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Galanteios, nunca mais?

Linomar Bahia

Situações e hábitos inseridos no cotidiano das pessoas e nas instituições nos últimos tempos têm feito com que tudo pareça caminhar ao contrário, especialmente naqueles momentos e ações que influem no comportamento humano e nas posturas estatuídas. Há uma torrente de atos e práticas controversos e questionáveis na atuação de poderes constitucionais e de seus membros, flexibilizando os conceitos da democracia clássica, afetando a convivência social nas condutas e nos condicionamentos legais, numa troca de sinais, em que o certo e natural passa a ser considerado errado, sem que a recíproca seja verdadeira.

Houve, por exemplo, tempo em que as mulheres gostavam de ser cortejadas, com galanteios sobre a elegância do andar, o bom gosto no trajar ou desfrutando de alguma prioridade, entre outras formas que elevavam a autoestima e exaltavam os encantos femininos. Ultimamente, todavia, qualquer palavra ou gesto nesses ou outros sentidos passou a ser de alto risco, passíveis de gerarem boletins de ocorrências policiais, processos judiciais e, até, cadeia, arrolados num indefinido e caudaloso mar de incidências, resumidas na subjetividade que passou a ser cognominada genericamente de “assédio”.

Todo cuidado será pouco em circunstâncias que envolvem a qualidade das relações humanas nas sociedades civilizadas, à revelia do verbete “cortejar”, descrito pelos dicionaristas como verbo transitivo direto, tendo como sinônimos “galantear”, “namorar” e, para os “puxa-sacos”, “bajular” e “adular”. Provém do “corteggiare”, com que os italianos designavam “cuidar de alguém de maneira delicada; tratar uma pessoa com cortesia, educação e gentileza, oferecer a corte à mulher e trocar cumprimentos cordiais”. Voltamos aos rudimentos? galanteios nunca mais? Femininas de raiz estão reagindo.

Vivemos dias em que noticiários priorizam tragédias e desmandos em consequência dos ânimos, cada vez mais exaltados, em todos os locais e atividades públicas e privados. Manifestações de estresses se sucedem nos ambientes familiares, em locais de trabalho e em espaços sociais, onde simples divergências de qualquer natureza passaram a constituir estopim para violências e desfechos imprevisíveis. Há situações que, em condições normais de temperatura e pressão, deveriam ser celebradas por todos, ganham dimensões inconcebíveis, como agora, nas reações adversas sobre redução nos combustíveis.

São questões que, como na subjetividade do “assédio”, a razão é superada pelas emoções políticas e ideológicas, na celebração e na condenação, dependendo de que lado está o interesse refletindo as animosidades destes tempos. Embora pareça difícil desarmar e reconciliar grupos tão beligerantes, sempre fará sentido o apelo a uma racionalidade, num freio de arrumação pelo bem de todos e felicidade geral da nação. A exemplo do que ocorreu na guerra do Vietnam, nos anos 1955 a 1975, seria o caso de restaurar o apelo “Faça amor, não faça a guerra”, que sensibilizou o mundo e influiu no fim do conflito.

Linomar Bahia