O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Ética e Simplicidade

Océlio de Morais

Três coisas me chamaram a atenção no livro  “Minha vida e minhas experiências com a verdade”, a “autobiografia” de Mahatma Gandhi, edição brasileira da “Palas Athena (2021)”: a luta pelas liberdades civis dos indianos, então dominados pelo imperialismo colonizador britânico; a visão ética que tinha da advocacia, e   a simplicidade como conceito e modo  de vida. 

Muitas biografias sobre Gandhi destacam mais sua luta pelas liberdades civis dos indianos através da resistência civil pacífica.

Esta pensata não é sobre a vida de Gandhi  – o  pacifista do direito à resistência pela não violência e especialista em ética política, depois que se formou em Direito na  University College London – mas sobre a ética e  sobre a simplicidade, a partir dos seus conceitos.

A verdade é uma questão ética indissociável dos fatos e assim ele defendia as relações humanas.   Por outro modo:  A ética é a própria verdade com a qual as pessoas simples e ou líderes deveriam se portar diante fatos  cotidianos e da própria vida.  

A advocacia, nessa perspectiva,  era  por ele concebida como  instrumento de pacificação  dos conflitos entre pessoas ou entre Estados, sempre a partir da verdade  ética.  Isto é, a verdade sobre os fatos sempre deveria prevalecer, pois dessa verdade também dependia a verdadeira liberdade das pessoas e dos povos.

Dessa opção sincera (verdade ética)  decorria, então, a simplicidade no modo de vida, isto é, a ética colocada como virtude facilitadora à  simplicidade como modo concreto de vida.

Minha reflexão desafiadora é mostrar a ideia que  condensa num só conceito a ética como a própria verdade e  a ideia que entrelaça condição ética como facilitadora da simplicidade como virtude.

Sem desconhecer que as instituições  sociais, com seus conceitos éticos-morais, exercem influência sobre os indivíduos, no fundo e na origem estamos todos nós,  com  ou sem dilemas éticos sussurrando em nossos ouvidos cotidianamente. 

 Às  vezes, as instituições servem para o bem, quando respeitam os valores básicos de tudo o quanto valoriza a dignidade humana, colocando-a em primeiro lugar. Mas, também não se pode negar,  às vezes as instituições servem  para o mal, quando a ideologia manipula e domina as mentes das pessoas, tornando-as escravizadas sem que percebam. 

Os  dilemas éticos sussurrados em nossos ouvidos cotidianamente estão relacionados às escolhas éticas (honestas, portanto, verdadeiras) ou antiéticas (desonestas, portanto,  contaminadas pela corrupção da natureza das coisas). 

Está mais atrelada à conduta antiética o conceito do espelho refletido: o que se vê é a verdade real ou o reflexo da imagiem  invertida do espelho?  A imagem do espelho sempre altera o real. Aquela lâmina de vidro ou de cristal sempre distorce o real, por mais especial que seja o espelho.

No cotidiano – por mais paradoxal que seja –  nem sempre é possível viver a vida real. Isso decorre, em parte, do fato do medo ou receio que muitas pessoas têm de dizer a verdade quando a verdade simplesmente deve ser dita. 

O medo – aquele estado psicológico diante do perigo ou do risco, diante das possíveis consequências danosas à vida –  retira muito da essência da verdade nas relações humanas. Gandhi recomendava que cada qual, individualmente, fizesse “a sua parte”, que se doasse “sem medo”, porque considerava que “O que importa mesmo é o que você é.”

Aqui a verdade ética é aquilo que é; não o que deveria ser.  A verdade é o que a pessoa é, na essência da simplicidade, com ou sem dilemas éticos. A ética não é a imagem refletida no espelho, pois este sempre distorce a realidade.

Theodore Roosevelt — o 26º presidente norte americano  da “Era progressista", através do Square Deal, o pacote de políticas públicas sobre justiça equitativa para o cidadão comum –  na mesma linha disse certa vez: “Eu não me importo com o que os outros pensam sobre o que eu faço, mas eu me importo muito com o que eu penso sobre o que eu faço. Isso é caráter.”

O zelo pelo bom caráter – este designa a moral ou  honestidade ou a ética  – é colocado, neste particular, como uma espécie de freio preventivo aos deveres da conduta honesta. 

A partir dessa máxima (o que importa mesmo é o que cada um é), pode-se dizer que são irrelevantes as aparências, pois estas não refletem a simplicidade  de cada um.

A simplicidade, que pode ser  distinguida como a leveza espiritual de cada qual, pode alimentar a própria alma. Por isso, não comporta desvios ou a corrupção da natureza das coisas. 

Ora, a simplicidade como leveza espiritual assenta seus fundamentos na ética —  a virtude que se apresenta como uma montanha desafiadora que deve ser escalada incessantemente todos os dias até o topo, isto é, até a sua aceitação como força virtuosa indissociável da vida. 

Daquela concepção de Gandhi – a verdade é o que é – exsurge a verdade ética, a base da verdadeira simplicidade. 

A ética é uma montanha a ser conquistada, porque é desafiadora, eis que a simplicidade como leveza espiritual  também é  um  dom de vida naturalmente simples, cujos sinais estão espalhados nas veredas da vida. 

Enxerga e identifica rapidamente aquele que tem a mente e o coração devotados a descobrir a força da verdade ética. 

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Océlio de Morais
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