LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

A vida como ela é

Linomar Bahia

Todos queríamos que a vida fosse como gostaríamos que seja, mas a natureza das coisas e as grandezas e pequenezes humanas sempre conspiraram contra nossas aspirações, independentemente das riquezas e pobrezas a que estamos expostos. Mesmo no que depende de nós, costumam haver obstáculos e desafios a superar, agravados quando dependentes de terceiros, particularmente daqueles aos quais delegamos a representação, não obstante disponibilizadas ao uso e abuso pelos delegados até em situações que envolvem repercussões mais sensíveis.

O pernambucano Nelson Rodrigues, que viveu entre os anos de 1912 e 1980, foi o que hoje seria chamado de “um multimídia”. Foi, ao mesmo tempo, jornalista, escritor, romancista, teatrólogo, cronista do futebol brasileiro, particularidade em que se notabilizou como torcedor fanático do Fluminense que classificou como o “único tricolor” e os demais meros “clubes e três cores”. Seus textos, geralmente satíricos, retratavam “A vida como ela é”, através dos costumes e personagens de então, mas que apenas se renovam nos atos e práticas de cada época.

Em nossa época, a exemplo de todas as épocas da existência humana, a vida continua seguindo ao ritmo dos interesses e das conveniências ditadas pelos momentos, que o filósofo espanhol José Ortega y Gasset sintetizou na frase “Eu sou eu e a minha circunstância” como significado de que o indivíduo não pode ser separado do seu contexto pessoal e comunitário. Conceituação que os cultores da filosofia de cada tempo envolvem as diversas situações em que somos levados a exercer práticas ou aceitar   situações e seus atores em ações a que somos levados.

Agora mesmo, temos sido condicionados a conviver com eventos e decisões nas quais somos, ao mesmo tempo, autores e vítimas, materializando que a vida é, efetivamente, como Nelson Rodrigues alertava ser, longe de poder ser como certamente se desejaria que ela pudesse ser. Quem de cada um de nós, por exemplo, estaria satisfeito com os procedimentos dos que elegemos para nos representarem nas diferentes fontes de poder? A quem interessa mudar o nome de uma rua, imunidade processual, abrandar a lei da “ficha limpa” e outras advocacias em causa própria?

Já houve quem dissesse que em Brasília, onde o bom e o ruim acontecem, todos são culpados e cúmplices ao mesmo tempo, classificação que atribui a Oscar Niemeyer, autor do projeto arquitetônico de Brasília, a frase de que a capital capital deveria ter a forma de um camburão e não de um avião que tem. Nossa culpa e cumplicidade derivam do  parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal, inscrevendo que “todo o Poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ...”. Somos, assim, co-responsáveis pelo que fazem os representantes que elegemos.

Linomar Bahia é jornalista e escritor, membro da Academia Paraense de Letras e da Academia Paraense de Jornalismo.

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