O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

As tecnologias e a liberdade

Océlio de Morais

Os reconhecer com toda honestidade: estamos vivendo tempos complexos - não apenas por causa da imprevisibilidade dos  riscos tecnológicos acerca dos quais o sociólogo alemão Ulrich Beck (professor da Universidade de Munique, já advertia na década de 1980, com a sua famosa Risk Society), nem somente pelos efeitos disruptivos das novas tecnologias digitais (de que trata Klaus  Schwab na sua Quarta Revolução industrial) - mas também porque vivemos tempos esquisitos: a Era das falsas necessidades e  dos absolutismos, que interferem diretamente nas liberdades humanas. 

São tempos marcados pela dualidade liberdade ou prisão tecnológica. 

Vou exemplificar com duas visões distintas, mas respeitosas. Um pouco de  Steve Jobs, falecido em 2011 aos 56 anos,  atual  Alma Mater da Homestead High School (Cupertino, Califórnia, EUA)-  e seu mundo mágico  Apple, o gênio que disse que “A tecnologia move o mundo''. E com Erling Kagge, o dinamarquês autor do best-seller “O Silêncio, na Era do Ruído", que chama a atenção ao  perigo da  renúncia da  liberdade em nome da tecnologia.

O filme "Steve Jobs" (lançado em 2015, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Roteiro) é  uma pequena parte  da  história daquele que é  considerado pelos azes da tecnologia como “o homem da máquina”, título que é, inclusive,  do documentário “Steve Jobs: The Man in the Machine, de Alex Gibney.  Outro filme, "Pirates of Silicon Valley", relata as rivalidades (e amizade) com Bill Gates, outro gênio da informática mundial.

O filme o apresenta como o obstinado revolucionário da geração Macintosh, ipod, iTunes  Ipad, iPhone, do império Apple Inc,  sem esconder que foi demitido da presidência da empresa que fundou devido às acirradas disputas internas da diretoria pelo poder.

O filme mostra as mais importantes obstinações de Jobs,   interpretado  pelo ator alemão Michael Fassbender: as gerações de computadores e iPhone como símbolos da liberdade humana, à medida que possam integrar culturas diferentes como riquezas universal, além possibilitar as comunicações simultâneas através de eficientes aplicativos que vão modificando as preferências das pessoas e, às mesmas, vão sugerindo novos modos de vida.

Escritor, Erling Kagge resolveu criar uma editora porque, conforme disse, percebeu o desinteresse da indústria cultural por obras que não se encaixavam nos paredões comerciais. Com sua editora, seu objetivo era dar oportunidades às boas obras, ainda que, aparentemente, sem apelos comerciais. 

O escritor  dinamarquês, sem se manifestar contrário às facilidades tecnológicas, chama a atenção para a relação entre a  "verdadeira liberdade e não à tecnologia".  Kagge adverte que a tecnologia transforma as pessoas sem que elas percebam: “É fácil pensar que o mais importante, a essência da tecnologia, é justamente o aspecto tecnológico, mas essa é uma concepção equivocada. A questão  é saber como somos transformados pelas tecnologias que usamos (...)’.

Ninguém em sã consciência pode dizer que o maravilhoso mundo  tecnológico de Jobs seja  prescindível à sociedade mundial;  mas,  também,  qualquer pessoa minimamente bem informada não pode deixar de reconhecer que as  novas  tecnologias, a pretexto das facilidades com que coloca o mundo nas palmas das nossas mãos, acabam criando necessidades cotidianas como valores indispensáveis à vida. E é aí que reside o perigo.. É aí que o risco é potencial, imprevisível e quase sempre  incontrolável.  

Jobs via na tecnologia o futuro da humanidade:  “Vamos inventar o amanhã e parar de nos preocupar com o passado”, dizia ele, não como frase de marketing, mas como crença de que as tecnologias poderiam revolucionar os costumes, porque “a tecnologia move o mundo”.

É indiscutível: a tecnologia molda os desejos e sonhos das pessoas nos quatro cantos do Planeta.  Mas ela é como uma moeda financeira, com cara e coroa, aqueles dois lados que integram aquele símbolo econômico. As novas tecnologias  nos dão inúmeras vantagens, mas também inúmeras desvantagens. Oferecem liberdade, mas, no fundo, aprisionam as pessoas.

Esse é o sentir de Erling Kagge: “A questão é saber como somos transformados pelas tecnologias que usamos (...) qual a nossa relação com a liberdade que abrimos mão em nome da tecnologia.

Ao que Kagee constata, de meu lado é o que tendo pensoado: a maravilhosa tecnologia que nos enche os olhos,emociona nossos corações e estimula nossos imaginário ao inalcançável, é a mesma tecnologia que funciona como um chefe carcereiro: depois que ela domina nossos desejos, criando a ilusão da necessidade, acabamos perdendo a nossa liberdade. O carcereiro tem as chaves da prisão. A tecnologia tem as chaves dos  nossos sonhos libertários. 

A coisa funciona mais ou menos assim: as novas tecnologias, criando as “necessidades”, ditam comportamentos, modificam culturas e criam padrões de libertários, impondo-os com mensagens subliminares que nem sempre a mente das pessoas alcança. Mas pensam que alcança porque aquela "necessidade consumista” já está incorporada no cotidiano das pessoas. E tudo parece normal!

Observemos bem, como por exemplo, como os computadores, aparelhos celulares, aplicativos , aparelhos de televisões etc se tornam obsoletos de um ano para o outro. E disso decorre a “necessidade” da troca, sob pena da exclusão do “novo” que é vendido.

Observemos como os livros didáticos são descartáveis a cada semestre letivo.  A indústria cultural cria a indústria do consumo para que as coisas sejam aposentadas e adquiridas como necessárias e indispensáveis à vida. Mas seriam as mesmas necessárias e indispensáveis?

Observemos a indústria cultural, que por critérios quase sempre desconhecidos e omitidos da sociedade, diz o que deve ser publicado e o que não deve; portanto, ideologicamente escravizando o que deve ser ódio. 

Observemos o controle ideológico imposto pelas  políticas de uso e de privacidade dos aplicativos de comunicações instantâneas das redes sociais: pessoas são massacradas nas redes sociais quando não expressam visões politicamente corretas e, por isso, podem até ser canceladas.

Tudo isso está relacionado à tecnologia que cria a sociedade de risco e, nesse sentido, o risco é  caracterizado pela progressiva perda da liberdade verdadeira em nome da tecnologia.  Como disse Kagge no seu best-seller:  “(...) deixamos de ser pessoas livres para nos transformar em recursos”. 

Jobs demonstrava um senso de responsabilidade, porque, apesar das vantagens, sabia dos riscos tecnológicos das suas invenções que estava oferecendo  como maravilhas ao mundo. Por isso, restringia o amplo acesso de seus próprios filhos   aos produtos da Apple, conforme relato do escritor e do escritor dinamarques. 

Verdadeiramente Jobs sabia do perigo que a tecnologia representa.  Ele foi sincero ao dizer que   “As pessoas não sabem o que querem, até mostrarmos a elas” e que “As pessoas ligam a televisão quando querem desligar o cérebro. Basicamente você assiste TV pra desligar seu cérebro, e usa o computador quando você o quer de volta!”

Jobs tinha razão. É preciso proteger as pessoas  especialmente as crianças dos riscos tecnológicos. Kagge tem razão:  a questão é saber como somos transformados pelas tecnologias. 

E, se posso complementar, eu diria: as tecnologias devem servir as pessoas e não torná-las reféns das coisas que não precisamos para viver bem e se relacionar em sociedade. A liberdade tecnológica é um direito que a pessoa tem de não ser tomada como objeto do consumo.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Océlio de Morais
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM OCÉLIO DE MORAIS