O "x" da questão, ou "comer pelas beiradas"

Steve Jobs, o mago da tecnologia da informação, legou conceituações, extraídas da curta vida criativa, capazes de nortear iniciativas bem sucedidas, como as que protagonizava. Criticava quantos buscavam resultados e solucionar problemas, mirando o centro das questões. Defendia concentrar as ações na periferia, onde, segundo Jobs, costuma residir o "X" das questões. Essa forma de observar os acontecimentos, sejam nas atividades políticas ou nas funções profissionais, costuma ser fundamental nos destinos de vidas e na condução de atividades. 

Há, no entanto, defensores de que "a virtude está no meio", pelo equilíbrio entre opostos, embora arriscando confundir as expressões com mediocridade ou virtuosismo, ao mediar entre "meio quente, meio frio" e incorrer na observação do presidente norte-americano Theodore Roosevelt que “É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória, nem derrota.”

Também comungavam as teorias sobre "o meio" outros personagens do pensamento, entre as quais Aristóteles, para quem o "meio-termo" significava que todas as virtudes decorriam de um equilíbrio entre os vícios do excesso e os vícios dos defeitos, sublinhando que "O homem que tudo teme é um covarde, mas o homem que nada teme é precipitado". Baseou sua psicologia da alma e suas virtudes na média áurea entre os extremos, embasando a sua contestação na rejeição do dualismo, entre um mundo sensível e, outro, o inteligível, representado pelas teorias das idéias.  

Mas Jobs não foi o primeiro apologista da solução pelas bordas, apenas verberando o que a cultura popular há muito cunhara, na expressão "comer pelas beiradas", resumindo a arte de fazer, sem ninguém perceber, surpreendendo com resultados, sem chance de reversão. Muito antes de todos quantos têm pautado comportamentos e decisões pela estratégia e articulação, são incontáveis os exemplos de habilidades nessa forma de agir e pensar, que rendem adjetivações, como "articulador", predicados em que o saudoso Tancredo Neves é considerado exemplar.

Quase três mil anos atrás, o general chinês Sun Tzu já desenvolvia no clássico “A Arte da Guerra” a mesma concepção política e militar, vencendo adversários sem disparar as armas. Com estratégias assim, a China já controla os Estados Unidos, com trilhões de dólares, com os quais insinua ser capaz de destruir a moeda norte-americana. Ao mesmo tempo, adquire empresas e terras em países, onde já falam mandarim, enquanto destrói parques industriais, com produtos baratos, e prepara a imposição de preços devastadores de economias pelo monopólio de milhares de artigos. 

Tantas lições de vida e exemplos, milenares e contemporâneos, de relacionamento e como resolver questões, convidam a refletir sobre as formas como são conduzidas as situações nacionais, tentando superar as consequencias enquanto não se atacam as causas. Precioso tempo é desperdiçado em divergências ideológicas e conflitos pessoais,  resultando nas sucessivas crises, requentadas e amplificadas, envolvendo autoridades de todos os níveis e estimulados por segmentos da mídia, num perde-e- ganha fácil de saber por quem, principalmente em prejuízo dos brasileiros.