'Carnaval devoto' no Círio de Nazaré: saiba o que significa e a relação com a religião
A denominação já foi citada pelos autores Dalcídio Jurandir e Isidoro Alves

Ao longo do mês de outubro, diversas denominações como “Nazinha”, “Nazica” e “Mãezinha” são frequentemente atribuídas à Nossa Senhora durante o Círio de Nazaré, em Belém do Pará. E com o próprio período nazareno não é diferente, a nomeação “Natal dos Paraenses” ainda é muito citada como um sinônimo ao evento que é considerado a maior festa religiosa do Brasil. Mas você já ouviu falar que o Círio também já foi chamado por alguns estudiosos de “carnaval devoto”?
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O que significa o termo “carnaval devoto”?
O termo “carnaval devoto” foi citado pelo romancista amazônida Dalcídio Jurandir, em sua obra “Belém do Grão-Pará”, para evidenciar a carnavalização encontrada nos círios. Ao apresentar esse conceito, o autor se refere aos festejos que ainda são mencionados em debates que envolvem a questão sobre “até onde o Círio de Nazaré deixou de ser uma festa apenas religiosa para se tornar também cultural”.
No livro, alguns elementos tradicionais do período nazareno também chegam a ser citados, como, por exemplo, o momento em que o personagem principal da história, seu Virgílio, compara a berlinda, que é um “carro sagrado”, com o “carro de terça-feira gorda”, presente na cultura carnavalesca. Além disso, ele também alega que outros traços do carnaval estão presentes em outros momentos do evento.
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Carnavalização e religiosidade
Para o pesquisador Isidoro Alves, em seu estudo intitulado “A festiva devoção no Círio de Nossa Senhora de Nazaré”, a expressão “carnaval devoto” é vista por meio de duas vertentes: pela carnavalização e pela religiosidade. Logo, são observadas as ações informais que não podem ser caracterizadas como uma inversão total (carnaval) e os atos de devoção, retratados pelos comportamentos formais e com regras de acesso ao sagrado bem definidas, como ocorre nas romarias (religião).
Somada a essas informações, o autor ainda escreveu que o Círio de Nazaré é uma combinação de diversos movimentos, que vão desde o sacrifício de um romeiro que se ajoelha para pagar sua promessa até o despojamento de alguém ao vestir uma camisa de futebol em uma procissão. Ao longo do período nazareno, a popular Festa da Chiquita, que marca uma celebração cultural e LGBTQIAPN+ que ocorre após a procissão de trasladação do Círio de Nazaré, também pode ser classificada nessas comparações realizadas pelos autores, porque indicam a presença de carnavalização e religiosidade no evento.
(Victoria Rodrigues, estagiária de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web em Oliberal.com)
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