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JULIANA DINIZ

julianacdcampos@gmail.com

Análises e opinião sobre política, filosofia e atualidades pelo olhar da doutora em Direito e professora da Universidade Federal do Ceará, Juliana Diniz.

A resiliência do Ceará e o fracasso do Brasil

Juliana Diniz

O Brasil é certamente o país com o pior desempenho do mundo no combate à pandemia da covid-19. Estamos no segundo lugar do ranking em número de mortes (mais de 365 mil vidas perdidas até o momento) e figuramos entre os três primeiros países no que se refere ao número de óbitos por milhões de habitantes. Falhamos em tudo: organizar o isolamento social, preservar a economia e os empregos, adquirir vacinas, estabelecer protocolos médicos confiáveis, planejar a logística dos insumos. Somos não só um exemplo do que não fazer, como uma evidência de que tudo que está ruim ainda pode piorar.

Quando se trata de uma catástrofe desta dimensão, é digno que comecemos, antes mesmo de chegar ao fim da crise, a pensar em responsabilidades. De quem é a culpa desse fracasso e o que pode ser feito para corrigi-lo? Embora me sinta bastante cética em relação ao potencial resolutivo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, não resta dúvida de que a instalação da CPI da Pandemia é um passo importante para despertar o país do estado de passividade em que se encontra e estimular a sociedade a exigir as cobranças que precisam ser feitas.

A tarefa que o Poder Legislativo está para executar preocupa o governo porque há fartas evidências tanto da omissão quanto da ação criminosa do Executivo. Enquanto a maioria dos estados e municípios se desdobrou para conter o avanço do vírus, a União colaborou para sabotar o trabalho dos gestores locais, muitas vezes insuflando o conflito federativo e atordoando a população com orientações contraditórias. Basta lembrar a batalha entre os governadores e o presidente em torno dos decretos de isolamento e as queixas generalizadas da falta de uma campanha nacional consistente voltada a estimular o uso de máscara.

Os gestores locais estão há mais de um ano trabalhando para fazer uma tarefa praticamente impossível: controlar, em um país de proporções continentais, uma pandemia provocada por um vírus altamente transmissível, sem a coordenação eficiente de um poder central. Por todo esse esforço, é preciso reconhecer o trabalho de quem tem tentado nos manter vivos: o Ceará é um bom exemplo disso.

Durante a semana, foi publicado estudo internacional na revista Science que aponta o estado do Nordeste como um exemplo de resiliência no enfrentamento da pandemia. Segundo o artigo, o Ceará vivenciou um quase colapso de seu sistema hospitalar entre fim de abril e meio de maio de 2020 e teve circulação silenciosa do vírus mais de um mês antes do registro oficial do primeiro caso. Apesar de todos esses pontos e de ter estado no 6º lugar no movimento de casos, foi o antepenúltimo em mortes. “Isso sugere que mesmo com a propagação continuada do vírus, ações locais tiveram sucesso em prevenir fatalidades”.

Os resultados que o governador Camilo Santana e sua equipe de secretários alcançaram são uma boa evidência do que o país poderia realizar se contasse com o mesmo zelo e diligência no âmbito federal. Por mais que o mundo inteiro duvide disso agora, o Brasil é um país extremamente capaz, rico e tão resiliente quanto o Ceará. Ele só precisa de um governo que esteja à altura de suas possibilidades.

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Juliana Diniz
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