natureza humana é como o dia e a noite que pavimentam a grande estrada da vida, com curvas sinuosas, linhas retas, íngremes ou lisas. 

A estrada aqui é, metaforicamente, o tempo da existência livre ou aprisionada.   Por isso, na estrada da liberdade, a natureza humana não pode ser prisioneira do poder, porque,  assim como a magnitude das estrelas tem um tempo certo para brilhar intensamente e para se apagar – a esse fenômeno os astrofísicos denominam  de “matéria degenerada” ou “gás degenerado” –  assim a natureza humana tem “o seu tempo nascer e o tempo de morrer”  (Eclesiastes 3:2). 

E quando a finitude da matéria chegar ao fim da estrada,  a liberdade será decodificada pelos que nela prosseguirem a jornada.  

 A  vida é uma estrada que vai registrando no coração da Terra os passos que podem nos levar ou não aos bons lugares, lá onde todos querem encontrar a liberdade e viver a sua plenitude com sabedoria. 

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma (Océlio de Jesus Carneiro Morais (CARNEIRO M.) 

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